A igreja Filadelfia, em Estocolmo, na Suécia, costuma projetar o número de sua conta em um telão durante os encontros da comunidade. A maioria dos fiéis usa um aplicativo de smartphone chamado Swish para transferir as contribuições monetárias. Rápido e sem passar a caixinha. Pouquíssimos frequentadores têm moedinhas de coroa sueca na carteira, como mostrou reportagem recente do jornal The New York Times. Se a “geração startup” criou os serviços de streaming quando baixar música virou tarefa chata, porque não iria usar a tecnologia para acabar com algo mais enfadonho: sacar dinheiro no caixa ou pegar fila para passar o cartão?
E essa é só a ponta do iceberg. Suécia e Dinamarca avançam a ponto de discutir o fim do dinheiro de papel. Por lá, pagamentos só na base da tecnologia. Na China, um aplicativo de bate-papo chamado WeChat, parecido com o WhatsApp, é usado para pagar contas, compras ou transferir dinheiro. Outros serviços financeiros básicos (crédito, seguros, recebimentos) também já são feitos de maneira exclusivamente digital e menos burocrática. E amanhã serão quase instintivos.
Quem está à frente desta revolução são as fintechs, um termo que define startups de tecnologia financeira. No Brasil há cerca de 140, segundo a FintechLab, um hub de inovação mantido pela Clay Innovation e que monitora o desenvolvimento deste segmento. Delas, 69% já têm usuários pagantes e algumas têm faturamento anual milionário. Todas são acompanhadas com interesse especial pelos bancos tradicionais. Basicamente, essas empresas oferecem soluções bancárias digitais, com armazenamento em nuvem, e sem que o usuário precise pisar na agência. Dá para ter toda a vida financeira desse jeito, incluindo a própria conta corrente – no Brasil, o Banco Original oferece conta totalmente online, com gestão via aplicativo.
E é na vida financeira na nuvem é que está baseado o “banco do futuro”. Com estas tecnologias mais comuns, os rastros dos usuários ficam mais expostos às análises minuciosas dos algoritmos por trás de cada um destes serviços. “As instituições financeiras podem se valer dos dados aos quais já têm acesso e também cruzá-los com outras fontes ricas em trazer informações sobre o comportamento ou vida das pessoas, como registros ou padrões de uso de telefonia celular ou conteúdo de redes sociais online. Aplicações práticas podem ir da detecção de fraudes por transações a busca de novos clientes ou complemento de avaliação de crédito com base em dados dessas outras fontes de informação”, explica Artur Ziviani, membro sênior do Instituto de Engenheiros Elétricos e Eletrônicos (IEEE).
De uma forma mais prosaica, a tecnologia irá, por exemplo, reduzir as filas nas praças de alimentação. “Você poderá antecipar seu pedido, quando chegar lá, vão te chamar pelo nome e apenas entregar a refeição”, exemplifica Fábio Gonsalez, sócio da FintechLab. Se o comerciante quiser, poderá enviar-lhe um desconto via smartphone ao detectar, via geolocalização, que você está na região.
Isso sem falar em serviços de seguros, que terão acesso ao seu estilo de vida por meios muito mais quentes do que um formulário e alguma papelada. Com carros inteligentes, que avaliam a forma de condução, a imprudência do motorista pode render algumas centenas de reais a mais na apólice de seguro.
Poderá ser mais fácil gastar, mas plataformas serão capazes de melhorar sua gestão financeira. Algumas, literalmente colocando freios na sua compulsão consumista (veja outras tendências no infográfico).
Mas, um futuro de ultraexposição de dados depende, sobretudo, de como as questões éticas, de segurança e regulamentação serão conduzidas. “Há a barreira que permeia o legal e o possível. A linha é tênue. Embora acredite que a tecnologia vá empurrar a regulamentação, esse é um caminho que tende a ser um pouco moroso”, aposta Leandro Antunes, diretor de delivery da consultoria de negócios e tecnologia GFT Brasil.
demanda
33% dos millennials, geração que compreende os nascidos nos anos 1980 e 1990, acreditam que não precisarão de bancos tradicionais em 5 anos, segundo estudo do grupo financeiro Goldman Sachs. Metade quer serviços bancários prestados por startups.
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