A obrigatoriedade de recolhimento do Fundo de Garantia - um direito dos funcionários de empresas a que as empregadas domésticas ainda não têm acesso - depende agora apenas da sanção do presidente Lula, mas ainda divide opiniões. Se a lei passar sem vetos, o que é pouco provável, os patrões terão um gasto de mais 8%. E as empregadas poderão receber seguro-desemprego caso sejam demitidas, da mesma maneira que os outros trabalhadores. Quem é contra diz que a mudança traria novos custos para os patrões e pode provocar desemprego ou acentuar a informalidade, mesmo com o benefício de deduzir do Imposto de Renda parte do valor pago ao INSS. Nas ruas e residências, essa é uma das leis mais polêmicas deste ano eleitoral. Leia abaixo um pouco do que pensa quem é contra e quem é a favor da lei.
A favor"Sempre tem procura"
"Concordo com a lei porque há muito tempo as domésticas precisam ser mais valorizadas. E não acho que isso vai trazer desemprego, porque sempre tem muitas famílias procurando empregada. Quem tiver mais de uma talvez demita, mas acho que isso vai ser compensado pelo estímulo que os patrões vão ter com o desconto do INSS no Imposto de Renda. A nossa situação é difícil, tenho amigas que saem do emprego sem nada. Antes dessa lei eu ficava indignada porque meu marido trabalha em uma fábrica e tem mais direitos do que eu. Mas eu também trabalho, tenho responsabilidades e ainda faço jornada dupla na minha casa. Optei por ser doméstica para passar mais tempo junto com os meus quatro filhos. Antes eu era vendedora."Elisabete Levinski, doméstica.
A favor"Ela é da família"
"Vou seguir a lei porque não tem como não fazer isso. A minha empregada está conosco há quase dois anos, é da família já. Nem consigo cobrar dela a parcela do empregado no recolhimento ao INSS, pois para ela faz falta. Apesar do arrocho da renda, que é pior para a classe média, eu e meu marido sobrevivemos com tranqüilidade. Não posso dizer que vai me fazer falta um adicional de 8% do salário dela. Mas e para ela? O que ela faz com esse dinheiro? Sobrevive, apenas. Coitada, ela merece. E o que teria acontecido se a lei viesse antes? Ela poderia ter dado entrada nu-ma casinha...quantas domésticas são mães de família e sustentam a casa? Além disso, eu me encanto com a Balbina, porque ela tem uma ingenuidade fora do comum, uma grande pureza."Cleide Pedron, empresária.
Contra"É só para ganhar votos"
"Não concordo com uma lei como essa neste momento. É com certeza algo que deveria existir há muito tempo, mas não deveria vir num ano eleitoral, só para ganhar votos. É a mesma coisa com o reajuste dos aposentados. Por que justo conceder agora? Não suporto isso. Ser populista hoje é breguice. Eu votei no Lula na última eleição, mas hoje ele é outro. Ninguém está pensando nas empregadas, pois esse problema da informalidade existe há muito tempo. E tem até empregadas que são contra também. A da minha casa não quer ser registrada porque assim consegue ganhar um pouco mais. As pessoas não têm conhecimento, informação... elas não pensam no futuro."Isabel Machado, professora.