Numa retaliação ao procurador-geral da República, Roberto Gurgel, o Senado rejeitou nesta quarta-feira (3) a indicação do procurador Vladimir Barros Aras para o Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP). Barros recebeu 38 votos favoráveis e 17 contrários à sua indicação, mas precisava de pelo menos 41 votos dos senadores para ser eleito para o conselho.

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Apesar de Barros ter sido escolhido por quase 500 procuradores da República numa lista tríplice para concorrer ao cargo, os senadores rejeitaram a sua indicação para dar um recado público para Gurgel.

Nos bastidores, congressistas do PMDB, PT e o senador Fernando Collor de Mello (PTB-AL) articularam a derrubada argumentando que Barros é ligado a procurador-geral.O ex-presidente da República tem Gurgel como seu desafeto público desde a CPI do Cachoeira, quando começou a criticar a atuação do procurador. Desde então, ocupa a tribuna do Senado para atacar a Procuradoria-Geral da República e defende o afastamento de Gurgel.

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Parte dos petistas quer retaliar o procurador pelas acusações do mensalão contra membros da sigla, enquanto os peemedebistas criticam o fato de ele ter oferecido denúncia contra o senador Renan Calheiros (PMDB-AL) ao STF (Supremo Tribunal Federal) às vésperas da eleição que o escolheu como presidente do Senado.Collor chegou a sentar na tribuna do Senado ao lado de Renan enquanto o Senado votava a indicação do procurador.

Irritados com a manobra, senadores simpáticos à indicação de Vladmir Aras criticaram as articulações que levaram à derrubada do seu nome."Isso é uma piração, um absurdo. Uma corporação inteira elege o cara e, com boataria e vingança, o sujeito paga o pato? Quem tem suas brigas com o Gurgel que o encare diferente. Isso é covardia", protestou o senador Walter Pinheiro (PT-BA).

Ex-procurador da República, o senador Pedro Taques (PDT-MT) disse que os senadores rejeitaram a indicação porque avaliam que Vladimir Aras é aliado de Gurgel. "Ele é a maior autoridade do Brasil em investigação", criticou Taques.

Recurso

Senadores favoráveis à indicação de Aras tentaram reverter a votação no plenário, mas o pedido foi negado por Renan. Eles argumentaram que os senadores Aécio Neves (PSDB-MG), Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP) e Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) votaram a favor da indicação depois que o placar final já tinha sido anunciado --o que viabilizaria a aprovação de seu nome com 41 votos. "Eu gostaria muito que houvesse essa reconsideração. Mas lamento que, depois de apurados os votos, eles não podem ser reconsiderados", afirmou Renan.

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Um grupo de senadores liderados por Taques, Walter Pinheiro e Wellington Dias (PT-PI) apresentou recurso à Comissão de Constituição e Justiça para tentar reverter a derrubada da indicação.Os senadores ainda argumentaram que, no passado, o Senado já reverteu votações similares, mas Renan mostrou um ato da Mesa Diretora que desautoriza a manobra. "Podemos revogar esse ato", disse Pinheiro, mas Renan negou novamente o pedido.

Entidades de procuradores protestaram contra a decisão do Senado porque consideram que Vladimir Aras tem uma carreira sólida no Ministério Público, sem ser afilhado de Gurgel ou outras autoridades. "O Renan acatou o nosso recurso e mandou para a Comissão de Constituição e Justiça. Ao nosso ver, uma prova eloquente de que tem chance de reversão. Confiamos na boa fé e na sensatez do Senado", disse Alexandre Camanho, presidente da Associação Nacional dos Procuradores da República.

Vladimir Aras concorreu com outros dois procuradores da República para a vaga no Conselho Nacional do Ministério Público. Os três figuraram em lista tríplice, mas a Aras recebeu 499 votos de quase 700 procuradores da República que participaram da sua escolha.Antes do plenário, o nome do procurador também foi aprovado pela Comissão de Constituição e Justiça do Senado em maio deste ano, onde recebeu 16 votos favoráveis e apenas dois contrários.