O que é preciso levar em consideração na leitura da pesquisa da FGV? Primeiro, que sempre vai haver desvios e peculiaridades dentro de cursos superiores, e especificidades regionais. Em segundo lugar é que a pesquisa não leva em conta, e nem seria esta a sua função, dados como o tempo de formação, e os tipos de remuneração das atividades. Os dados podem dar uma idéia que não é verdadeira.
Mas por quê fica tão claro na pesquisa que quem estudou menos ganha menos e quem estudou mais ganha mais?Nós temos uma idéia sólida de que a educação é determinante no sucesso profissional. Mas outros fatores têm de ser considerados. Por exemplo, o médico que ganha muito no Paraná, ganha pois há demanda e a oferta de profissionais é pequena. Se houver uma formação de médicos maior que o normal os salários serão menores. Por isso, quando se pensa no retorno que a educação confere ao profissional, quando ele chega ao mercado de trabalho, é preciso fazer uma análise mais abrangente, uma análise de estrutura da atividade econômica.
O sr. pode dar um exemplo? Um exemplo da influência da conjuntura econômica: se um engenheiro se forma em um período de recessão no país ele vai ter grande dificuldade de encontrar emprego e os salários serão menores. Se for num período de crescimento, a realidade vai ser outra. Isso quer dizer que a qualificação da atividade por si só não permite a empregabilidade. Um dado interessante é que em São Paulo para cada analfabeto desempregado há três de nível universitário. Isso também pode ser relacionado com a demanda, pode ser que haja saturação de mão de obra qualificada nos grandes centros.
O estudo então reflete a maior das desigualdades brasileiras?Sim, no Brasil a educação ainda é monopólio da elite branca. Tanto é que de dez crianças que começam o ensino fundamental apenas uma completa o ensino superior. Apenas 8% da população entre 18 e 24 anos freqüenta o ensino superior. A educação tem um papel fundamental para determinar a empregabilidade, mas não é o único fator.