O Ikon foi desenvolvido pela Embraer para os E-jets E2, segunda geração de aeronaves comerciais da empresa. (Foto: Embraer)| Foto:

Colocar algumas dezenas de toneladas no ar demanda muito cálculo e nessa matemática entra inevitavelmente uma série de dados hipotéticos. Aos que têm medo de voar, calma! Essas premissas fazem parte dos projetos e são calculadas de modo a definir quais são os parâmetros normais de funcionamento de uma aeronave e são testadas durante meses para, só então, o avião ser certificado e liberado para voar. Mas, e se as premissas definidas forem conservadoras demais?

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Uma margem muito elástica para se avaliar possíveis falhas (mesmo em sistemas acessórios, como o ar condicionado, por exemplo) pode deixar o avião menos eficiente. Para ilustrar: digamos que o projeto tenha definido uma janela de 90 segundos como o máximo tolerável para que o sistema de resfriamento responda a uma variação de temperaturas; para além disso, o entendimento é automaticamente de mau funcionamento. Acontece que, na realidade, com o avião em operação, uma falha só se daria de fato passados 95 segundos. Essa pequena diferença pode fazer com que o avião fique parado para manutenção por causa de um problema que nunca aconteceu. Agora imagine essa situação multiplicada pelos inúmeros mecanismos que garantem que aquela máquina possa ganhar os ares...

Um refinamento e readequações dessas premissas só podem ser realizados a partir da avaliação dos dados de voo, e é na aceleração dessas análises que a Embraer investiu dois anos para o desenvolvimento de um sistema em cloud que permite capturar, armazenar e gerenciar quase que imediatamente grandes volumes de dados em qualquer local do planeta. O Ikon monitora por meio de sensores tudo o que acontece com a aeronave enquanto ela está no ar - a altura de estabilização em cruzeiro, temperaturas externas, comandos dados pelo piloto em resposta a possíveis problemas.

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Do céu para a nuvem

"O sistema permite novos avanços no processo de digitalização da indústria aeronáutica; ao colocar os dados em nuvem, conseguimos ter a velocidade de processamento praticamente instantânea ao menor custo possível", destaca o gerente de suporte técnico da Embraer, Henrique Cardoso. Com a plataforma, o intervalo para a coleta automática dos dados de operação (que antes demorava doze dias para ser feita), foi super reduzido. As informações sobem para a nuvem e ficam preparadas e disponíveis para análise dos engenheiros dentro de cinco minutos a contar do momento em que o avião toca o solo.

Construído em parceria com a AWS (serviço em nuvem da Amazon), o Ikon foi lançado em junho deste ano e está embarcado na segunda geração de aeronaves comerciais da fabricante, os E-jets E2, que passaram a cruzar os céus em maio de 2018. A plataforma opera no formato beta, mas já anima a fabricante com relação a otimização de suas aeronaves. "As tecnologias de Big Data e Analytics oferecem um ganho de 96% de produtividade em análise e processamento de dados das aeronaves, estabelecendo novos padrões em serviços e suporte aeronáutico" pontua o gerente. O sistema já demonstrou eficiência também como oportunidade para melhorias otimizadas. "Por termos praticamente dados de todos os voos da nova família de jatos, antigas premissas de projeto podem ser verificadas e redesenhadas baseadas em um volume muito maior de dados, que permite maior acurácia", explica Cardoso.

Conforme a Embraer, os E-jets E2 produzem cerca de 100 GB de informações diretamente acessíveis por ano. Parece pouco, afinal é conteúdo que cabe num pendrive, mas são 2.000 vezes mais dados do que aqueles que eram disponibilizados pelo modelo antecessor da fabricante.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]