Depois de oito anos no top 100, a Embraer deixou o ranking das maiores empresas de armas e serviços militares do mundo. Desde 2010 a fabricante de aviões aparecia todos os anos na lista das principais companhias do setor, preparada pelo Instituto de Estocolmo para a Pesquisa sobre a Paz (Sipri, na sigla em inglês). Mas não consta da edição mais recente, referente a 2018, publicada neste mês.
Em sua última aparição, no ranking de 2017, a empresa brasileira era a 84ª maior do setor no mundo, e a única da América do Sul entre as 100 maiores, com receita de US$ 950 milhões em vendas de armas ou serviços militares – o equivalente a 0,24% do mercado de todas as companhias listadas.
A maior parte do faturamento da Embraer vem da venda de jatos comerciais e executivos, mas a área de defesa também é relevante: em 2017, respondeu por 16% das vendas totais da empresa, segundo o Sipri.
A saída da Embraer do ranking está relacionada à queda de suas receitas com aviões de uso militar. Segundo o balanço de 2018 da companhia, a receita líquida da área chamada de “defesa e segurança” baixou 20% em relação ao ano anterior, para R$ 2,2 bilhões, ou US$ 612 milhões.
O mesmo relatório mostra que a entrega de aeronaves nessa divisão até aumentou, de sete unidades em 2017 para 11 em 2018 (nove Super Tucano, um Phenom 100 e um Legacy 500). Mas isso não elevou o faturamento do ano porque a contabilização de receitas em alguns contratos não é feita no momento da entrega, e sim ao longo do tempo de desenvolvimento do produto ou tecnologia.
Restrições do governo e incidente com cargueiro
No balanço, a empresa mencionou entre as dificuldades o “cenário desafiador devido às restrições orçamentárias do governo brasileiro”, que afetou o principal cliente da Embraer nessa área, a Força Aérea Brasileira (FAB).
Outro problema foi um incidente com o cargueiro KC-390, maior avião já construído no Brasil. Trata-se de uma “aeronave de transporte multimissão” desenvolvida pela Embraer desde 2009, sob encomenda da FAB. Em maio de 2018, o protótipo 001 saiu da pista quando realizava testes de prova em solo e sofreu danos estruturais – o que, segundo a companhia, “impactou pontualmente a campanha de testes para certificação da aeronave” e afetou “os custos estimados totais para conclusão e o reconhecimento de receita do contrato, com ajuste negativo acumulado reconhecido de R$ 458,7 milhões” no lucro bruto de 2018.
Em outubro de 2017, o mesmo protótipo havia se envolvido em outro incidente, durante um teste de perda de sustentação. O avião despencou 2,6 mil metros em 24 segundos, o que danificou a carenagem e por pouco não terminou em acidente fatal.
O segundo incidente, de 2018, fez a Embraer aposentar de vez o protótipo. Para continuar a campanha de certificação, a companhia passou a usar nos testes o primeiro modelo de série, que foi entregue à FAB há três meses – com três anos de atraso em relação ao cronograma original, graças aos incidentes e o atraso de pagamentos devidos pelo governo federal em meio à crise econômica.
Resultados da divisão militar da Embraer melhoraram em 2019
Após o revés de 2018, os resultados da área de defesa e segurança da Embraer melhoraram neste ano, o que pode levá-la de volta ao ranking do Sipri. No acumulado dos nove primeiros meses, a receita dessa divisão foi de R$ 2,08 bilhões, 24% acima da registrada em igual período do ano passado.
No começo de setembro, a empresa entregou o primeiro KC-390 para a FAB, que deve receber outros 27 até 2024. Desde 2008, a Força Aérea investiu mais de US$ 5 bilhões no projeto. Outra boa notícia foi que, em julho, o governo de Portugal anunciou um “pedido firme” de cinco unidades do KC-390, como parte da modernização de sua força aérea.
As maiores empresas militares do mundo, segundo o Sipri
Segundo o relatório recém-divulgado pelo Sipri, o faturamento das 100 maiores empresas militares do mundo aumentou 4,6% em 2018, para US$ 420 bilhões. A maior empresa de armas e serviços militares do mundo, com larga vantagem, é a norte-americana Lockheed Martin, com receita de US$ 47,3 bilhões em 2018. Confira o ranking das 10 maiores:
- Lockheed Martin (EUA) – Receita de US$ 47,3 bilhões com armas em 2018
- Boeing (EUA) – US$ 29,2 bilhões
- Northrop Grumman (EUA) – US$ 26,2 bilhões
- Raytheon (EUA) – US$ 23,4 bilhões
- General Dynamics (EUA) – US$ 22 bilhões
- BAE Systems (Reino Unido) – US$ 21,2 bilhões
- Airbus Group (Europa) – US$ 11,7 bilhões
- Leonardo (Itália) – US$ 9,8 bilhões
- Almaz-Antey (Rússia) – US$ 9,6 bilhões
- Thales (França) – US$ 9,5 bilhões