O diretor do Fundo de Estabilidade Financeira Europeia (EFSF, na sigla em inglês), disse ontem que não espera chegar a um acordo conclusivo com líderes chineses durante sua visita a Pequim, mas prevê que o país continuará comprando bônus emitidos pelo organismo. Klaus Regling, presidente-executivo do EFSF, afirmou ainda que o acordo de dívida com a Grécia foi um caso excepcional, e descartou a necessidade de repeti-lo para outros países. "Não há negociações em curso com a China", declarou Regling, que mencionou apenas "consultas regulares em uma etapa preliminar".
"Todos nós sabemos como a China tem uma necessidade particular de investir em superávits", disse ele em uma entrevista coletiva, referindo-se às reservas internacionais de US$ 3,2 trilhões, as maiores do mundo. Pouco depois, o governo chinês informou que aguarda explicações antes de assumir um compromisso com o novo mecanismo do EFSF. "Devemos esperar detalhes técnicos para ver de maneira clara e iniciar estudos sérios antes de decidir um investimento", afirmou o vice-ministro chinês das Finanças, Zhu Guangyao.
O diretor disse que ontem não seria anunciado nenhum acordo. "Estamos em contato frequente com as autoridades chinesas, que são compradores regulares dos títulos do fundo", disse Regling, ressaltando que a Ásia adquiriu 40% dos bônus neste ano. Ele visita a China um dia depois do anúncio de um acordo para conter a crise na Europa, que prevê em particular o fortalecimento da capacidade de ação do EFSF, com a contribuição dos países emergentes (China à frente) para ajudar os países endividados.
A zona do euro tomou a decisão para ajudar os países em dificuldade, como Itália ou Espanha. A capacidade do fundo chegaria a 1 trilhão de euros (US$ 1,39 bilhão), contra os atuais 440 bilhões. Para chegar a este resultado, será oferecido aos investidores um sistema de seguro-crédito e um fundo especial seria concedido ao Fundo Monetário Internacional (FMI) para receber as contribuições dos países emergentes.
Brasil
Se for para contribuir financeiramente para a recuperação da Europa, o Brasil prefere fazê-lo exatamente por intermédio do FMI, aportando mais recursos para que o organismo multilateral transfira o dinheiro por meio de suas linhas tradicionais de empréstimo. Esse é o ponto de partida dos negociadores brasileiros que participarão, na semana que vem, da reunião de cúpula do G-20 (grupo das 20 maiores economias do mundo), na cidade francesa de Cannes.
O Brasil prefere essa forma de atuação por considerá-la mais consolidada que os outros mecanismos de ajuda que estão sobre a mesa. Além disso, os aportes adicionais ao FMI podem ser transformados em cotas do Brasil na instituição, aumentando seu peso nas decisões do organismo. Foi o que aconteceu com os US$ 10 bilhões que o país aportou no fundo em 2009.
O montante que o Brasil pode emprestar à Europa ainda não está definido, segundo os negociadores. Esse será um dos principais pontos de discussão na reunião do G-20: se o programa de recuperação europeia é consistente, se o apoio dos demais países será apenas político ou se envolverá recursos. E, nesse caso, quanto cada um colocará. A tendência é que ocorra uma ajuda coordenada dentro do grupo, a exemplo do que ocorreu em 2009.