Todos os dias, verduras e compotas saem da chácara de dona Iara, em Campo Magro, para a vizinha Curitiba. Lá não pega internet. Mesmo assim, ela é uma vendedora virtual. Suas e hortaliças, que já eram anunciadas no Facebook, agora estão à venda pelo BeVeg. O aplicativo, criado como uma "central vegetariano", passou por uma reformulação e agora inclui a opção "feira". Onde produtores e varejistas orgânicos cadastram os produtos que são vendidos por ali e entregues por delivery.
A venda de orgânicos pela internet não é bem uma ideia nova. Muitas chácaras que trabalham no varejo abriram suas próprias lojas virtuais, nos últimos anos. Na região de Curitiba, cidade que tem o primeiro mercado municipal de orgânicos do país, as opções são várias (a Gazeta do Povo listou seis delas, em reportagem publicada no ano passado).
O que o BeVeg oferece é um pouco diferente. Não é uma quitanda virtual, mas uma feira. O consumidor pode escolher entre comprar diretamente de um produtor rural que vende um pacote fechado de hortifruti por semana, por exemplo, ou de uma verduraria orgânica. Vai da sua preferência.
"Não vejo eles como um concorrente, mas como um parceiro", diz Daniel Oliveira Machado, dono da Sirius Orgânicos. Ele tem um box no Mercado Municipal, e já cadastrou seus produtos para venda também pela plataforma.
Há um ano, Daniel vende também pela internet. Ele usa o WhatsApp para disparar a lista dos alimentos frescos da semana para os clientes. Os itens selecionados são entregues em casa. A nova frente comercial começou por acaso. "Eles vinham aqui fazer compras e esqueciam as sacolas. Aí me ligavam perguntando se dava para entregar em casa.
O sistema de "listas" é bem comum entre os vendedores de orgânicos. Faz sentido, já que atinge um público que, em geral, é exigente com seus alimentos e tem alto poder aquisitivo. Além disso, os quiosques e feiras não são assim tão populares. O que torna a entrega em casa atraente.
Mas todas essas iniciativas já existentes esbarram nos limites dos nichos. É o que o BeVeg quer lutar para quebrar. Há três "feirantes" virtuais cadastrados, por enquanto. Outros estão em fase de ajustes técnicos.
Mas convencer produtores rurais (ainda que de regiões urbanas) vai ser um caminho longo. Seja porque em algumas áreas a internet simplesmente não funciona, como no caso da dona Irene, da chácara Amigos da Terra. Ela teve que instalar o sistema na casa do filho Lucas, que moro no Sítio Cercado, bairro de Curitiba que fica a quase 50 quilômetros de distância.
A nova versão do BeVeg, com a feira e o delivery vegetariano, foi lançada há apenas dois meses. Foram cerca de 300 transações até agora, restritas à região de Curitiba. A versão anterior, que listava restaurantes vegetarianos, já estava em 25 cidades.
Tom Barros, um dos fundadores, explica que o passo atrás se deu por vários motivos. "Primeiro porque aqui é a nossa praça. Além de ser uma cidade teste para todo mundo, porque tem um público muito exigente. E também para a gente poder dimensionar". Além disso, a cidade é uma das abertas tanto para o público de orgânicos quanto para os vegetarianos. "Tanto que Curitiba é conhecida como a capital vegana".
A feira do BeVeg não vive só de frutas e hortaliças. Entre os produtos que podem ser encontrados na plataforma estão a argila preta, desodorante vegano e um creme hidratante de patchuli.