Em pouco mais de dez anos, a startup curitibana Hi Techonologies deixou de ser apenas uma boa ideia na cabeça de um grupo de universitários para virar uma empresa internacional, com ação no Brasil todo e em mais 15 países. No ano passado, metade da empresa foi comprada pela Positivo. De lá para cá, a empresa ganhou escala e diversificou sua linha. Seu carro chefe ainda é o Milli, uma mescla de oxímetro com tablet. Mas novas aplicações e serviços surgiram e há espaço para sonhar grande. Quem sabe até virar a primeira multinacional brasileira de tecnologia médica. Na semana passada, a Hi ganhou um reforço nesta missão, e passou a integrar o time de “Empreendedores Endeavor”, lista restrita, só com startups de alto impacto, ao redor do globo.
A trajetória não foi fácil. Marcus Figueredo e Sérgio Rogal estavam no meio da faculdade de engenharia da computação, em 2004, quando criaram a empresa. O primeiro produto que desenvolveram (um software para monitorar pacientes à distância) parecia ter tudo para dar certo. O protótipo foi um sucesso entre médicos e profissionais consultados. Lançaram no mercado e ficaram dois anos sem vender uma única cópia do aplicativo.
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O Milli foi o ponto de virada. A dupla percebeu que não era o software a alma do negócio. Mas a aplicação da tecnologia na humanização da medicina. Surgiu assim o aparelho; um oxímetro, que mede o nível no oxigênio do sangue (como qualquer outro), mas também tem acesso à internet, exibe e armazena os dados dos pacientes, e ainda tem uma câmera que permite participar de videoconferências (para os médicos) ou bate-papo com a família (para os usuários).
Foi nessa fase que a Positivo entrou em cena, em janeiro de 2016, e adquiriu 50% da Hi. Além do dinheiro, a empresa de informática entrou com toda a infraestrutura da rede de fornecedores, produção e assistência técnica. Mas toda a operação da startup, “mais estilo Vale do Silício”, permaneceu independente. Inclusive com uma fábrica em separado, na mesma Cidade Industrial de Curitiba (CIC) que abriga a Positivo Informática.
A empresa cresceu. O time, antes de 13 pessoas, hoje passa dos 40. Antes focada em engenheiros e designers, a Hi cada vez mais abriga profissionais da saúde e da medicina, conta Marcus Figueiredo, hoje CEO da empresa. Só no Brasil, o plantel de clientes passa das 100 instituições, em 22 estados. As exportações já chegaram a 15 países, de diferentes continentes.
Resiliência saltou aos olhos
“Há cinco anos a gente era uma empresa incubada. Hoje somos sócios da Positivo, que é listada na bolsa de valores!”. O próprio Marcus Figueiredo reconhece o salto da Hi, que encontrou um nicho no mercado, ao propor tecnologias inovadoras com foco na humanização da medicina.
Se a empresa sobreviveu, foi muito graças à resiliência de Marcus e seu sócio, Sérgio. A dupla abriu mão de construir uma carreira no mercado por acreditar que o negócio daria certo. “Eles estão há muito tempo nesse negócio, e têm potencial de criar um produto de tecnologia médica disruptiva no Brasil. É algo que não tem cópia no mundo. Não é só mais um negócio local que é uma cópia de algo internacional”, ressalta Marco Mazzonetto, coordenador da Endeavor no Paraná.
Foi esta obstinação que encantou os mentores da Endeavor do mundo todo, durante o International Selection Panel (ISP), entre 15 e 17 de março, no Rio de Janeiro. Dezoito empresas de dez países se apresentaram. Todas consideradas promissoras. Doze foram selecionadas para integrar o time de Empreendedores Endeavor.
É como uma validação. A Endeavor (que integra profissionais renomados a novos empreendedores no mundo todo) atesta que aquele negócio está no caminho certo, é inovador e pode causar alto impacto na sociedade.
Além de receber o selo de “Empreendedor Endeavor”, a empresa passa a ter direito a algumas regalias. Entre elas, a mentoria com profissionais do mundo todo, facilidade de acesso a linhas de financiamento e a parceria com talentos, de instituições de ensino de elite.
Além da Hi Technologies, os brasileiros da Brisanet (CE) e da Gesto Saúde (SP) foram selecionados no painel realizado no Rio de Janeiro. A Brisanet busca levar internet de alta tecnologia a algumas das regiões mais pobres e menos desenvolvidas do Brasil. Já a Gesto é pioneira no país no uso de Big Data na área de saúde privada.
Milli 2.0
Ao mesmo tempo em que consolidou suas vendas, a Hi aproveitou este último ano para novos ajustes em seu modelo de negócios. O Milli segue como carro-chefe. Mas o produto vendido pela empresa já não é um oxímetro hitech. E sim uma plataforma para aplicações médicas.
Traduzindo, é como se fosse um smartphone. O aparelho é um só. Mas o aplicativo que vai ser instalado depende da necessidade de cada paciente ou instituições. Um deles, por exemplo, permite fazer o teste do coraçãozinho em recém-nascidos. Outro acompanha todo o progresso do trabalho de parto.
Já o Milli Sleep, que monitora o sono do paciente, motivou a Hi a repensar inclusive sua forma de vendas. Um modelo de aluguel deve ser lançado ainda este ano, para pacientes que só precisam fazer testes pontuais (o que é comum nos casos de distúrbio do sono).