O aumento expressivo no número de microcervejarias artesanais no país movimentou a cadeia de valor do setor. Nos últimos anos, surgiram diversas empresas especializadas em atender as demandas de fabricantes de cerveja. Desde fornecedores de insumos e equipamentos até aplicativos e guias turísticos especializados na bebida.
Uma das ideias estimuladas pela nova demanda foi a de desenvolver um barril de cerveja 100% reciclado para substituir os tradicionais barris de vidro ou inox. O projeto começou há dois anos e meio, quando Hamilcar Pizzatto Neto e Renato Araújo perceberam a oportunidade de negócio. Os dois são sócios de uma cervejaria artesanal na região de Curitiba e precisavam diminuir os gastos com o barril importado, que aumenta o custo do litro da cerveja em, aproximadamente, R$ 4.
Eles foram para Alemanha, China e Estados Unidos estudar as soluções disponíveis no mercado e voltaram com a ideia de criar um barril de garrafa PET. Como não havia nada parecido no país, passaram a desenvolver a matéria-prima, a válvula que veda o chope, a alça do barril e todo o processo de sanitização e a migração de oxigênio. Também projetaram as máquinas que fazem o barril.
Neste mês, lançaram o BeerKeg no mercado e já conquistaram cerca de 30 clientes. A fábrica, em Araucária, conta com cinco funcionários, além dos sócios – que inclui também Eduardo Liz Martins – e tem capacidade para fabricar 1,2 mil barris por dia. A expectativa de crescimento é grande.
A vantagem do produto é ser simples e fácil de transportar. Ele pesa 640 gramas e não precisa retornar ao fabricante, sendo descartado após o uso. O preço também é atrativo, variando de R$ 60 a R$ 85. “Cerveja artesanal já é uma cerveja cara. E se você gasta muito com embalagem, isso impacta no preço”, diz Araújo. “Tem muita cervejaria abrindo, então eles estão muito focados no preço. E tudo o que ajudar a reduzir o preço por litro tem espaço”, completa.
Segundo o professor Carlo Bressiani, diretor da Escola Superior de Cerveja e Malte (ESCM), o mercado de microcervejarias está em franco crescimento no país e já existem cerca de 400 fabricantes. “Com a revolução industrial, nasceram as megas cervejarias. Agora, vemos uma reversão dessa tendência, com o fortalecimento de cervejarias artesanais”, afirma Brassiani.
O resultado é o amadurecimento do mercado, que começa a ganhar forma com o incremento na cadeia de valor. O primeiro movimento, segundo o especialista, é a adaptação das indústrias que já atendem produtores de bebidas ou criação de novas empresas para fabricação de equipamentos e insumos.
Entre as principais demandas estão as micromalterias, produtoras de levedura e fabricantes de tanques de fermentação. Depois, surgem os negócios que atuam especificamente para movimentar e fortalecer o setor, como distribuidoras, bares especializados, rotas turísticas e escolas de negócio.