O cenário brasileiro de instabilidade econômica tem sido positivo para o mercado de outlets, que se firma como canal de venda barata na cadeia do varejo.
O setor cresceu 10% no volume de vendas, na comparação do primeiro semestre de 2015 com o de 2016, segundo dados da Agência Brasileira de Outlets. No ano passado, foram R$ 2,7 bilhões de faturamento e a estimativa é que, até o final deste ano, sejam faturados R$ 3,2 bilhões – alta de 15,6%.
MAPA: Veja onde ficam os outlets em Curitiba
Tanto para os outlet centers – shoppings que reúnem outlets de marcas próprias (são 10 no Brasil, segundo a Agência Brasileira de Outlets) –. quanto para as lojas multimarcas, a ideia do negócio é conciliar produtos de marcas reconhecidas e preços baixos. Mas para que o lojista consiga praticar valores diferenciados, é necessário que o empreendimento seja planejado para ter um custo operacional reduzido.
Um dos primeiros aspectos a ser pensado é a localização. Segundo André Costa, sócio-fundador da consultoria Agência Brasileira de Outlets (About), a região tem que fazer sentido para as grandes marcas. “Estar perto dos grandes centros é necessário, mas distante de shoppings, para evitar conflito com as franquias. É preciso explorar o turismo e os locais onde se consegue aluguéis mais baratos”, comenta.
O custo de ocupação em um shopping leva, em média, 30% do faturamento da loja, segundo Costa. Nos outlets, esse valor fica entre 8% e 10%.
Outro ponto levantado por ele, no caso dos outlets multimarcas, é a necessidade de pensar o potencial mercadológico da região para confirmar se as marcas escolhidas têm interesse, e para garantir que não haja franquia ou outlet de marca própria, próximos ao local – novamente, para evitar conflito de lojas.
Além disso, para que o lojista ganhe com margem de vendas, é importante ter volume de produtos para garantir um giro grande.
Produtos
O ponto chave de um outlet, porém, é a rede de parcerias com as marcas que se pretende vender. Na maioria dos casos, o lojista estabelece relação com a própria fabricante, eliminando intermediários que elevariam o valor dos produtos.
Segundo Rafael de Tarso, professor de empreendedorismo da ISAE/FGV, o interessado deve enviar uma carta de intenção para fabricante explicando as propostas e estratégias do negócio. Se interessar à marca, eles entram em contato para acertar detalhes de compra.
No caso da Sunset Outlet, multimarcas de roupas e acessórios com duas lojas em Curitiba (bairros Juvevê e Bigorilho), a parceria que pretendem estabelecer com a marca Tommy Hilfiger só irá se firmar quando tiverem mais tempo de loja aberta, por exigência da fabricante. Algumas exigem distância mínima de lojas próprias ou têm delimitador de espaço físico.
Por outro lado, pelas boas relações construídas, marcas como Benetton, Cavalera, Penguin, Reserva e Colcci, por exemplo, enviam, além dos produtos para venda, pessoas para dar treinamentos aos funcionários sobre como ambientar a loja, sobre venda e autoestima do cliente e como apresentar produto produtos da marca.
“Elas nos enviam, ainda, objetos que fazem referência à marca para decorarmos nossa loja, além de sacolas da marca, adesivos, brindes. Isso fortalece nossa identidade”, acrescenta a sócia-proprietária, Francine Franchesci.
Ela comenta que, nem sempre, estabelecer contato com as grandes fabricantes é fácil. Ela e a irmã Francesmei Reis, sócia na Sunset, tiveram facilidade no contato com algumas marcas por já estarem apostando no mercado de acessórios de marcas conhecidas antes de abrirem o outlet. “É meio difícil. As fabricantes têm certos receios porque muitos outlets não se sustentam. Muitas têm requisitos necessários para validar a viabilidade da parceria”, explica.
Riscos
Para André Costa, sócio-fundador da consultoria Agência Brasileira de Outlets, o primeiro risco que se corre é não ter um planejamento bem estruturado, que garanta o aspecto principal do negócio: preços baixos.
“Isso pode acontecer se a localização não for ideal, se o mix formado for de marcas pouco conhecidas. O projeto se mostrará caro no dia-a-dia. O risco deste negócio é alto porque não tem retorno se o planejamento for ruim”, alerta, André.
Já para Francine Franchesci, o empreendedor tem estar preparado para montar a loja antes de ser inaugurada. “O investimento inicial é muito alto, pois o pedido mínimo liberado pelas fabricantes é sempre alto”, comenta. As irmãs sócias no negócio tiveram problemas com o início da Sunset Outlet. Semanas antes da inauguração, o outlet foi assaltado e teve 70% dos produtos roubados. Foram 600 peças, somando R$ 50 mil de prejuízo.