Tendo trabalhado a vida toda no setor de seguros, André Oliveira Monteiro, 43 anos, cultivou ao longo da carreira um desejo: colocar a farda de corretor e ir, ele próprio, em busca de clientes, vender as apólices e embolsar polpudas comissões. Mas não como empregado – queria ser dono do próprio negócio, organizando sua agenda e dispensando o compromisso de dividir o lucro com um patrão.
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O empurrãozinho que faltava veio no final do ano passado, quando Monteiro foi demitido. Com parte da rescisão, ele comprou a franquia de uma corretora de seguros que buscava parceiros que atuassem na venda de apólices. A opção foi por um modelo chamado home based, em que o escritório pode ser instalado na própria casa. Seu investimento total foi de cerca de R$ 10 mil.
Cuidado com a falta de suporte e as receitas superestimadas
Para avaliar antes de abrir o negócio
Veja algumas ideias de microfranquias de até R$ 10 mil
“A franqueadora oferecia os sistemas de busca e registro de clientes, suporte nas situações de sinistro e contato com as seguradoras”, conta o agora empresário.
Assim, Monteiro se tornou um franqueado de uma corretora, e a renda com venda de apólices já aproxima-se do valor que ele ganhava quando trabalhava com a carteira de trabalho assinada.
Pequenas franquias tornaram- se o cálice sagrado de quem deixou o mercado de trabalho nos últimos anos. Seja por dificuldades em encontrar outro emprego, seja pela convicção de que é o momento certo para tirar um antigo plano do papel, o número de pessoas que investe nesse tipo de negócio avança no país. No primeiro trimestre deste ano, em relação ao mesmo período de 2016, a abertura de novas franquias cresceu 2,3%, conforme a Associação Brasileira de Franchising (ABF). Esse movimento tem ampliado o papel dessas redes na economia do país: no período, o faturamento do setor passou de R$ 33,7 bilhões para R$ 36,8 bilhões.
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Uma porta de entrada para o empreendedorismo
Conforme a consultoria Rizzo Franchise, no Rio Grande do Sul, de 2015 para 2016, o número de franquias passou de 17.978 para 18.502 unidades. E a quantidade de vagas de trabalho saltou de 164,9 mil para 169,7 mil. São justamente as microfranquias (que contemplam unidades de até R$ 90 mil de investimento) que servem de porta de entrada para muita gente que se aventura no mundo do empreendedorismo, avalia a ABF, em razão dos valores iniciais mais baixos e do tempo de retorno mais curto.
“As microfranquias alavancaram o modelo de home office no Brasil, que se mostra uma alternativa viável para o profissional operar seu negócio”, afirma o presidente da entidade, Altino Cristofoletti Júnior.
Em geral, as franquias mais baratas atuam no setor de serviços, como agências de turismo, empresas de lavagem e limpeza e vendedores de softwares corporativos. O franqueador fornece marca, treinamento e suporte, e o franqueado foca em garimpar clientes. Uma das vantagens do formato é que o empresário pode gerenciar mais de uma empresa em um mesmo ambiente, organizando sua agenda conforme a quantidade de trabalho. Foi o caminho seguido pelo administrador Sérgio Silva, 47 anos.
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Depois de dois anos tocando um franquia de venda de pacotes corporativos de SMS, ele e o sócio viram com simpatia a chance de comprar mais um negócio: uma empresa que vende, por intermédio dos franqueados, máquinas para pagamento de cartão de débito e crédito. “Como o custo é baixo, vimos mais uma oportunidade para multiplicar nossa renda”, diz Silva.
Cuidado com a falta de suporte e as receitas superestimadas
A febre das microfranquias abre boas oportunidades, mas também envolve riscos que precisam ser levados em conta, alerta Marcus Rizzo, diretor da Rizzo Franchise. Uma das maiores ameaças é a falta de suporte do franqueador conforme a rede de franqueados cresça e o quadro de representantes fique inchado: “Muitas vezes, a franquia é barata porque o suporte é mínimo. É preciso conversar com outros franqueados antes de assinar um contrato, para saber se o suporte realmente funciona.”
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Outro risco é que a franqueadora, na pressa de levar sua marca a novos mercados, venda a ideia de que o negócio é mais rentável do que de fato é. Nos últimos dois anos, uma microfranquia de reparos residenciais, que chegou a ter mais de 800 unidades no Brasil, virou alvo de uma avalanche de processos judiciais, com franqueados dizendo-se enganados por previsões superestimadas de receita, que mal cobria os royalties (valor pago pelo uso da marca).
“O caminho para evitar se deixar seduzir por uma franquia barata, mas sem estrutura, é escolher um segmento em que se pretenda atuar e, só depois, comparar as franquias disponíveis, avaliando sua saúde financeira, e a experiência e a satisfação de outros franqueados”, ensina Rizzo.
Para avaliar antes de abrir o negócio
-Investimentos: é preciso ter capital suficiente para iniciar e manter a operação até que ela se torne rentável. Então, o cálculo da capacidade de investimento deve incluir investimento inicial informado pelo franqueador, tempo previsto para que a empresa atinja o ponto de equilíbrio operacional, capital de giro e uma reserva para se sustentar enquanto a franquia não decola.
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-Adaptação: é preciso avaliar se a franquia está dentro da capacidade de investimento do franqueado ou se exige habilitações e tempo de dedicação exclusiva diferentes da realidade do candidato – e, ainda, se está disponível na região desejada. É importante ter interesse pela área de atuação do negócio, mesmo se não tiver experiência, uma vez que será preciso se dedicar diariamente à empresa.
-Potencial e reputação: submeta cada franquia a uma análise atenta à lucratividade, à rentabilidade e ao tempo de retorno (informações fornecidas pelos franqueadores), comparando as diferentes opções que estão no seu radar. Verifique quantas unidades abriram e quantas fecharam nos últimos anos e converse com atuais e antigos franqueados das marcas para conhecer sua opinião.
-Saúde financeira: a legislação determina a entrega dos balanços dos dois últimos exercícios financeiros. O candidato deve informar-se sobre a regularidade fiscal e tributária da empresa, verificando as certidões negativas federal, estadual e municipal onde encontra-se a sede da franqueadora. Com referências comerciais, como dos principais fornecedores, será possível verificar se há indícios de problemas financeiros.
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-Contratos: durante a análise do modelo de negócio que está sendo franqueado, da leitura da Circular de Oferta de Franquias, da minuta do contrato e da análise dos dados financeiros, é recomendável que o candidato busque a orientação de profissionais que possam ajudá-lo neste período.
Ideias de negócio
Veja algumas ideias de microfranquias de até R$ 10 mil:
-O que faz: venda de máquinas de meios de pagamento
-Investimento inicial (home based): R$ 6.490
-Retorno do investimento: de seis a 12 meses
-Faturamento médio mensal: R$ 3,5 mil
-Royalties: taxa mensal de R$ 469
-O que faz: serviços de lavagem ecológica
e estética automotiva
-Investimento inicial em loja: R$ 6 mil
-Retorno do investimento: de três a 18 meses
-Faturamento médio mensal: de R$ 10 mil a R$ 30 mil
-Royalties: valor variável
-O que faz: hotelaria e agência de turismo
-Investimento inicial (home based): R$ 5,9 mil
-Retorno do investimento: de quatro a 24 meses
-Faturamento médio mensal: de R$ 100 mil a R$ 200 mil
-Royalties: 2,5% do faturamento bruto
-O que faz: agência de intercâmbio no Exterior
-Investimento inicial para loja: R$ 3 mil
-Retorno do investimento: de 12 a 24 meses
-Faturamento médio mensal: não divulgado
-Royalties: não cobra
-O que faz: prestação de serviço de limpeza residencial
-Investimento inicial (home based): R$ 3,3 mil
-Retorno do investimento: de 12 a 18 meses
-Faturamento médio mensal: a partir de R$ 5 mil
-Royalties: 10% do faturamento
-O que faz: venda de itens e decoração para casa
-Investimento inicial (home based): R$ 5 mil
-Retorno do investimento: de três a 24 meses
-Faturamento médio mensal: a partir de R$ 6,1 mil
-Royalties: não cobra
-O que faz: softwares para indústrias, universidades,
comércios, área de saúde e agronegócio
-Investimento inicial para home based: R$ 1.874
-Retorno do investimento: de seis a 48 meses
-Faturamento médio mensal: não divulgado
-Royalties: não cobra
-O que faz: comércio de joias maciças e folheadas a ouro
-Investimento inicial em home based: R$ 3 mil
-Retorno do investimento: de dois a 15 meses
-Faturamento médio mensal: de R$ 2 mil a R$ 45 mil
-Royalties: 12% sobre as compras
Fonte: ABF
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