Se as lojas de artigos novos perderam clientes no último ano, os pequenos negócios de manutenção e conserto não têm do que reclamar. Com a queda na renda e a alta do desemprego, os consumidores estão apostando na sobrevida dos produtos que já possuem em vez de comprar coisas novas. Quem ganha com esse movimento de mercado são sapatarias, costureiras, oficinas mecânicas e lojas de conserto de eletrodomésticos e eletrônicos.
Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o volume de vendas do varejo nos três primeiros meses deste ano acumulou baixa de 7% e, em 12 meses, decréscimo de 5,8%. Quando se incluem as vendas de carros e materiais de construção, o recuo ainda é mais forte, de 9,4% nos primeiros três meses deste ano e 9,6% em 12 meses.
Com o comércio varejista em queda, o segmento de reparos e consertos está entre os negócios mais promissores de 2016, de acordo com relatório divulgado pelo Sebrae. A instituição de fomento a micro e pequenas empresas afirma que muitas pessoas têm preferido arrumar produtos e equipamentos quebrados a adquirir novos itens. Com isso, os negócios que atuam consertando objetos estão com a demanda em alta.
Na Sapataria Farias, uma das mais tradicionais de Curitiba, o movimento cresceu 70% neste ano. São consumidores em busca de trocar zíper da mochila, sola de sapato, alça de bolsa, reforçar malas que estragaram e ajustar roupas que não servem mais. “Não temos do que reclamar da crise. Está bem corrido o serviço”, afirma Rogério Farias, proprietário e filho dos fundadores da sapataria, Irene e Deroci Farias.
Ele conta que o momento é um dos melhores para a sapataria que está no mercado há 43 anos, quando Deroci Farias veio de Novo Hamburgo, no Rio Grande do Sul, para dar vida ao sonho da família de ter o negócio próprio. Com o quadro de funcionários completo, os 40 colaboradores se desdobram para atender a todos os pedidos que demoram de 15 a 20 dias para ser entregues.
“A crise sempre traz uma mudança de comportamento do consumidor. Em vez de comprar um computador novo, eu mando arrumar uma peça, que sai mais em conta”, diz Paula Tissot, consultora do Sebrae-PR. Cabe ao empreendedor aproveitar o momento para fidelizar o consumidor e garantir a demanda mesmo quando a crise passar e o cliente optar por trocar de carro e celular com mais frequência.
Fidelizar cliente é fundamental
Com a mudança do comportamento do consumidor, o segmento de reparos e consertos está em alta entre quem pensa em ter o negócio próprio. Segundo a consultora do Sebrae-PR Paula Tissot, a área é atraente principalmente para quem está empreendendo por necessidade, pois não demanda muito investimento para começar.
A pessoa pode atuar sozinha, como microempreendedor individual, e em casa, sem a necessidade de abrir uma loja de rua e contratar funcionários no começo do negócio. “Antes de começar, é preciso avaliar bem a ideia. Ver como o mercado se comporta e se há espaço para quem está começando”, orienta Tissot.
Qualidade na entrega, cumprimento dos prazos e bom atendimento são premissas básicas de quem atua no segmento de serviço. Agregar opções extras, como venda de assessórios e produtos para o objeto durar mais tempo também ajudam a manter as vendas aquecidas.
“O empreendedor tem que usar a crise a seu favor. Mostrar os benefícios para o cliente ao consertar uma mercadoria em vez de trocar. Evidenciar que sai mais barato, que o serviço tem garantia e boa durabilidade”, diz Tissot.
A consultora afirma, ainda, que é importante, tanto para quem está começando quanto para as empresas que já estão no mercado, investir na fidelização do cliente. “Fazer com que o público seja o próprio propagador do negócio vale mais do que propaganda.” Com isso, as pessoas devem voltar ao estabelecimento mesmo quando o conserto de objetos não for mais prioridade.