Cesar Simões e Tatiana Chiletto abriram a loja há um ano e meio, depois de ela decidir vender parte do próprio guarda-roupa| Foto: Daniel Castellano/Gazeta do Povo

Peças que sobreviveram ao tempo ganham uma segunda vida nos brechós, nicho de mercado que vem crescendo nos últimos anos, resultado da procura por preço baixo, da segmentação do público e da profissionalização na gestão dos negócios. Segundo dados do Sebrae, o Paraná é o quinto estado em número de brechós no país, atrás de São Paulo, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro.

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Um exemplo é o brechó Tati Chiletto, que vende roupas femininas de grife em uma galeria comercial no centro de Curitiba. Depois de ter trabalhado em diversas lojas de marcas, Tatiana sentiu a necessidade de vender parte do seu guarda-roupa. Postou as fotos das roupas em um grupo no Facebook e, em duas horas, fechou 44 encomendas. Seu marido, Cesar Simões, que estava saindo de uma sociedade em consultoria de gestão, deu a ideia de começar o negócio.

Dados

Em 2011, o Paraná contava com 788 estabelecimentos de comércio de produtos usados, o que inclui lojas de roupas e calçados, móveis, material de demolição, utensílios domésticos e livros. No início de 2016, segundo estatística do Simples Nacional, o número saltou para 1.229. No Brasil, o total de estabelecimentos saiu de 8.733, em 2011, para 14.226, em 2016.

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Após R$ 30 mil de investimento inicial, o casal fatura R$ 300 mil por ano. São vendidas de 350 a 400 peças por mês e, entre os produtos, estão desde um vestido Paula Hermanny por R$ 70 até um casaco da marca Valentino por R$ 3.100. A empresa está há um ano e meio no mercado e faz a divulgação dos produtos por meio das redes sociais. No primeiro trimestre deste ano, será inaugurada a segunda unidade.

Diferenciais

Cuidados

Confira dicas para abrir um brechó, segundo especialistas do Sebrae:

Segmentação

Escolher o público-alvo, a linha de produtos e o estilo da loja.

Mercadoria

Oferecer ampla variedade de produtos de qualidade, higienizados e originais.

Fornecedores

Comprar de terceiros, em feiras ou bazares. Também é possível optar pelo modelo de consignação e de troca de produtos com clientes antigos e até com outros brechós.

Comunicação visual

Produtos bem dispostos e organizados. Em caso de ponto fixo, vale apostar na decoração e iluminação do ambiente.

Divulgação

Redes sociais como Instagram e Pinterest são bons canais de divulgação dos produtos. Invista em fotos atrativas. Promoções pela web costumam trazer novos clientes.

A segmentação deu uma cara nova aos brechós. Há lojas para o público feminino, masculino, infantil e misto. Algumas vendem roupas convencionais, outras somente de grife. Existem, ainda, espaços especializados em acessórios e em roupas esportivas.

Há 11 anos no mercado curitibano, o Treco do Bebê começou quando o sobrinho da Luciana Vilela cresceu e foi necessário se desfazer dos artigos do bebê. Como os itens infantis são caros e usados por pouco tempo, há bastante rotatividade de produtos na loja, que conta com um e-commerce para vender para todo o país.

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O cuidado com a seleção das peças que vão para as araras também é um dos diferenciais dos brechós de hoje em dia, que nada se parecem com aqueles ambientes desgastados do passado. Quem faz sucesso investe no garimpo de peças em feiras e com fornecedores exclusivos para garantir produtos de qualidade com preços mais baixos do que nas lojas tradicionais.

Na Trinca Z, brechó de roupas de grife dos amigos Jeferson Sabatke e Caca Brainta, 15 mulheres fornecem as mercadorias. Entre as marcas estão: Armani, Dior, Louis Vuitton, Burberry, Chanel e Marc Jacob.O negócio existe há oito anos, mas a aposta no nicho de marcas selecionadas, nos últimos três anos, fez o faturamento dobrar. “O giro das peças é bem rápido. Em um mês, conseguimos vender. No máximo, o produto fica dois meses”, conta Sabatke.

Loja exige organização para manter estoque em dia

Para prosperar no mercado, o empreendedor que vai montar um brechó precisa estar ciente de que está abrindo um negócio que requer planejamento, investimento e conhecimentos básicos de moda. Essa é a opinião do coordenador do setor estratégico do comércio do Sebrae-PR, Osmar Dalquano Júnior.

O investimento varia de R$ 30 mil até R$ 300 mil, dependendo da estrutura da loja. O primeiro passo é segmentar a atuação e, para isso, vale fazer uma pesquisa de mercado na sua região.

Depois, decidir se será uma loja física, virtual ou ambas. Muitos empreendedores começam vendendo pela internet e depois sentem necessidade de ter um espaço para os clientes provarem as roupas. “O e-commerce é tão complexo quando uma loja física”, alerta Dalquano Júnior.

Outro quesito importante é a curadoria das peças. Há duas opções: comprar de fornecedores (amigos, parentes ou terceiros) ou optar pela consignação, quando alguém deixa a peça na loja, vendida sob comissão. “Para quem opta pelo modelo de consignação, não precisa de investimento alto para começar o negócio. Para quem compra toda a mercadoria, fica um pouco mais caro”, explica a coordenadora nacional de varejo da moda do Sebrae, Wilsa Sette.

É importante também ter um leque de fornecedores para não correr o risco de ficar na mão. No brechó Tati Chiletto, como começaram a faltar peças de segunda mão, a solução foi comprar sobras de coleção. Feiras também são uma boa maneira de garimpar artigos exclusivos.

O último passo é investir na comunicação visual da loja, com ampla divulgação pela internet. Nada de roupas amassadas e espaços bagunçados. “Com o aumento da concorrência, aumentou a necessidade de capacitação”, diz Wilsa. Para ela, o mercado está aquecido – muito influenciado pela crise, já que consumidores buscam produtos a preços menores.