Nascido e criado em Capitão Leônidas Marques, a 70 quilômetros de Cascavel, Claudinei dos Anjos contrariou as estatísticas. Ele e os três irmãos estudaram em colégio particular, a muito custo dos seus pais, que tinham o sonho de ver um filho gerente de banco. Ninguém imaginava que, quatro décadas depois, o rapaz estaria no comando de uma indústria milionária.
A Estofados Anjos e sua rede de lojas, Anjos Colchões, faturaram R$ 63 milhões em 2016. Mesmo com a crise, a previsão é fechar este ano com 15% de crescimento.
A fábrica foi fundada em 1991. Mas sua história começa antes; ainda quando os pais do rapaz o colocaram em uma boa escola de Cascavel, nos anos 1970.
Nos finais de semana, os meninos voltavam para casa e ajudavam na venda dos pais, que tinham um armazém de cereais. A vontade de trabalhar levou o jovem Claudinei, então com 16 anos, a assumir o posto de contínuo, no Banco Real de Cascavel.
A carreira foi interrompida pelo serviço no quartel. E aí veio uma reviravolta. Aos 19 anos, o rapaz estava fora do exército, casado e sem emprego. Voltou para Leônidas Marques, onde foi eleito vereador.
O empurrão que faltava
O tempo na política despertou o lado empreendedor do jovem. Ele lembra do exato momento em que isso aconteceu, em um curso na Câmara Municipal de Curitiba:
Tinha esse palestrante do Tribunal de Contas explicando aos prefeitos e vereadores das cidades pequenas que não adiantava eles irem para São Paulo, para Santa Catarina. Tinham que investir com as pessoas da própria cidade; pegar um pecuarista, um comerciante, e incentivar uma indústria com as pessoas do próprio município. Eu lembro que ele deu um tapa na mesa e disse: 'por que vocês não montam uma?'.
Foi quando ele decidiu. Ia montar uma fábrica de estofados.
Cinco cabeças de gado sem raça
O início foi duro. "Até os familiares achavam que não ia dar certo". Com quatro funcionários e um barracão de 250 metros quadrados, cedido pela prefeitura, começou a Estofados Anjos.
Para comprar a máquina de costura e os grampeadores, Claudinei vendeu um Chevette e uma Belina, que tinha comprado após vender seu presente de casamento (uma caminhonete dada por seu pai).
A produção começou, mas não tinha para quem vender. Um rapaz que tinha uma loja na cidade aceitou comprar, em troca de cinco cabeças de "gado tucura", sem raça.
O empreendedor levou os animais para o sítio do pai, que tinha gado nelore, de raça. "Ele disse: 'você está louco! Vende isso rápido.'". Um profissional liberal da cidade aceitou ficar com os animais em troca de um Fusca velho.
Quando tudo, enfim, decolou
O empresário colocou o pé na estrada. E o negócio, enfim, deslanchou. Começou a viajar, levar as fotos dos produtos para lojistas, participar de feiras de móveis em São Paulo, no Rio Grande do Sul. As entregas eram feitas na caminhonete do pai de Claudinei.
Até que, em 1998, um incêndio destruiu a fábrica nova que a Anjos estava construindo. E levou embora 60% do estoque. Foi preciso negociar com fornecedores e pegar empréstimos bancários, para cobrir o rombo.
Em dois anos, estava tudo pago. Nessa mesma época começou a fabricação dos colchões, já que a Anjos já produzia sua própria espuma para os estofados. Uma década depois, em 2010, veio a entrada no franchising, com as lojas de fábrica.
A moral da história é começar aos poucos e nunca desistir de trabalhar. Diz Claudinei:
Tudo, quando começa, não dá lucro. O lucro é uma consequência do trabalho, da organização, e de ter as pessoas certas para o seu projeto (...) e se você está com vontade de fazer não tem hora, não tem dia. Você levanta de madrugada e supera muitas coisas. A vontade é muito maior do que ficar ouvindo as pessoas que te colocariam para baixo
Vontade, para o empresário, é a chave. E ele tem uma premissa: "Deus dá inteligência para muitas pessoas, mas a vontade de crescer tem que partir de você".
Com 48 lojas em operação, a rede Anjos Colchões pretende abrir mais 20 unidades ainda este ano. A fábrica da marca está instalada em uma área de 27 mil metros quadrados de área construída, em Capitão Leônidas Marques.