Na estante do supermercado, o chocolate rivaliza com a pasta de amendoim integral. Com o crescimento do mercado fitness , em academias e afins, a venda de alimentos voltados para este público se popularizou, e deixa de ser restrito a lojas especializadas. Para os próximos anos, o setor deve permanecer em crescimento. Mas a explosão da concorrência acende um alerta para quem quer investir nesta área. Não basta ser novidade. O produto tem que ser bom. E o atendimento, especializado.
Veja os dados que explicam o potencial do setor
Tem produto para todos os gostos. Literalmente. Os suplementos alimentares são comercializados em 11 mil postos de vendas em todo o país, segundo estimativa da Associação Brasileira de Empresas de Produtos Nutricionais (Abenutri). São 2,5 milhões de consumidores no segmento de nutrição esportiva. O destaque são os produtos à base de proteína, que respondem por 68% do mercado.
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Não por acaso, é a proteína do leite – o whey protein – o grande chamariz de marcas que tentam entrar neste mercado. A franquia de açaí Villa Roxa, por exemplo, já vendia whey em pó, como um complemento para os seus produtos. Desde setembro, passou a vender picolé de açaí. Três dos sabores (chocolate, morango e baunilha) são turbinados com a proteína.
Fundador do Villa Roxa, Jefferson Domingos conta que a relação da marca com esportistas é de longa data. No começo, era o pessoal do Jiu-jitsu. Depois se expandiu. Hoje, é neste público que ele aposta para frear a interferência da sazonalidade. Com sanduíches, saladas e grelhados, a ideia é manter as vendas mesmo no inverno, quando o faturamento chega a cair em até 40%.
A Los Paleteros fez o caminho inverso. A franquia de sorvetes – alimento que passa longe da pecha de saudável – lançou a marca :bentih, voltada exclusivamente à saúde. “Baunilha com whey” é uma das opções.
Tem feito sucesso, conta Gean Chu, diretor executivo da Sormetier (braço multi-marcas da Los Paleteros). “A gente percebe que as pessoas cansam de consumir sempre os mesmos produtos de Whey. Basicamente é shake e barrinha de proteína”, e o sorvete seria uma opção para variar o cardápio sem abrir do valor nutricional.
Enquanto empresas entram no mercado, para outras o desafio é se consolidar. Fundadora da Fit Cookies , Graziele Zonta conta que a empresa segue crescendo, após três anos. Tanto que iniciou operação industrial para a produção de seus alimentos, no ano passado, e a distribuição para varejistas superou o e-commerce no faturamento.
O carro chefe ainda é o produto que deu visibilidade à marca, o brigadeiro funcional. E o desafio do momento não são os concorrentes do mercado fitness, conta Graziele. E sim viabilizar a distribuição dos alimentos em escala nacional. Dificuldade redobrada por serem congelados e manufaturados sem conservantes.
No ano passado, o setor de alimentação saudável movimentou R$ 93 bilhões só no Brasil, segundo estimativa da Euromonitor Internacional. Não há um recorte específico sobre o mundo fitness, já que o setor inclui desde alimentos sem glúten e lactose até bebidas isotônicas. Mas há otimismo. O número de alunos de academias e afins chegou perto de 10 milhões, em 2015, segundo dados do anuário para América Latina da International Health, Racquet & Sportsclub Association (Ihrsa).
Também em 2015, o setor de suplementos alimentares faturou R$ 752 milhões só com a venda para o público esportivo. A Associação Brasileira de Produtos Nutricionais (Abenutri) acredita ter fechado 2016 com 18% de crescimento. E que deve ultrapassar a marca de R$ 1 bilhão, até 2020.
Alimentação fitness: tendência ou modinha?
Para quem pensa em investir na tal alimentação fitness, uma dúvida paira no ar: será que é só mais uma modinha? Para a consultora do Sebrae Paraná Sonia Shimoyama, o termo “fit” e seus derivados pode até cair em desuso, daqui a alguns anos. Mas a lógica de uma nutrição mais consciente, seja voltada para a atividade física ou para o bem estar, é uma tendência que veio para ficar.
“A gente percebe é uma preocupação com a qualidade do alimento que se é consumido. Isto é uma tendência, porque eu quero estar bem daqui a 30 anos porque existe muita possibilidade de eu ainda estar viva”, comenta Sônia, que vê muitas oportunidades de negócios, ainda, para o setor.
O presidente da Abenutri, Marcelo Bella, acredita que o uso de suplementos vai ser cada vez maior, “pelo estilo de vida corrido dos grandes centros, pela necessidade de inclusão social ou melhorar o corpo rapidamente”. O que pode acontecer é o surgimento de novos compostos, ainda mais eficientes do que as proteínas do ovo, do leite e da carne, utilizados hoje. Ao mesmo tempo, a popularização da nutrição esportiva deve ajudar as pessoas a ver os suplementos como uma “forma tecnológica de melhorar sua alimentação natural”.
Atenção na hora de investir
Se o público cresce, vem também a concorrência. E aí é preciso redobrar a atenção, alerta Sonia Shimoyama, do Sebrae. O primeiro passo é entender a gestão do negócio, já que na gastronomia é muito fácil o empreendedor se perder na operação, o que encarece custos e pode levar um bom produto para o buraco.
No campo da alimentação saudável, uma boa ideia é buscar produtores locais. É inclusive uma forma de cativar este público específico, que muitas vezes está disposto a pagar mais caro. Mas também se sente no direito de cobrar sustentabilidade.
Outra preocupação fundamental é com o atendimento. Novamente: o público. Quem busca alimentos que auxiliem no treino muitas vezes tem acompanhamento nutricional, aprende a ler rótulo e a discutir ingredientes. O atendente não pode ficar para trás; ele ajudar na orientação ao consumidor. Por fim, fica o marketing. Quem tem um bom produto e um processo sustentável deve fazer questão de informar ao público da qualidade de seu produto.
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