O setor de tecnologia educacional – conhecido entre empreendedores como EdTech – é um dos mais promissores para quem busca tirar sua startup do papel. Mas é também o ambiente que mais oferece desafios. Isso porque, além de a educação ser um dos segmentos de negócio com mais problemas para serem solucionados, se apresenta como um dos mais conservadores quando o assunto é inovação.
Segundo Rafael Ribeiro, diretor executivo da Associação Brasileira das Startups (ABStartups), as dificuldades enfrentadas pelos empreendedores neste segmento começam no momento em que a ideia do negócio é formatada e, a partir daí, precisa ser testada e validada no ambiente educacional, com alunos e professores. “Muitas vezes as startups têm ideias interessantes, mas acabam encontrando uma grande resistência por parte das escolas em ajudar a testar e validar o produto”, explica.
Estudar é chato, mas aprender pode ser divertido
Samir Iásbeck era uma criança que não gostava de estudar, mas que sempre gostou de aprender. Motivado pelos pais, ele cresceu questionando os modelos existentes e sempre buscando a sua própria forma de aprender. O tempo passou, e à partir da motivação de que o aprendizado pode ser divertido nasceu o Qranio, uma plataforma que usa a gamificação para tornar o aprendizado mais leve e agradável.
O sistema funciona como um jogo, onde o usuário é convidado a responder perguntas sobre os mais variados temas – da matemática ao entretenimento. Cada resposta correta rende uma premiação em QIs, uma moeda virtual desenvolvida pela empresa e que pode ser trocada por diversos prêmios reais de dezenas de varejistas diferentes. “O Qranio nasceu para ser complementar ao ensino tradicional durante as outras horas do dia, quando as pessoas gastam tempo e energia com aplicativos de mensagens ou jogos que não agregam nada,” conta Iásbeck. “É tão divertido quanto os jogos normais, mas agrega conhecimento e ainda permite que o usuário troque os pontos por prêmios.”
Para rentabilizar o negócio, a empresa também desenvolve cursos e treinamentos para outras organizações, sob o mesmo olhar que torna o aprendizado divertido, porém eficiente. Nascida em 2011, a startup tem mais de 1,3 milhão de usuários cadastrados e uma carteira de clientes que inclui Vivo, Pepsico, Brasil Kirin, Bradesco, entre outras grandes companhias. Em 2015 foram eleitos o app do ano pelo Facebook Start, e em dezembro do ano passado foram selecionados para o programa de aceleração Launchpad Accelerator do Google.
De acordo com relatos, os desafios se multiplicam dependendo do sentido em que as decisões acontecem. Quando é a diretoria da instituição que escolhe qual inovação implementar há uma resistência dos professores, que não puderam participar do processo. Quando a escolha vem no sentido inverso, a resistência é da diretoria, que acaba não enxergando o valor agregado e como aquela tecnologia pode gerar uma melhoria à escola como um todo.
Para Matheus Goyas, um dos fundadores do AppProva, aplicativo que auxilia os alunos no estudo e preparação para provas, um dos maiores erros de quem empreende no setor de EdTech é achar que a utilização e o engajamento de escolas e professores será alto a partir do lançamento da solução. “Não adianta nada desenvolver a tecnologia e achar que todos vão sair usando desde o primeiro dia”, diz. “É preciso ensinar como funciona o sistema para mostrar a real proposta de valor para eles.”
Segundo Rafael Ribeiro, os empreendedores precisam lembrar que, para uma inovação ser inserida em uma instituição educacional, ela precisa gerar valor para todos os envolvidos, e não apenas a escola e professores. “É preciso que exista valor agregado no produto ou serviço para os quatro envolvidos: escola, professores e, principalmente, os pais e alunos.”
Oportunidades para resolver problemas
Segmentos de mercado com grandes problemas costumam ser um prato cheio para empreendedores que buscam inovar. Foi justamente a partir da observação de uma necessidade que nasceu o AppProva. “As boas oportunidades na vida costumam depender de um bom desempenho em uma prova, seja no ambiente educacional ou no ambiente profissional,” conta Matheus Goyas, um dos fundadores da startup. “Nosso objetivo é garantir as melhores oportunidades para quem faz essas provas.”
O aplicativo permite que o aluno se prepare para provas de uma maneira mais interativa, com feedback em tempo real, e resultados que permitem que ele dedique a maior parte do seu tempo para os conteúdos que mais necessitam sua atenção. Lançado em 2012, o AppProva está presente em mais de 60% dos municípios brasileiros, com mais de 1 milhão de alunos cadastrados e usando o sistema com regularidade.
A grande quantidade de problemas presentes na educação é o que motiva a inovação, e para Rafael Cunha, diretor de operações do Descomplica, uma plataforma de educação preparatória para ENEM e vestibulares, o maior deles é que as pessoas não conseguem se livrar do modelo tradicional, em especial por conta da imagem que se criou. “As pessoas não conseguem enxergar que a escola não precisa ser só o modelo professor, alunos, carteiras, quadro negro,” conta Cunha.
Na opinião de Goyas não há mais como pensar a educação sem relacioná-la com a tecnologia, mesmo que o mercado brasileiro esteja engatinhando neste sentido, com um pensamento ainda relativamente conservador sobre o assunto. Assim como em outros segmentos do mercado, o caminho, segundo ele, passa pela solução dos grandes problemas estruturais, para só então pensar em um pool de soluções para facilitar a vida de escolas, pais, alunos e professores. “Não existe uma bala de prata no segmento, é preciso trabalhar para resolver um problema de cada vez,” finaliza.
Público x Privado
Prioridades diferentes diferenciam o processo de inovação na educação pública e privada.
A maior parte do setor educacional ainda é dominado pelas instituições públicas, mas é nas escolas privadas que há uma abertura maior para a recepção de processos e soluções inovadoras. Segundo Rafael Ribeiro, diretor executivo da ABStartups, a competição do setor privado é um dos principais motivadores da busca pela inovação, já que este é o principal artifício para a vitória sobre a concorrência.
Já quando o objetivo é inovar na educação pública, os processos burocráticos e os pré-requisitos para as licitações acabam, por vezes, limitando e impedindo a inserção da iniciativas inovadoras. “Às vezes a startup sabe o que tem que fazer, tem boas ideias, mas não se enquadra das determinações,” explica Ribeiro. “No fim das contas quem acaba entrando na licitação são as empresas tradicionais, e não as startups.”
Para Matheus Goyas, fundador do AppProva, é preciso também que os empreendedores entendam que na maioria dos casos a contratação deste tipo de solução não está na pauta da administração pública que, na opinião dele, possui problemas muito maiores para resolver. “As prioridades do Estados são outras. Ele não contrata a tecnologia pois não gosta ou não precisa, mas sim porque neste momento precisa se preocupar com outros problemas maiores.
Número de obras paradas cresce 38% no governo Lula e 8 mil não têm previsão de conclusão
Fundador de página de checagem tem cargo no governo Lula e financiamento de Soros
Ministros revelam ignorância tecnológica em sessões do STF
Candidato de Zema em 2026, vice-governador de MG aceita enfrentar temas impopulares
Reforma tributária promete simplificar impostos, mas Congresso tem nós a desatar
Índia cresce mais que a China: será a nova locomotiva do mundo?
Lula quer resgatar velha Petrobras para tocar projetos de interesse do governo
O que esperar do futuro da Petrobras nas mãos da nova presidente; ouça o podcast