Em julho de 2014, três estudantes do curso de Administração da UFRGS tiveram uma ideia em que pouca gente botou fé. Entre uma aula e outra, Gustavo Lembert, 25 anos, Arthur Dambros, 25, e Tomás Susin, 27, criaram um clube de assinatura de livros, a TAG Experiências Literárias. Num país em que 44% da população não lê e que 30% nunca comprou um livro, segundo a Pesquisa Retratos da Leitura no Brasil (2016), as chances de o negócio vingar pareciam remotas.
Passados três anos daquela decisão arriscada, o trio, agora ao lado de outros dois sócios, Álvaro Englert, 28, e Pablo Valdez, 28, comemoram a conquista de quase 18 mil assinantes. O que começou com conversas informais de amigos que tinham em comum a paixão pela leitura virou uma empresa localizada em um espaço de 1,2 mil metros quadrados no bairro Floresta, em Porto Alegre, com 50 funcionários e um faturamento mensal de R$ 1,2 milhão – para dar início à empreitada, o trio investiu R$ 10 mil.
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“A gente discutia várias ideias de negócio, desde hostel em Santa Catarina a alguma coisa de produtos orgânicos. No meio das discussões, percebemos que os livros eram pauta de nossas conversas e começamos a debater como poderíamos trabalhar. Não tínhamos vontade de abrir uma livraria ou um sebo online, a gente queria trabalhar com experiência de leitura. Isso foi bem no momento em que os clubes de assinatura ganhavam força, como os de vinho. Achamos que era um modelo de negócio interessante”, lembra Gustavo.
A partir daí criaram o formato que hoje encanta os sócios da TAG. A empresa se assemelha ao extinto Círculo do Livro, que existiu entre 1973 e 2000 e chegou a ter 800 mil associados. Enquanto os exemplares do Círculo eram escolhidos por quem pagava a conta, os associados da TAG recebem todo mês uma caixa com um livro surpresa – indicado por um curador –, além de uma revista sobre a obra e um “mimo”.
Dilema do negócio e muitas dificuldades
“Nosso dilema era: quem vai indicar? Porque nós não temos moral nenhuma para ficar sugerindo livro para os outros. Daí pensamos em chamar pessoas que são referência, das quais a gente já tinha ido a palestra ou lido um livro que admirasse, alguém que tivesse bagagem cultural e literária, explica Tomás.
O primeiro curador escolhido foi o filósofo Mário Sergio Cortella, que indicou O Físico, de Noah Gordon. O livro foi entregue em agosto de 2014 para 65 pessoas – a meta era alcançar 70.
O ano de estreia do projeto, entretanto, foi marcado por dificuldades.
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Muitos dos associados eram do nosso círculo de amigos e familiares. A gente até atingiu algumas pessoas fora do Estado pela divulgação no Facebook. Nos primeiros meses era bem concentrado em Porto Alegre, tanto que a gente mesmo montava os kits e os entregava. Demoramos cinco meses para atingir os cem associados – afirma Gustavo.
Foi nessa época que Álvaro e Pablo se juntaram ao trio.
“Vimos que não conseguiríamos dar conta de toda a operação. Estávamos sendo consumidos por montar os kits, entregá-los, emitir nota fiscal, cobrar cliente, ler os livros, escrever a revista, falar com os curadores, decidir o mimo”, lembra Gustavo, que resume o principal problema a ser enfrentado naquele momento: “Não conseguíamos vender”.
Meta para continuar
A frustração só não foi maior porque o retorno dos assinantes era bastante positivo, com poucos cancelamentos e muitas mensagens de incentivo. Isso acabou dando fôlego para que persistissem, colocando como meta chegar aos 400 sócios até novembro de 2015. Caso falhassem, desistiriam do negócio.
Entre as ações adotadas, os cinco sócios distribuíram em bares da Capital bolachas de chope com caricaturas de escritores que tiveram problemas com bebida. Conseguiram com a iniciativa apenas duas novas assinaturas.
“Foi um fracasso retumbante”, diverte-se Álvaro.
Ao mesmo tempo, apostaram em assessoria de imprensa, o que resultou em reportagens em vários veículos do Brasil, e em parcerias com booktubers, como são conhecidos os youtubers de livros, que divulgavam em seus canais o funcionamento da TAG.
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O plano deu certo. Em julho daquele ano, após conquistarem 500 associados, contrataram o primeiro estagiário, até hoje funcionário da empresa. Em dezembro, já contavam com 2 mil assinantes. Um ano depois, no final de 2016, já estavam com 12,5 mil.
Cada vez mais forte, o grupo continuou ousando, e, neste mês, para celebrar os três anos de vida da empresa, vai entregar aos associados um livro de contos inéditos. A meta do grupo agora é chegar ao número de 100 mil assinantes.
“A gente se permitiu sonhar alto. Não só acreditamos na TAG, mas também na literatura de um modo geral”, afirma Arthur.
Interação e surpresa para fisgar os leitores
O próximo projeto da TAG é a releitura de 10 contos clássicos, com tiragem de 21 mil exemplares
O sucesso da TAG Experiências Literárias é fruto também da forte interação entre os assinantes. Os sócios até titubearam em criar, após pedido dos próprios integrantes do clube de livros, uma página no Facebook, em abril de 2015, por receio de não conseguir administrar o espaço na rede, mas acabaram atendendo o desejo dos associados. Hoje o canal de discussão conta com mais de 800 mil curtidas. Proporcionar lugares de encontro para os leitores virou prioridade.
“A gente acredita que a leitura é individual, mas também pode ser coletiva. Ela engrandece quando tu conversas com as pessoas. É justamente quando vemos perspectivas diferentes da nossa que mudamos a forma de encarar o livro. A leitura não termina quando a última página do livro é fechada”, diz o sócio-fundador da TAG Arthur Dambros.
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Além de estar presente nas redes sociais mais conhecidas, como Facebook, Twitter e Instagram, a TAG conta ainda com um aplicativo de celular, no qual os associados podem conversar entre si, comentar os livros recebidos e dar notas para as obras. A mais bem avaliada entre as 35 já enviadas é Stoner, do norte-americano John Williams, escolhida pela escritora Letícia Wierzchowski – entre os curadores que já passaram pelo clube estão nomes como Mario Vargas Llosa, Daniel Galera, Luis Fernando Verissimo e Cíntia Moscovich.
“Me espanta que o Stoner tenha tido uma adesão tão intensa. É um livro que vai num crescente. De repente, ele te sequestra. É a história de um homem comum. É de uma humanidade, fiquei um dia inteiro lendo o livro. Tinha trabalho para fazer, mas protelei tudo – lembra Letícia, que é colunista do blog da TAG, ao lado dos escritores Carol Bensimon e Sérgio Rodrigues. Os três recebem a caixa com o livro surpresa geralmente com um mês de antecedência dos associados.
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“Pego o livro com a mesma alegria dos demais assinantes. A única coisa difícil é que não posso falar com ninguém sobre a obra, não posso entregar a surpresa – conta a autora de A Casa das Sete Mulheres.
Neste mês de aniversário de três anos do clube, Letícia, Carol e Rodrigues não escreverão, como de costume, sobre um livro sugerido por um curador. Comentarão, entretanto, uma obra inédita, organizada por Luiz Ruffato e Helena Terra, que, no ano passado, encararam a missão de indicar livros.
Para a empreitada, a dupla chamou nove escritores brasileiros (Ana Maria Gonçalves, Beatriz Bracher, Cristovão Tezza, Eliane Brum, Ivana Arruda Leite, Luiz Antonio de Assis Brasil, Maria Valéria Rezende, Milton Hatoum e Paulo Lins) e um português (José Luís Peixoto), que vão fazer suas releituras a partir de 10 contos clássicos. Os assinantes devem receber a obra entre os dias 10 e 20 de julho. A tiragem será de 21 mil exemplares, bem acima da média nacional, de 2,5 mil cópias, segundo estimativa da Câmara Brasileira do Livro.
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