Um pato de estimação que nasceu com uma perna atrofiada é uma das primeiras aves da espécie a ganhar um membro mecânico para voltar a andar. O membro postiço, desenvolvido pelo empresário Nelson Nolé, de Sorocaba, no interior de São Paulo, foi inspirado nas próteses em forma de lâmina, usadas pelos corredores paraolímpicos. O equipamento foi instalado de forma definitiva na semana passada, mas o pato Batata terá de passar por um período de adaptação antes de poder correr sem risco de queda.
Especialista em próteses humanas que devolvem a mobilidade a amputados em acidentes e guerras, como vítimas de minas em países africanos em conflito, Nolé também é requisitado para serviços especiais. Em março, produziu uma prótese para o índio Marinaldo Ashaninka, de uma tribo amazônica descendente dos incas, que perdeu a perna após ser picado por cobra.
Sua empresa, a Conforpés, está há quatro décadas no mercado. Começou em Sorocaba, e hoje conta com três filiais nos estados de São Paulo e Mato Grosso. A produção é tanto de membros superiores (como mão estéticas, mão mecânica e biônica); quanto inferiores (perna biônica, pé biônico e em fibra de carbono, e lâmina de corrida).
Procurado por donos, o empresário passou a atender animais, na maior parte dos casos, gratuitamente. Além do flamingo, fez prótese para um bovino. “Pato é o primeiro e foi um desafio, pois é uma ave de andar desengonçado que tem nadadeiras na extremidade do membro.”
“Patinho feio”
Batata nasceu como o “patinho feio” numa ninhada de seis filhotes, pois tinha uma das pernas atrofiada e seria sacrificada. A administradora Persia Cristina Maldonado, moradora de Amparo, no interior paulista, decidiu adotar a ave.
Por causa do defeito, ele comia muito - alimento e água tinham de ser levadas ao alcance do bico - e se movimentava pouco, ganhando o apelido de Batata.
Persia conta que procurou ajuda em clínicas veterinárias, sem sucesso, até encontrar na internet notícias sobre o trabalho de Nolé. Em 2015, ele havia construído uma perna mecânica para um flamingo do zoológico de Sorocaba.
O procedimento começou com a amputação do que restava do membro atrofiado. Para isso, Nolé contou com ajuda de um veterinário. Após desenvolver a prótese em fibra de carbono, ele verificou que o pato escorregava muito e trabalhou o material para ficar mais aderente ao piso. Nos últimos testes, a ave conseguiu caminhar em direção ao alimento.