Uma pessoa comum e que trabalha em áreas que pouco conversam com tecnologia pode aprender linguagens de programação em pouquíssimo tempo? A empresa paulista Mastertech acredita que sim, e vem provando que isso é possível desde o início de 2016. Para eles, basta vontade de aprender, um computador e mais oito semanas de imersão completa. No fim, qualquer um estará apto a resolver problemas usando a tecnologia.
A empresa surgiu a partir de uma série de “coincidências”. Os sócios Felipe Barreiros e Camila Achutti já trabalhavam na área, ele com experiências na Microsoft e ela no Google. Juntos, haviam ensinado cerca de 15 mil jovens de todo o Brasil a programar, mas sabiam que ainda não era suficiente.
Tiveram certeza quando chegaram no CUBO, espaço de coworking e startups criado pelo banco Itaú. Por lá, perceberam que as empresas ainda precisavam de programadores, na maioria dos casos para projetos simples, mas que as grandes empresas de tecnologia não tinham braços suficientes para atender essas necessidades.
Viam também uma infinidade de pessoas desempregadas e querendo mudar de área no país. Juntaram o útil ao agradável, o conhecimento em programação e a necessidade do mercado, e criaram a Mastertech.
Felipe Barreiros garante que não é preciso nenhum conhecimento prévio para aprender a programar, “apenas um computador e muita disposição”.
Não há processo de seleção dos alunos, o que é feito, segundo o CEO, é um “desencorajamento” dos interessados. “A gente mostra como as oito semanas em que estarão imersos exigirão muita força de vontade. Isso já seleciona quem realmente quer ficar e o resultado final tem sido incrível”, explica.
Durante o curso, os participantes aprendem programação back-end, front-end, desenvolvimento de aplicativos, internet das coisas, inteligência artificial e técnicas de prototipação e impressão 3D. O grande desafio é, de fato, o prazo em que tudo isso é feito e para superar essa barreira, a Mastertech aposta em professores que estão longe da sala de aula.
“São profissionais que estão atuando com programação em grandes empresas que ensinam essas pessoas. É uma preocupação para que os alunos tenham experiências práticas reais e não apenas uma teoria que dificilmente vão conseguir aplicar”, destaca Barreiros.
O desafio de vencer o tempo reduzido também é superado com “exercícios de Swásthya Yôga, mindfulness, técnicas ágeis de desenvolvimento de software, design thinking, capacitação de trabalho em equipe e liderança”.
Por enquanto, o balanço é positivo: mais de 1,2 mil alunos em 2016 e mais de mil neste ano. Os cases são os mais diferentes possíveis, passaram por lá advogados, administradores, arquitetos, economistas, cozinheiros e por aí em diante.
Com as salas cheias, o retorno financeiro também é outro destaque da Mastertech, que só em 2016 faturou cerca de R$ 600 mil. Número já superado em menos de cinco meses deste segundo ano de atuação da empresa.
“Estamos em um processo de desafios. Nos desafiamos a crescer 10% desse faturamento por semana nos últimos dois meses e isso foi cumprido rigorosamente nas últimas nove semanas. A ideia é manter esse ritmo de crescimento pelo menos até o fim de julho para mostrar de vez o nosso potencial”, explica Barreiros.
Por ora, o curso de programação em oito semanas é oferecido apenas presencialmente em São Paulo. Mas, a empresa também atua em outras capitais do país, como Belo Horizonte e Rio de Janeiro, com uma iniciativa ainda mais ousada: ensinar pessoas comuns a programar em apenas um fim de semana.
O curso é uma espécie de cápsula da principal iniciativa da Mastertech e, de acordo com Barreiros, é também um teste para ver se será possível abrir novas unidades nesses locais nos próximos anos.
A venda dos cursos tem sido feita em até quatro lotes. Para um fim de semana de aulas em São Paulo no mês de agosto, por exemplo, as vendas estão no terceiro lote, com custo de R$ 960. Para quem conseguiu garantir uma vaga no primeiro lote, o custo foi de R$ 560.
Empresa está em ritmo acelerado de expansão
Para manter o ritmo de crescimento do ano passado, a Mastertech tem apostado em algumas mudanças. Contratou mais pessoas, remanejou equipes, abriu dois novos espaços em São Paulo e agora foca também em outras áreas de atuação além da tecnologia: negócios e marketing digital.
Os cursos nessas duas áreas seguem a mesma essência de imersão do início da empresa, também com o objetivo de trazer resultados rápidos para os participantes e atender as necessidades mais urgentes do mercado.
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Outra novidade é a atuação online, com uma transmissão ao vivo toda terça-feira para tratar de um assunto relacionado aos três pilares de atuação da Mastertech. Há ainda as parcerias com grandes empresas para oferecer treinamentos para os colaboradores.
Nesse caso, a ideia é capacitar essas pessoas com “habilidades do século XXI”, ou seja, inserir esse pessoal em um ambiente mais digital e com soluções tecnológicas pensadas por eles mesmos. Esses treinamentos já foram feitos com empresas como Itaú, Accenture e Leroy Merlin.
As bandeiras da Mastertech
Desde que surgiu, a Mastertech tem pelo menos duas bandeiras bem definidas: a programação como o “novo inglês” e a forte presença feminina na empresa. No primeiro caso, Barreiros acredita que saber as linguagens de programação, assim como falar inglês, já é essencial para muitos profissionais.
“Prova disso é que pessoas de diferentes áreas e, muitas vezes, vindo de cursos e faculdades renomadas, como USP e Mackenzie, estão sempre nos procurando. Todo mundo já entende que não é possível ficar só no básico da sua profissão”, reforça.
Quanto à presença de mulheres na empresa, o CEO explica que foi um caminho trilhado de forma natural. Camila Achutti, sócia da Mastertech, já tinha um blog chamado “Mulheres na Computação” e, portanto, sempre teve essa preocupação em mostrar que a presença feminina no setor também é grande, além de incentivar que cada vez mais mulheres passem a atuar com tecnologia.
Hoje, tanto entre os alunos, quanto entre os mais de 50 colaboradores e professores, cerca de metade são mulheres. Em determinados períodos, essa participação chegou ser de 70%. “É algo que a gente se orgulha desde o início”, finaliza o CEO.