Atenção para este número: US$ 127 bilhões. É quanto o mercado de drones deve movimentar, no mundo todo, nos próximos anos (equivale ao PIB da Hungria). Em Curitiba, uma empresa de tecnologia descobriu uma boa forma de ganhar dinheiro com os aparelhinhos voadores. A 4Vants se inspirou no que há de mais tecnológico na medicina e na forma de ganhar dinheiro da Netflix para montar seu modelo de negócios. Tem dado certo.
O negócio da 4Vants é vender dados. A empresa coloca os drones para mapear uma determinada área. Por exemplo uma fazenda ou um garimpo. Os sensores instalados nas naves capturam fotos que, por sua vez, são processadas por uma inteligência artificial. São os dados que resultam deste processamento que interessam para as empresas compradoras.
Um exemplo. Os principais clientes da 4Vants hoje são concessionárias de energia elétrica. Eles usam os drones para sobrevoar linhas e torres de transmissão. As fotos são processadas por um robô, que é treinado para saber se estes sistemas funcionam. Se houver qualquer coisa de errado, ele gera um alerta.
Esse é um trabalho que as concessionárias já fazem, com ou sem drones, explica Michel Sehn, CEO e um dos fundadores da 4Vants. "Elas usam um helicóptero que vai percorrendo a linha, e o engenheiro usa uma câmera com teleobjetiva para fazer as fotos. Depois ele descarrega o pen drive e analisa imagem por imagem, dando zoom para ver se tem algo de errado".
É exatamente a mesma lógica usada por tecnologias de ponta na medicina. O robô pode ser treinado para ler uma tomografia, e identificar uma microcalcificação mamária, ou se um tumor regrediu após seis meses de tratamento, por exemplo.
Sehn estudou esta lógica da telemedicina quando fez mestrado em Ciência da Computação na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). A ideia de transferir esse conhecimento para o mercado de drones veio quando ele leu um estudo da PricewaterhouseCoopers, com a estimativa de US$ 127 bilhões até 2020, que citamos ali em cima.
A 4Vants tem uma frota própria de drones. Mas não depende somente deles. A empresa também terceiriza o serviço para parceiros. O que permite atuar em diferentes regiões de forma simultânea e, assim, ganhar escala.
Outra aposta da empresa para crescer é a diversificação de mercados. É possível trabalhar no agronegócio, com mapeamento de lavouras; na mineração, com medições volumétricas e de topografia; segurança, com serviços como o mapeamento de fronteiras e de mapeamento de locais antes de ações contra o crime organizado, por exemplo; e até em serviços de tráfego. Além da já citada área de energia elétrica.
Mas ampliar o leque não é algo tão simples. Não basta dar um "ctrl+c, ctrl+v" e colar as linhas de código de um projeto para outro. O robô precisa saber se está procurando o número de cabeças de gado, de pés de soja ou se vai analisar uma torre de transmissão de energia elétrica. Cada uma dessas áreas exige uma programação complexa. E a aposta da 4Vants é em parcerias com as universidades.
Michel Sehn conta que foi bater na porta dos grupos de pesquisa das principais universidades de Curitiba, com convites para parcerias:
"Foi uma coisa que eu senti bastante dificuldade quando era mestrando. Via multinacionais até a UFSC, mas nenhuma empresa nacional convidando para projetos em comum. A gente tem que valorizar nosso ser pensante que é a universidade".
Em um ano de funcionamento, a 4Vants já tem na carteira pelo menos três grandes concessionárias de energia no Brasil. Com previsão de ampliar em breve as carteiras nacional e internacional. O sucesso, segundo Michel Sehn, é explicado por uma parceria com uma multinacional.
O nome da empresa ainda não pode ser divulgado (o que deve ocorrer nos próximos meses), por motivos contratuais. "É uma empresa grande, que opera em mais de 10 países". A 4Vants também não divulgou números de faturamento. A equipe é bastante enxuta. São 5 pessoas, entre elas Michel e o sócio Chase Dixon Olson, diretor de Business Development.