Empreendedores em geral - sejam aqueles que estão concebendo um projeto ou os que passaram dessa fase e já estão com as ideias na prática – estão acostumados a fazer planos de negócio, de ação, elaborar metas e estratégias. Isso é importante para desenhar uma perspectiva do negócio e saber a melhor maneira de conduzir o projeto. Mas quando a ideia é colocada na prática e precisa ganhar mercado, sai na frente quem executar ações que, além de serem eficazes para o momento, garantem bons resultados a longo prazo.
Firmar parcerias, alinhar os funcionários com o propósito da empresa, conquistar os clientes através do atendimento e relacionamento e lançar promoções são medidas que trazem reconhecimento para uma marca. Com isso o empreendedor posiciona sua ideia perante o mercado e então pode trabalhar para que ela se consolide e garanta seu espaço.
No bar Sirène, essa estratégia rendeu bons frutos. Os amigos Afonso Natal Neto, Lucas Muller e Raphael Umbelino levaram sete meses para planejar qual negócio funcionaria no espaço que adquiriram, na rua Trajano Reis, no centro de Curitiba. Em janeiro de 2016, a casa abriu suas portas oferecendo para o público um único prato: fish and chips, uma comida típica de Londres.
Relacionamento com os clientes ajuda a construir estratégias de sucesso
Quando as primeiras ações surtem o efeito desejado a longo prazo, a empresa pode acreditar em sua solidez para continuar expandindo. E em cada novo plano essa estratégia pode ser aplicada novamente. Desde que criaram o blog Tudo Orna, em 2010, as irmãs Bárbara, Débora e Julia Alcântara trabalharam para cativar um público interessado em moda e consumo consciente. Quatro anos depois, lançaram a marca de acessórios ORNA, com bolsas feitas manualmente e de matéria-prima regional, conceitos que valorizaram o produto e segmentaram a produção para os públicos A e B.
As irmãs e sócias decidiram, então, lançar uma linha de maquiagem para levar a marca até novos clientes. Estudaram o mercado e planejaram as ações de curto prazo antes mesmo de lançar o produto. “A gente fez a divulgação pelas redes sociais e contato direto com os clientes dois meses antes dos batons ficarem prontos”, conta Débora Alcântara. Além disso, elas foram em busca de novas parcerias, como com a farmacêutica que agora testa os produtos. O cuidado era para que o novo produto tivesse uma nova identidade, mas continuasse com os valores construídos com o público desde o começo do blog. O lançamento do cosmético provou que elas acertaram: um dos produtos se esgotou em menos de 24 horas.
Para Débora, as ações de curto prazo trouxeram resultados rápidos, mas o foco é que eles tenham continuidade, alinhando o ritmo com a identidade da marca. “Nossa maior preocupação é fazer bem feito e não passar por cima do que a gente acredita. E nossos clientes se adaptaram a isso também”, analisa.
Por trabalharem com um produto especializado e que não era tão conhecido pelos clientes, os sócios trabalharam outras formas de atrair quem frequentava a região. Firmaram parceria com uma fábrica de chope local e adaptaram a receita para o gosto brasileiro. Assim, quem era atraído pelas promoções de cerveja acabava ficando pela qualidade do produto. Por fim, os donos investiram na comunicação com o público, que ajudou a divulgar o local. A estratégia trouxe bons resultados: o faturamento do Sirène começou em R$ 30 mil e dobrou duas vezes ao longo do ano.
Atenção e planejamento
Apesar dessa movimentação parecer orgânica, ela teve de ser muito bem planejada para dar certo. Os sócios, que no início eram os únicos funcionários do bar, já tinham novas contratações e parcerias em mente. Conseguiram fidelizar o fornecedor dos peixes e contrataram mais atendentes, um zelador e um profissional de marketing digital. “A qualidade e o preço justo deram o up para o bar. Agora, investimos nas redes sociais para ter um feedback rápido e melhorar o atendimento, que sempre foi essencial”, explica Neto.
Esse planejamento feito no início dos negócios demanda organização de recursos, procedimentos e tempo. Segundo Deise Hofmeister, coordenadora da pós-graduação em Empreendedorismo e Desenvolvimento de Novos Negócios na Universidade Positivo, a atenção necessária para o momento antes de abrir as portas deve ser redobrada quando o negócio começa a funcionar. “O ritmo de trabalho da empresa tem que ser alto. Quem dita as regras é o mercado, depende de demanda e para ela crescer a pessoa precisa estar ali”.
Rede amiga
Para Edith Viana Alves, consultora do Sebrae em empreendedorismo, as parcerias com fornecedores, mentores e consultores ajudam a planejar e ajustar o negócio. “Às vezes o dono faz tudo, aí não tem tempo de cuidar da gestão, porque está focado no operacional. A rede de contatos é importante para se atualizar sobre a área, diversificar e até expandir o negócio”, afirma.
E foi com uma parceria que o Whatafuck conseguiu consolidar seus planos de expansão. O sócio da hamburgueria, Daniel Mocellin, conta que o bom relacionamento com fornecedores garante vantagem estratégica para a casa. “Temos prioridade para receber os produtos. Isso trouxe segurança para abrir uma nova unidade”. Para ele, a segunda loja é tratada como um novo negócio, mas o planejamento aproveita os aprendizados de quem já conhece a empresa.
Termômetro
As especialistas alertam que, muitas vezes, o projeto tem que ser reajustado. “O controle da gestão, tudo que você aprende a acompanhar desde o começo, é o que ajuda você a ver onde pode adequar o plano para melhorar seus resultados”, ressalta Alves. As medidas de curto prazo são simples e ajudam o empreendedor nesse acompanhamento. Promoções e análise de redes sociais geram um estudo sobre o cliente. Parcerias com fornecedores podem baratear custos e trazem conhecimento sobre o mercado.
Esses resultados apontam o perfil do negócio e facilitam a vida do empreendedor no decorrer da atividade. Um dos termômetros que podem indicar a necessidade de ajustar os planos é a lucratividade, que deve aumentar ao longo dos meses, visando o break even (quando a empresa atinge o equilíbrio financeiro). Outro indicador é a movimentação, que mostra se a empresa foi aceita ou não. “O negócio pode não ter grande rentabilidade, mas está sempre cheio, mais do que a concorrência. É um bom sinal. Oferecer um serviço melhor pode sair mais caro, mas atrai as pessoas”, explica Hofmeister. Nesse caso, a medida é o relacionamento com o cliente.
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