Empresas como Unilever, General Motors e Kroton têm mais em comum além de serem umas das líderes em seus setores de atuação. Se até pouco tempo atrás essas companhias estavam de olho em concorrentes vulneráveis, agora elas estão desembolsando milhões para comprar startups, negócios de base tecnológica com grande potencial de crescimento que funcionam com equipe enxuta, custos reduzidos e estratégia voltada para a inovação.
A nova tendência surgiu a partir do momento que grandes empresas perceberam que as startups estão um passo a frente quando o assunto é inovação. Para Steve Blank, um dos maiores especialistas em empreendedorismo, ficou mais difícil para as grandes corporações criarem inovações disruptivas no século XXI.
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Segundo artigo publicado em seu blog, as grandes empresas são muito boas em manter e aperfeiçoar modelos de negócios existentes, mas fracas em identificar novas oportunidades. Isso acontece porque elas têm a atenção voltada para gerar valor imediato para seus acionistas e o investimento em inovação depende de projetos de pesquisa e desenvolvimento (P&D) no longo prazo.
Para quem não quer cair nesse erro, a solução encontrada foi comprar startups com modelo de negócio sólido e base de clientes significante. “Há um número cada vez maior de startups que estão crescendo e incomodando empresas tradicionais. É uma estratégia para garantir a liderança e a continuidade do seu negócio”, explica Juliano Seabra, diretor geral da Endeavor no Brasil.
A entrada em segmentos inexplorados sem ter que começar do zero também é um dos fatores que motiva uma grande empresa a comprar uma startup. Em julho, a Unilever comprou a startup americana Dollar Shave Club por US$ 1 bilhão e entrou nos segmentos de lâminas de barbear e clubes de assinatura, em um claro movimento para brigar de frente com a concorrente Procter&Gamble, dona da marca Gillette.
Foi o que fez também a Positivo Informática. A empresa paranaense comprou 50% da startup curitibana Hi Technologies (HiT) em abril para entrar na área de tecnologia aplicada à saúde. A startup desenvolve soluções em software e hardware para monitoramento remoto de pacientes, como oxímetros, aparelhos para acompanhamento de partos, sistemas de laudos de eletrocardiogramas e detectores de apnéia do sono.
“A HiT, apesar de ser uma startup, é uma empresa muito consistente. Já éramos operacional, já estávamos inseridos no mercado, já tínhamos certificados. Estamos há mais de 10 anos sobrevivendo num mercado dominando por grandes empresas”, diz Marcus Figueredo, CEO e cofundador da startup, ao elencar os motivos que levaram à aquisição. A HiT começou em 2004 com um investimento de R$ 2,5 mil e já estava presente em 22 estados e tem mais de 100 clientes.
Incorporar novas tecnologias as já existentes também motivam as aquisições. No início deste ano, por exemplo, a General Motors comprou a Cruise Automation, uma startup de veículos autônomos dos Estados Unidos. Já a Kroton, maior empresa de educação do Brasil, comprou a sua fornecedora de plataformas de ensino, a Studiare, por R$ 4,1 milhões em 2015.
Vantagens para as startups
Para a startup, ganhar escala e entrar em mercados fechados estão entre as vantagens de ser comprada por uma grande empresa. Essa é a visão do gerente de comunidades da Associação Brasileira de Startups (ABStartups), Thiago Melo, compartilhada também pelo CEO da Hi Technologies, Marcus Figueredo. “Saúde é um mercado muito demorado e fechado. Tem que desenvolver, testar, certificar e validar para depois vender”, afirma Figueredo. “Nós já sabíamos fazer os produtos, vender, mas precisávamos ganhar escala”, conta o empreendedor.
Depois de incorporadas, startups funcionam como unidades independentes
Com a nova tendência de startups serem adquiridas por grandes corporações, a questão é saber se o valor investido vai valer a pena e se as empresas adquiridas vão manter o ritmo de inovações.
Para o diretor geral da Endeavor no Brasil, Juliano Seabra, o sucesso vai depender do processo de incorporação. O gerente do Centro Internacional de Inovação do Senai no Paraná, Filipe Cassapo, destaca que a grande empresa precisa incorporar a diversidade e a cultura organizacional da startup para a parceria ser rentável.
Para preservar a essência da startup, a estratégia mais utilizada no processo de incorporação é manter o novo negócio como se fosse uma unidade independente, mas que tem resultados e estratégias subordinadas ao grupo principal.
É o caso da Hi Technologies (HiT), adquirida em 50% pela Positivo. A startup manteve a sua sede e fábrica na Cidade Industrial de Curitiba. O CEO e cofundador da startup, Marcus Figueredo, explica que os diretores da Positivo participam do planejamento estratégico e apoiam financeiramente a empresa no desenvolvimento de novas tecnologias e na entrada de mercado. A pesquisa, fabricação e gestão do dia a dia do negócio continuam com a equipe da HiT, que dobrou de tamanho após a aquisição e passou a ter 30 funcionários.
Mas, apesar de as startups continuarem como unidades separadas, elas precisam seguir novas regras – o que pode deixá-las mais burocráticas com o tempo. A troca de informações e a divulgação de projetos que estão em andamento, características comuns dentro do universo das startups, por exemplo, deixam de acontecer por causa de cláusulas de confidencialidade e segredo industrial.
Para o gerente de comunidades da Associação Brasileira de Startups (ABStartups), Thiago Melo, as lideranças que não entenderem que a startup tem um modus operandi totalmente diferente podem acabar matando o novo negócio.
Exemplos
Relembre alguns grandes negócios fechados no Brasil e no exterior nos últimos anos:
GM
A General Motors comprou a Cruise Automation, uma startup de tecnologia de veículo autônomo no início deste ano. O valor da transação não foi revelado, mas analistas estimam que o negócio custou US$ 1 bilhão. A startup tem sede na Califórnia, nos Estados Unidos.
Kroton
A maior empresa de educação do país é conhecida por suas grandes aquisições. No ano passado, a empresa comprou a startup Studiare por R$ 4,1 milhões. A Studiare já era fornecedora da Kroton há dois anos. A startup desenvolve plataformas adaptativas de aprendizado e ferramentas de gamificação, big data e gestão acadêmica.
Linx
Um das líderes em tecnologia de gestão para o varejo, a Linx anunciou em 2015 a compra de duas startups brasileiras: Chaordic e Neemu. Elas desenvolvem tecnologias de busca e personalização para e-commerce. A Linx pagou R$ 78,6 milhões à vista pelas duas startups e, caso as metas sejam atingidas até 2018, serão desembolsados mais R$ 32,8 milhões.
Mercado Livre
O Mercado Livre, um dos líderes em comércio eletrônico na América Latina, comprou neste ano a startup catarinense Axado por R$ 26 milhões. A startup desenvolveu um sistema de gestão e monitoramento de fretes para e-commerce e já era fornecedora do Mercado Livre.
Positivo
A Positivo anunciou neste ano a compra de 50% da startup curitibana Hi Technologies, que desenvolve soluções tecnológicas para a área médica. O investimento marcou a entrada da empresa paranaense no segmento da saúde. O valor da aquisição não foi divulgado.
Tivit
Uma das líderes em serviços integrados de tecnologia na América Latina, a Tivit adquiriu a startup mineira One Cloud no primeiro semestre deste ano. A startup atua no mercado de soluções na nuvem. O valor da aquisição não foi divulgado, mas o negócio faz parte de um investimento de R$ 46 milhões da Tivit para desenvolver soluções na nuvem para seus clientes.
Unilever
Uma das líderes globais em produtos de cuidados pessoais, a Unilever comprou a empresa Dollar Shave Club em um negócio calculado em US$ 1 bilhão. A startup tem sede em Venice, na Califórnia, e é um clube de assinatura que entrega lâminas de barbear e demais produtos de cosméticos masculinos.
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