Ser nerd deixou de ser estigma, ao menos para o comércio. Uma avalanche de lançamentos de produtos para adultos – que vão desde bonecos de Darth Vader para decoração, peças de vestuário inspiradas em desenhos animados e até roupa de cama de casal com o brasão de Hogwarts, a escola do bruxo Harry Potter – apela fundo ao espírito de colecionador e à nostalgia de cada consumidor. Com tanto incentivo, muita gente grande passou a vestir a camisa (de preferência com seu personagem favorito estampado nela) dessa moda nerd.
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Os chamados itens licenciados – com ícones de marcas registradas – geraram quase R$ 18 bilhões em vendas em 2016, segundo a Associação Brasileira de Licenciamento (Abral) incluindo produtos para todas as faixas etárias. Segundo Marici Ferreira, presidente da Abral, o segmento para adultos já representa 30% do total de licenciamentos: “Nos EUA, essa proporção é de 50% a 50%. Há uma tendência crescente, que está vindo para o Brasil, de pensar também nos adultos”.
O uso desses temas em roupas, conta Roberto Kanter, professor de MBAs da Fundação Getulio Vargas (FGV), começou com grifes estrangeiras incorporando personagens às criações. Isso, segundo ele, é parte de uma estratégia maior.
“Quanto mais forte é a imagem de uma marca, maior o interesse em adquirir produtos com ela”, explica, acrescentando que sequências de filmes, novos episódios ou spin-offs, criações que derivaram de outros títulos, ajudam a manter a marca na mente do público. “No fim das contas, o filme é ponta do iceberg, você quer é licenciar produto, brinquedo, comida, bebida, roupa...”
Paixões da infância
Os irmãos Amanda, de 26 anos, e Renan Mesquita, de 29 anos, fazem parte dessa tribo que se cerca das paixões de infância ou da última temporada. No quarto que dividem não faltam referências nerds. Fã de séries como “Dr. Who” e “Game of Thrones”, a professora de inglês tem, em sua coleção, de bonecas das princesas da Disney a blusas com personagens do anime Cavaleiros do Zodíaco: “Tenho utensílios de cozinha com temas nerds e Disney, pois quero colocar as coisas de que gosto em tudo, até na arrumação da cozinha”.
Kanter, da FGV, diz que essa externalização dos gostos reflete a tendência do “ser pelo ter”, uma forma de reforçar o pertencimento a uma determinada tribo.
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Uma das empresa que vêm surfando nas ondas geek e nostálgica é a Riachuelo, que, no ano passado, chegou a montar um estande na feira Comic Con Experience – evento anual dedicado à cultura pop, com atores de séries e vendas de produtos geeks - e deve repetir a dose este ano. A primeira experimentação com os produtos licenciados voltados para adultos foi com Star Wars.
“A coleção Star Wars esgotou em 72 horas, entendemos que havia necessidade no público adulto de produtos de qualidade e preço acessível”, diz Julia Medeiros, gerente de Licenciados da Riachuelo. “É uma compra emocional.”
Turma da Mônica
Um anúncio que mexeu com as emoções de muita gente perto da casa dos 30 anos foi a promessa de retorno do chocolate da Turma da Mônica. Segundo Mauricio de Sousa, criador dos personagens, o retorno responde a um “clamor carinhoso e ininterrupto” dos saudosistas. O que ele não revela é quando o produto chegará ao mercado: “Ainda estamos discutindo detalhes e estratégias. O produto exige cuidados carinhosos”.
Outro cuidado das empresas é com a forma de adaptar a marca à realidade local, como relata Thiago Colares, diretor de Marca e Produto da Imaginarium, que trabalha com licenciamentos de Star Wars e Snoopy: “Isso passa pelo reforço de marcas por meio da associação”.
Pedro Curi, coordenador de Cinema e Audiovisual da ESPM Rio, ressalta que os produtos evoluem os fãs. “As grandes franquias midiáticas começam com força na década de 1980. As crianças daquela época cresceram, compram produtos que se relacionam com essas paixões antigas”, diz.
Para Renan, fã de verdade não tem medo de abrir a carteira em nome do “ídolo”. Ele desembolsou R$ 380 por uma estátua em resina do Batman. “Quem não é ligado a esse universo pode achar que sou maluco”, brinca.
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