Quando Marcelo Vicente foi para a China abrir uma trading de lentes de contato para despistar a competitividade do mercado brasileiro, em 2009, o primeiro cliente era do Chipre e as negociações via chat demoraram semanas. Hoje, a Paraná Lentes tem negócios em mais de 200 países; recebe, em média, 8 mil pedidos; e passa de 1 milhão de acessos no mês, nas duas frentes - .com e .com.br.
A empresa trabalha com marcas do mundo inteiro, além possuir a própria linha de lentes de contato, e apresentou, entre os meses de agosto de 2014 e de 2016, 2.000% de crescimento no número de acessos e 600% de alta no volume de vendas.
“Nós tínhamos experiência em e-commerce, com a frente nacional desde 2004, mas não quisemos entrar na guerra. Decidimos abrir para uma visão mundial e passamos a investir pesado em publicidade”, comenta Marcelo Vicente, fundador e CEO da empresa. Foram R$ 300 mil em anúncios, segundo o Vicente, investidos no Google, Youtube e Facebook.
“A ideia principal era aumentar o tráfego do site com usuários mais qualificados, ou seja, encontrar potenciais clientes nos canais e enviar anúncios certeiros para eles”, comenta Gustavo Hana, sócio-fundador da GhFly, agência de marketing digital da Paraná Lentes.
Outros pontos apontados por Hana foram melhorias no site, visando facilitar a chegada do cliente no carrinho de compras; inserção de sistema de tradução da página, para inglês e árabe (a empresa está ampliando com espanhol e francês); e atualização da identidade visual do site e da logomarca.
Para Marcelo Vicente, não há como internacionalizar uma empresa sem investimentos grandes em publicidade. “Não adianta querer fazer negócio em países em que não é conhecido. Até porque, lá fora, o cliente é mais chato. É difícil chegar a um patamar em que ele confie e compre tranquilamente”, explica o CEO. O cliente do Chipre, o primeiro a comprar com Marcelo, ainda compra com a Paraná Lentes e gasta por volta de R$ 100 mil todo mês.
Desafios
Apesar do acesso às tecnologias estar maior e mais barato, o desafio dos e-commerces em apostar em um mercado internacional é grande. Para Maurício Salvador, presidente da ABCOMM, é preciso começar de forma simples. “Quanto menos produtos e mais ferramentas globais, menor é o risco que a empresa corre”, aponta.
Ponto crucial para esse tipo de negócio, assim como a necessidade de ter um sistema de pagamentos universal (como pay pal ou cartão de crédito), se refere à logística. Além de carecer de um sistema de acompanhamento de pedidos, fazer parcerias com transportadoras ou empresas de entrega pode garantir menores custos.
“Nós estabelecemos um acordo com a Fedex, dos Estados Unidos, e o preço acaba ficando bem em conta pela quantidade de produtos que enviamos”, explica Marcelo Vicente, CEO da Paraná Lentes. Ele aponta que o maior problema que enfrenta são as fraudes no pagamento dos produtos. São R$ 30 mil investidos todo mês em uma empresa antifraude, que analisa os pedidos e libera as vendas. “O Brasil tem o maior índice de fraudes. Sem esse serviço, a empresa quebra”, garante.
Por outro lado, Gustavo Hana, da agência GhFly, reforça a necessidade da publicidade aliada à estudos para conhecer as características próprias da cultura dos países em que se pretende entrar. “Não adianta conseguir fazer a entrega, mas não conseguir se comunicar com esse público. É preciso regionalizar a comunicação”, comenta.
Já sobre a burocracia do negócio - apesar de ser a principal dificuldade apontada pelos e-commerces brasileiros em pesquisa realizada pelo SEBRAE, em junho - Gustavo afirma que “não é nada muito pior daquilo que o brasileiro está acostumado”.