Ana Brum, do CBD: trabalho para fazer o meio de campo entre empresas e designers.| Foto: Jonathan Campos/Gazeta do Povo

Uma metodologia desenvolvida no Paraná para aprimorar o design de produtos e serviços ganhou corpo e já chegou a empresas de vários estados. Criado pelo Centro Brasil Design (CBD), que tem sede em Curitiba, o modelo de trabalho foi impulsionado por um projeto em conjunto com a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil) que foi encerrado no primeiro semestre e que já tem uma segunda edição garantida.

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O programa Design Export permitiu que, nos últimos dois anos, 100 empresas de sete estados usassem o design como ferramenta para melhorar produtos, embalagens e serviços com o objetivo de aumentarem as exportações. O CBD usou sua metodologia para que esses negócios se aproximassem de escritórios de design. Sob supervisão, os empresários puderam expor suas necessidades e contaram com apoio do centro para orientar ideias e investimentos.

Uma medição feita pela Apex-Brasil com as 14 primeiras empresas que entraram no projeto mostra um aumento de 57% em suas exportações em 2014, na comparação com 2013. “Vimos que foram desenvolvidos produtos realmente muitos inovadores, além de melhorias em produtos, processos e serviços que já existiam, mas que ganharam competitividade”, conta Christiano Braga, gerente de exportação da Apex-Brasil.

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A experiência foi tão bem avaliada que deve crescer em sua segunda edição, que ainda está sendo planejada. Segundo Braga, a ideia é chegar a 200 empresas. O desenvolvimento da área de design na Apex é complementada por outro projeto, o Inova Embala, voltado para a criação de embalagens.

Estação de recarga de celular ganhou novo design, mais compacto e com manutenção mais simples, após intervenção de escritório de design. 

Metodologia

A atuação do CBD começou em 1999, quando a organização sem fins lucrativos foi criada com o objetivo de aproximar profissionais de design de empresas no Paraná. O primeiro grande projeto foi o Programa Criação Paraná, que em duas edições, em 2002 e 2005, auxiliou empresas paranaenses a desenvolverem produtos com desenhos inovadores. Na sequência, veio o Paraná Inovador pelo Design, uma parceria com o Fundo Paraná e a Secretaria de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior do Paraná (Seti).

Em seus projetos,o CBD promove encontros de empresas e as ajuda a identificarem demandas para serem trabalhadas. O centro auxilia as companhias a acharem um profissional ou escritório de design que possa desenvolver a ideia e ao final dá visibilidade aos resultados dos projetos.

Fazer esse “meio de campo” parece simples, mas muitas vezes exige transformar a cultura de uma empresa. “O design ainda é uma ferramenta pouco usada”, diz Ana Brum, diretora do CBD. “Percebemos que há resistência na contratação de um escritório de design. É uma lacuna que tentamos preencher atuando como ‘brokers’ para unir as duas pontas com menor risco e maior qualidade.” No Desgin Export, por exemplo, das 100 empresas participantes, 62 nunca haviam contratado esse tipo de serviço.

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Kit Evo oferece materiais cirúrgicos na sequência usada pelo dentista. 

Produtos

Um dos primeiros produtos do Design Export foi um kit usado em cirurgias de implantes dentários desenvolvido pela Signo Vinces, que tem sede em Campo Largo. Até entrar no programa, o kit da companhia era apresentado sem diferenciação em relação à concorrência. A colaboração entre a equipe da Signo e de um escritório de design levou à elaboração do Kit Evo, um estojo que organiza os materiais de acordo com a sequência da cirurgia. Detalhe: a um custo 43% menor do que o modelo anterior.

Em outro caso, uma empresa de Recife, a SiliconReef, criou uma estação abastecida por energia solar para carregar telefones celulares. Ela tinha a tecnologia, mas o totem original exigia um espaço grande para sua instalação e gasto alto em manutenção. Com um investimento de R$ 100 mil, foi criada uma nova estação, menor e com custo de produção mais baixo.

Prêmio iF

Há cinco anos o CBD representa no país o iF, maior prêmio do design mundial. O apoio às inscrições está dando resultado. Na última edição, o Brasil teve 43 projetos premiados e ficou entre os sete países com mais prêmios, à frente de Inglaterra e Dinamarca, por exemplo. As inscrições para o próximo prêmio, que tem o diferencial de reconhecer produtos que estão no mercado, estão abertas.

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Curitiba se articula para ter projeção global na área

O movimento de promoção do design em Curitiba rendeu à cidade sua inclusão na rede de cidades criativas da Unesco nesse segmento de trabalho. O conceito de cidades criativas descreve o surgimento de “ecossistemas” onde há a concentração de profissionais, atividade acadêmica e eventos em uma determinada área da economia criativa – aquela que gira em torno de serviços baseados no capital humano, como design, arquitetura, culinária e artes.

A construção da imagem de Curitiba foi apoiada por eventos como a Bienal de Design, realizada aqui em 2010, e a existência de uma concentração de escritórios e cursos. Atualmente, existem na cidade 49 cursos de design e 14 grupos de pesquisa na área. São quase 2,7 mil profissionais que já conquistaram quase 500 prêmios na última década.

Esses dados foram usados pelos representantes do setor para ganhar apoio da prefeitura, que se envolveu na candidatura ao título de cidade criativa. O setor público também apoiou a realização do 1º Fórum Internacional das Cidades Amigas do Design (FICAD), em novembro de 2014. O próximo passo para a projeção internacional é a candidatura de Curitiba ao título de Capital Mundial do Design em 2018 – o maior invento global na área e que a capital está tentando atrair. O setor também pede a criação do Programa Curitiba + Design, com parceria entre instituições púbicas e privadas para o cumprimento de metas pelos próximos 20 anos.