Mudar o mundo é um negócio em expansão. O setor de negócios sociais deve movimentar US$ 1 trilhão no mundo todo, nos próximos anos. No Brasil, pode chegar a R$ 50 bilhões. São produtos e serviços que ajudam a melhorar a vida das pessoas, em especial das camadas mais carentes da sociedade. Ao mesmo tempo em que trazem retorno financeiro para quem trabalha na área.
Meio caminho já foi trilhado para atingir esta cifra. A Força Tarefa de Finanças Sociais estima que os negócios da área social movimentaram R$ 13 bilhões, só em 2014, no Brasil. A chegada ao mercado da geração Millennial , com seu ideal de trabalhar em empresas com propósito, ajuda. Mas a formação de um ecossistema de negócios sociais deu um verdadeiro gás aos projetos.
Conheça a história de Michele de Souza, que transformou o sonho de ajudar as pessoas em negócio
Um bom termômetro é a busca pelo programa de aceleração da Artemísia, que chegou a 1,3 mil inscritos no ano passado (aumento de 640% em relação a 2011). Pioneira no setor, a Artemísia foi criada há 12 anos para fomentar os chamados “negócios de impacto social”. São empresas que aliam a mudança social à busca pelo lucro. Algo que se traduz no mantra: “entre mudar o mundo e ganhar dinheiro, fique com os dois”.
Confira três consultorias que estão com inscrições abertas para orientar novos negócios sociais
Conheça o Instituto Legado, polo de empreendedorismo social de Curitiba
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O perfil de quem busca a aceleração também mudou. No começo, eram boas ideias. Hoje, muitos empreendedores chegam com o produto já formatado, em busca de ajuda para ampliar seu espaço de mercado. Quase metade dos 91 negócios acelerados no período recebeu algum tipo de investimento, o que totaliza R$ 65,6 milhões. A maioria dos negócios acelerados (85%) permanece ativo. Na média, apenas 33% das startups brasileiras sobrevivem até o quinto ano de vida. segundo levantamento da Startup Farm.
Gerente de projetos da Artemísia, Paula Sato atribui o crescimento do setor à formação de um ecossistema. Inclui empreendedores com um novo propósito (”as pessoas estão buscando empreender em um negócio com propósito”). Intermediários, como a própria aceleradora. E investidores, que podem ser desde os chamados investidores-anjo; até fundos de investimento comuns, que colocam grana esperando um retorno financeiro lá na frente.
Além disso, surgem fundos para negócios de impacto, como o Vox Capital, que mensuram tanto o retorno financeiro quanto social do negócio.
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Como surgiram os negócios sociais
O termo “negócios sociais” ganhou fama com o Nobel da Paz Muhammad Yunus. Em 1976, ele emprestou US$ 27 para um grupo de mulheres – que viviam abaixo da linha da pobreza – começarem seu próprio negócio, em Bangladesh. Assim surgiu o microcrédito, e a ideia de que comunidades pobres podem resolver seus próprios problemas quando têm acesso a oportunidades de negócio.
De lá para cá, a filosofia de Yunus ganhou ramificações. Um braço é a parceria com grandes empresas, como a que deu origem a um iogurte que ajuda a combater os altos índices de desnutrição, também em Bangladesh. O Grameen Danone Foods é um negócio social dentro da gigante da alimentação Danone.
Um diferencial da filosofia do professor é que todo lucro deve ser reinvestido no negócio. Não é voluntariado. Quem trabalha nas empresas pode – e deve – ser remunerado, já que elas devem ser sustentáveis economicamente. Mas o que sobre deve ser investido para “maximizar o impacto social e ambiental” do produto, explica Nastássia Romanó, gestora da Yunus Negócios Sociais Brasil no estado do Paraná.
A ideia não é competir com o outro modelo, do impacto social, explica Nastássia. Afinal, tem espaço para todo mundo. Os negócios sociais que distribuem o lucro para acionistas podem ter maior apelo com fundos de investimentos tradicionais, por exemplo. Já o modelo de Yunus pode atrair grana da filantropia. Que é alta. Do dinheiro gasto com a área social, no Brasil, menos de 3% é para negócios.
Um exemplo é do pernambucano Caio Guimarães, que desenvolveu um laser que evitar amputação a amputação de quem tem “pé diabético” em um laboratório que reúne pesquisadores de Harvard e do MIT, nos EUA.
Recebeu propostas para desenvolver o produto por lá, mas quis voltar. Aqui, decidiu que a melhor forma de lançar sua startup BeOne era como um negócio social. Recebeu investimento da Yunus Brasil, e hoje está em fase de validação do produto.
Empreender e mudar o mundo: um sonho de adolescência
Desde os 14 anos, Michele de Souza tinha planos de montar um negócio que melhorasse a vida das pessoas. Quando foi ao mercado, trabalhar como bioengenheira, viu um furo: não havia quem produzisse tecnologia de ponta de ponta para pessoas amputadas com foco na baixa renda.
Foram seis anos, de 2010 para cá, para lançar a Cycor de vez no mercado. Tempo montar um plano de negócio e captar recursos (boa parte vem da própria Michele, que continuou trabalhando com consultoria em biotecnologia).
São dois produtos principais, para humanos. A prótese de mão sai por R$ 3,9 mil (contra R$ 6 mil da média do mercado, conta Michele). Já o exoesqueleto fica em torno de R$ 30 mil (”o preço de um carro popular”). É o único fabricado na América Latina que pode ser comercializado para o grande público. Modelos similares não saem por menos de R$ 200 mil.
A empresária conta que negou uma proposta de R$ 6 milhões para vender o projeto para uma empresa que queria cobrar R$ 300 mil na versão mais simples do exoesqueleto.
O preço baixo não é uma mera vantagem competitiva. É um modelo de negócio. “Ao invés de colocar um preço alto na inovação, a gente usa a inovação para diminuir o preço. É o contrário [das] outras empresas [que] lançam uma inovação no mercado e agregam valor a isso”.
No processo de aceleração da Artemísia, a Cycor contou com a consultoria do Boston Consulting Group (BCG), que estimou um vácuo de mercado de 60% para os produtos da empresa. Em janeiro deste ano , a Cycor entrou em uma nova fase, de foco em vendas.
A previsão é de chegar a 2018 com um giro de R$ 4 milhões ao ano, considerando o cenário mais conservador. Podendo chegar a mais, caso recebe autorização da Anvisa para produzir em série, por exemplo.
Inscrições abertas para acelerar seu negócio social
Quem tem um projeto de negócio social (seja ele de impacto ou não) e tem dúvidas sobre quais devem ser seus próximos passos, pode buscar parcerias. Confira inscrições em aberto:
Artemisia
Inscrições abertas para empreendedores de negócios de impacto social inovadores, com expertise no setor no qual atuam e interessados em oferecer produtos e serviços escaláveis para a população de baixa renda. A sede da aceleradora fica em São Paulo, mas a busca é por negócios do país todo.
Prazo: até 13 de março de 2017
Inscrição: www.artemisia.org.br
Selecionados: serão selecionados até 12 empreendedores
Projeto Legado
Com foco em Curitiba e região, o Projeto Legado está com inscrições abertas para iniciativas com finalidade social e/ou ambiental. Podem ser tanto negócios de impacto social como organizações da sociedade civil.
Prazo: até 15 de março de 2017.
Inscrições: www.institutolegado.org/pl17
Resultado: março de 20147
Selecionados: serão selecionadas 40 iniciativas para participar de um programa de capacitação e liderança.
Yunus Negócios Sociais Brasil
Não faz um projeto seletivo único, mas prospecção permanente de negócios sociais. Funciona como uma consultoria, que trabalha tanto com ações de mentoria quanto de financiamento (cujo dinheiro é captado em nível internacional, por meio do Yunus Negócios Sociais presente nos países)
Mais informações: https://www.yunusnegociossociais.com/
Em Curitiba, Instituto Legado é polo de empreendedorismo social
Criado em 2011, o Instituto Legado é um dos eixos da criação de um ecossistema de negócios sociais, em Curitiba. A instituição trabalha com empreendedorismo social de maneira mais ampla, abrangendo desde ONGs e entidades filantrópicas até projetos sociais dentro de grandes empresas.
O principal eixo de trabalho é o Projeto Legado, que vai para sua 5.ª turma e acelera tanto organizações da sociedade civil como negócios de impacto. Um exemplo é a Badu Design, que utiliza resíduo têxtil da indústria da moda para trabalhar o empoderamento e geração de renda com mulheres carentes.
Após a aceleração, a startup saltou de 5 para 51 mulheres atendidas. E hoje desenvolve um modelo de micro-franquias, para ganhar escala. A ideia inicial é expandir para polos têxteis do interior do estado, como Maringá e Cianorte, e depois para o restante do Brasil.
Em 2015, o Legado participou da criação da pós-graduação em Empreendedorismo e Negócios Digitais da FAE Business School. O curso vai para sua segunda turma, em 2017. Outra iniciativa do instituo é a criação de um “socialworking”, um coworking para a área social.
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