A combinação de fatores negativos para o giro da economia complica um pouco mais uma atividade já bastante arriscada no país. A queda na renda e no consumo provocadas pelo aumento do desemprego, a alta de custos aliada ao arrocho tributário e níveis rasteiros de confiança do empresariado brasileiro compõem um quadro desafiador para o empreendedorismo nacional. Quem insiste em abrir um negócio em um ambiente econômico turbulento precisa redobrar cuidados para reduzir riscos e melhorar a pontaria ao fazer um investimento que, não raro, representa a saída para manter-se economicamente ativo.
A crise, porém, não deve – nem pode – paralisar completamente a economia. É justamente a resiliência e a persistência do empreendedor que vão ajudar a rodar novos negócios, estimulando a reação de que o país precisa para voltar a crescer. Mas os ajustes têm sido inevitáveis. Operações mais enxutas e estruturadas têm melhor desempenho em um cenário arisco. “Com vendas em queda, a rentabilidade vai surgir nos ajustes finos das empresas, em redução de custos e melhoria de processos”, aponta a consultora Claudia Bittencourt, do Grupo Bittencourt, de São Paulo.
Em 2016, a relação custo x benefício será a grande vedete da economia brasileira. A análise vale para todas as pontas da cadeia, do fornecedor ao consumidor. Com menor poder aquisitivo, o cliente vai exigir mais entrega por melhores preços. Nessa situação, ganha quem puder oferecer mais por menos. Em áreas distintas, negócios que apostem na conveniência do cliente ou que interfiram na sua geração de renda têm potencial de bons resultados. “As oportunidades serão maiores em setores mais específicos, como representações, franquias individuais, marketplace de serviços, em versões mais baratas do que já existe”, aposta o professor de empreendedorismo do Insper, Marcelo Nakagawa.
Com menos oportunidades de emprego, empreender na crise é uma saída para melhorar a renda, usar a experiência para fazer o que gosta. Mas é preciso mais cuidado para reduzir riscos ao tornar o projeto real.
Para reduzir o risco de perder dinheiro, muitas vezes oriundo de rescisões de contratos de trabalho, as apostas devem ser feitas em segmentos já dominados pelo investidor. Deter a expertise do negócio é uma das orientações para novos empreendedores. “Outra dica é realizar testes de mercado com o menor custo possível para atender demandas relevantes com propostas inovadoras”, diz Mariana Foresti, da rede de apoio Endeavor no Paraná.
A capacitação e a rede de relacionamentos são importantes na atividade empreendedora. Além de dividir experiências, o network amplia a troca de soluções criativas para problemas que são comuns na gestão das empresas. Investir em conhecimento ainda pode evitar a deterioração do empreendedorismo, facilmente contaminado pela informalidade quando estimulado pela necessidade e não pela oportunidade. “A capacitação profissionaliza o empreendedor, dando mais condições de tomada de decisões”, observa Nakagawa.
Casal investe em negócio próprio e aposta em um novo filão em meio à crise
Abrir um negócio em plena crise parece um ato insano. Sair do emprego, reunir economias e energia para a empreitada, soa ainda mais assustador. Não para a dupla Elton Nascimento e Camila Kruger, de Curitiba.
Namorados, o chef de cozinha e a nutricionista estão prestes a inaugurar o ToGo Fit, serviço de entrega de comida saudável congelada, depois de um ano e meio de maturação do projeto.
Nascimento e Camila identificaram o filão ao observar a monotonia da dieta de atletas e esportistas. A proposta é oferecer alimentação saudável, funcional, nutritiva e equilibrada, com um toque gourmet. A experiência profissional dos empreendedores ajudou na construção de cardápios e os primeiros testes de mercado foram positivos.
Susto inicial
A dupla chegou a recuar quando percebeu que não poderia bancar todo o investimento necessário para a operação. “Mantivemos os planos, mas tiramos o pé do acelerador para guardar dinheiro e evitar dívidas”, conta o chef. Enquanto reunia os R$ 40 mil de que precisava, Nascimento intensificou as pesquisas. Estudou a concorrência e a clientela, afinou a planilha de custos e desenhou o plano de negócios, sob orientação do Sebrae.
Foi durante esse processo que descobriu o lado bom da crise. “Consegui boas negociações no aluguel do imóvel e na compra de equipamentos. O momento econômico é complicado, mas ninguém vai deixar de comer. Com comida boa e preço justo, temos grandes chances de atravessar o período”, aposta.
Veja seis passos para empreender
Perfil
Aptidões e qualidades do empreendedor são importantes, mas os pontos fracos também devem ser levantados. Importante avaliar o nível de conhecimento e expertise sobre a área em que se pretende investir.
Ideias
Listar as propostas de negócios que mais se alinham ao perfil e cruzar essas áreas com as necessidades de mercado. Clientela disponível é indispensável para bons resultados.
Mapeamento
O ponto de instalação da empresa pode ser determinante para o sucesso. Boas oportunidades podem minguar em regiões saturadas. Vale observar a concorrência e os modelos de negócios disponíveis para buscar diferenciais no mercado.
Recursos
O valor do investimento determina o tamanho do negócio. Avaliar custos será essencial para buscar linhas de crédito mais baratas, dedicadas ao fomento da atividade empreendedora.
Conhecimento
Pesquisar sobre fornecedores, distribuição, produção e finanças vai ser importante para validar as próprias estratégias. Aqui vale leitura especializada sobre os segmentos desejados e atenção os modismos, que ampliam o risco.
Plano
O plano de negócios formaliza os estudos que vão orientar investimentos, as fases de consolidação e o ritmo de desenvolvimento do empreendimento. Clareia caminhos e reduz imprevistos que possam comprometer a perenidade da empresa.