Fabiana Montalvão e Gustavo Krelling: pés no chão para fazer a Tutu Sapatilhas crescer| Foto: Ivonaldo Alexandre/ Gazeta do Povo

Receita de longevidade

Um passo de cada vez ajuda a crescer de forma sustentável

Escalonar o desenvolvimento da empresa é uma das regras para manter a sua longevidade. No segmento dos únicos, isso é essencial para manter o equilíbrio do pós-lançamento. Os sócios da Tutu Ateliê de Sapatilhas, Fabiana Montalvão e Gustavo Krelling, estão bem conscientes de que o crescimento exige cautela. A empresa, aberta em 2011, é especializada em sapatilhas feitas à mão. Foram dois anos de preparo antes de lançar a marca para desenvolver o produto de acordo com o que Fabiana, design de calçados, imaginou no início, quando buscava uma alternativa elegante e confortável. "Criamos um produto de padrão exclusivo: solado flexível, forro interno e artesanal. Ela é durável, confortável e com preço justo", conta. O que era apenas para ser vendido na internet ganhou uma loja física na capital, em 2012. A carteira de clientes também aumentou: são 6 mil cadastros, de todo o país. Para manter o ritmo de vendas e garantir uma taxa de recompra de 70%, a Tutu tem lançamentos periódicos.

A estratégia de marketing garantiu um crescimento muito superior ao projetado pelo setor calçadista para o ano, que é de 1,1%, de acordo com dados do Instituto de Estudos e Marketing Industrial (IEMI). Só entre os primeiros semestres de 2013 e 2014, a Tutu registrou 39% de alta nas vendas na única loja. No comércio eletrônico, o desempenho foi ainda melhor, de 50%. "No início do ano, fizemos ajustes no site, para melhor navegação. Investimos também na comunicação com a clientela, desenvolvida de acordo com o perfil", conta Krelling. Hoje, a Tutu tem capacidade para vender 800 pares por mês, produzidos por fornecedores gaúchos. A expansão está no radar dos sócios. "O plano é manter o ritmo de 50% de crescimento por ano, mas de forma sustentável. Franquias e filiais, somente quando tivermos capacidade de produção em escala", sustenta Krelling.

CARREGANDO :)

Nos últimos anos, o sufixo "ia", no sentido de "lugar" ou "terra de", tem sido quase tão popular em nomes de empresas – cupcakeria, brigaderia, esmalteria, iogurteria – quanto os indicativos de formação societária, os tradicionais S/A ou Ltda. O recurso ajuda a identificar a proposta do negócio, de aposta em produtos únicos, em muitos casos, surpreendentes pela simplicidade da ideia.

"O perfil desbravador dos jovens empreendedores contribuiu muito para essa tendência de transformar produtos corriqueiros em novas empresas. É muito comum, diante de uma loja de bolos caseiros, alguém se perguntar: ‘como isso poderia virar um negócio?’", observa a consultora do Sebrae-PR, Walderes Bello.

Publicidade

A disposição para testar formatos empresariais inovadores e a facilidade de acesso a informações e pesquisas de mercado ajudam a fomentar a cultura empreendedora do brasileiro, que é mais disposto ao risco. Além disso, atrás de uma proposta inovadora, sempre vai haver a cópia da ideia, o que leva o negócio novo ao tradicional circuito de concorrência. "A questão é que, seja para vender apenas um produto ou mil, é preciso avaliar as possibilidades de sucesso, em um planejamento detalhado", diz.

Foco no lançamento

A segmentação do negócio do produto único é o ponto de partida para projetar suas chances de sucesso. Além do planejamento exigido para qualquer perfil de empresa, nas altamente segmentadas é preciso ainda mais atenção com a estratégia de lançamento, para garantir fôlego, superar a fase da novidade e manter o interesse do público. Sempre há o risco de o empreendedor se entusiasmar com o sucesso da ideia inovadora, investir em expansão e crescimento, e terminar frustrado quando a novidade acaba e ele ganha muitos concorrentes.

Sócia da Esmalteria Curi­tiba, a jornalista Marisol Vieira encarou o desafio do produto único junto com a mãe. Inspirada em negócios semelhantes no mercado europeu, a dupla optou por um projeto divertido e, até então, inédito em Curitiba. Em meados de 2012, a família experiente na área comercial com representação de materiais escolar e de escritório abriu a primeira loja da marca no bairro Portão.

A novidade atraiu consumidoras curiosas, interessadas em mais de 40 rótulos de esmaltes nacionais e importados. Em dois anos, a empresa abriu quatro unidades próprias e hoje tem faturamento médio mensal de R$ 160 mil. O modelo foi copiado rapidamente. "A saturação do mercado reduziu o movimento", diz Marisol.

Publicidade

Depois de iniciado o negócio, a empreendedora buscou orientação no Sebrae. "É muito complicado começar sem capacitação. Errar custa caro", diz. Marisol ainda precisa do suporte da empresa da família para garantir o capital de giro da esmalteria. E está atenta às novidades do seu segmento. "Pulverizamos os fornecedores e buscamos lançamentos de produtos correlatos, como kits de unhas de porcelana, decoração e fortalecedores. Em breve vamos oferecer serviço de manicure", conta.