Exemplo
"Quando quitar o empréstimo, contrato outro", diz costureira
A cada nova operação realizada no estado, aos poucos a cultura da garantidora é difundida entre os pequenos empresários. É o caso da costureira Leonir Rodrigues Leopoldino de Morais, de Nova Esperança, na região de Maringá. Ela precisava comprar uma máquina de bordar para a sua empresa, já que muitos clientes preferiam esse modelo à pintura, e teve dificuldades para conseguir alguma linha em bancos. "Foi quando eu fui à Noroeste Garantias e consegui com a ajuda deles um financiamento de R$ 10 mil, com juros menores que do mercado. Financiei em 36 vezes e assim que quitar o empréstimo devo contratar mais crédito para seguir crescendo", conta.
Uma Sociedade Garantidora de Crédito funciona como um site de compra coletiva para aqueles empresários que não têm como apresentar garantias a bancos na hora de tomar crédito. A garantidora reúne a demanda dos empresários da região e apresenta à instituição bancária a quantia total solicitada. Com um bolo maior, a garantidora consegue negociar taxas menores para beneficiar a todos.
As SGCs têm caráter privado e são essencialmente formadas por empresas. Elas não realizam empréstimos: as garantidoras avalizam as operações de crédito entre associados e instituições financeiras.
Para se tornar um associado, os empresários pagam, em geral, uma taxa de adesão, que é quitada conforme vai se tomando os financiamentos, além de um porcentual sobre o valor emprestado cada garantidora tem autonomia para definir suas regras.
Vantagens
Quando uma negativa não fecha portas
Mais que acesso ao crédito, pequenos empresários muitas vezes precisam de uma mãozinha na condução de seu negócio. Por isso, as garantidoras ressaltam que trabalham com o crédito orientado: quando o associado recebe um não, é diretamente encaminhado para receber consultorias para melhor gerir sua empresa.
Uma das dificuldades mais comuns entre os empresários é conseguir comprovar o faturamento da empresa para mostrar capacidade de pagamento aos bancos. "O crédito, em muitas vezes, pode ser a declaração do fim da empresa. O financiamento não é a única finalidade da garantidora", explica José Divonsil da Silva, presidente da SGC Centro-sul, que atua em fase pré-operacional na região de Guarapuava.
Essa postura das entidades aparece na taxa de convergência dos financiamentos: a cada três garantias solicitadas por empresários em todo o país, uma é negada. "Há alguns que pedem crédito tarde demais e que já estão com a capacidade de pagamento comprometida, e outros que buscam taxas menores das que estão pagando. Separamos os empresários para que consigamos oferecer garantias a quem mais precisa", diz Ilson Rezende, presidente da Noroeste Garantias, para quem o filtro tem de ser mesmo rigoroso.
As garantidoras paranaenses devem avalizar, até 2017, metade do que será financiado a micro e pequenos empresários que não conseguem garantias na hora de tomar um empréstimo junto a uma instituição bancária. Dos R$ 500 milhões previstos para serem financiados em todo o país, R$ 250 milhões devem chegar a mão de pequenos negócios do Paraná por meio do aval das garantidoras.
INFOGRÁFICO: Garantidoras brasileiras já ajudaram a financiar R$ 41 milhões a pequenos empresários
À frente dos outros estados em quantidade de garantidoras, o Paraná concentra hoje três das cinco entidades em operação e em dois anos terá outras três em funcionamento o estado será o primeiro do país a estar com todas as regiões cobertas pelas garantidoras. No Brasil existem cinco Sociedades Garantidoras de Crédito (SGCs) em operação, três delas no estado: Noroeste Garantias, em Maringá; Garantioeste, em Toledo; e Garantisudoeste, em Francisco Beltrão.
Até o fim do ano micro e pequenos empresários das regiões de Londrina e Guarapuava devem começar a ser avalizados pelas SGCs são essas cinco que devem operar, juntas, R$ 250 milhões no estado. Curitiba deve ganhar a sua garantidora até 2017. No momento, a entidade na capital está em fase de elaboração do plano de negócios.
Cooperativismo
Apesar de não estar na vanguarda na implantação do modelo no país o Rio Grande do Sul teve a sua primeira SGC em 2003, em Caxias do Sul , o Paraná, que a partir de 2011 começou com a operação, já se destaca em alguns indicadores. A Garantioeste, de Toledo, é a entidade com o maior número de associados. Até o primeiro semestre, 617 empresários estavam associados à Garantioeste, contra 559 da gaúcha Garantiserra, que já opera há dez anos. No Paraná, 719 pequenos empresários estão associados a uma das três garantidoras.
Uma das explicações para o engajamento de associados tanto na região Oeste quanto no restante do Paraná é o modelo cooperativista adotado em várias partes do estado. Pequenos empresários paranaenses já têm por costume se associar para dar mais competitividade a sua produção. "Temos quase metade dos associados de todo o país aqui na região. O sistema associativista é muito forte no estado e as associações comerciais se tornaram grandes parceiras das garantidora", explica Augusto Sperotto, presidente do conselho administrativo da Garantioeste.
Em 2008 o Sebrae, principal promotor das SGCs no Brasil, realizou uma chamada pública para mobilizar interessados no modelo, que atraiu a atenção de lideranças paranaenses. "Com a operação em Curitiba, devemos cobrir o estado, e com isso vamos dando cara de sistema às SGCs paranaenses. O principal objetivo é que os pequenos empresários vejam a garantidora como a porta de entrada dos bancos", explica Flavio Locatelli Jr, coordenador estadual de acesso a serviços financeiros do Sebrae-PR.
Comportamento
"Risco moral" quase zera inadimplência
Como ficar devendo a um amigo? É dessa premissa de "risco moral" que se valem as garantidoras. As operações são feitas entre associados que sabem que ao atrasar o pagamento vão sujar o nome e prejudicar outros empresários da região. Assim como qualquer operação de crédito, entretanto, problemas existem. Na Noroeste Garantias, a inadimplência é de 2,5%, segundo o presidente Ilson Rezende. Para diminuir esse índice é preciso aumentar o filtro dos avais e a entidade é uma das que mais aperta o funil: a cada cinco pedidos, três são negados. "Um dos grandes problemas é a dificuldade do pequeno empresário em entender o que a empresa realmente precisa", explica Rezende.
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