O momento não poderia ter sido mais adequado. Para sair da crise em 2009, o mercado americano buscava oportunidades de investimento fora do país. E o Brasil estava na mira. "Entre os Brics [Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul], tínhamos a melhor perspectiva para atrair novos negócios. Mas faltava relevância no nosso empreendedorismo digital, apesar de termos um grande talento na área. E foi nesse canal que apostamos", explica a fundadora da Brazil Innovators, Bedy Yang.
A organização faz a ponte entre os empreendedores brasileiros e o ambiente de inovação do Vale do Silício, na Califórnia. Por meio de programas de capacitação, eventos e missões de negócios, a Brazil Innovators avalia os resultados positivos alcançados em cinco anos de atividade. "Em um período relativamente curto, estamos contribuindo para o amadurecimento do empreendedor local, desde a comunicação dele com investidores até o crescimento como negócio", explica o CEO André Monteiro.
Entre as ações está o TechMission, que promove a imersão de empreendedores selecionados após uma intensa capacitação para conhecer o Vale do Silício e buscar investidores lá fora. Já foram realizadas quatro missões. No balanço das três primeiras, 80% das empresas participantes receberam alguma fatia dos R$ 36 milhões captados em investimentos. Além de alavancar seus próprios negócios, os empreendedores tornam-se fellows (companheiros), que estabelecem uma relação de longo prazo com a organização, comprometendo-se a reproduzir e replicar aqui no Brasil as experiências que viveram no Vale do Silício. "Essa disseminação da cultura é o principal objetivo do trabalho da Brasil Innovators. O mais importante é que o Brasil consiga criar seu próprio ambiente de inovação, daqui pra frente", avalia Bedy.
Desafios
Os bons resultados alcançados até agora não diminuem o desafio que ainda há pela frente para estabelecer o nível adequado de maturidade no segmento. Para Monteiro, é preciso instigar ainda mais o investidor brasileiro, que começa a tomar conhecimento do modelo de negócio inovador que as startups propõem, mas ainda tem pouco apetite ao risco. "Aqui, primeiro a empresa precisa demonstrar rentabilidade para conseguir recursos. No Vale do Silício, a aposta é mais agressiva. Investe-se para ver como a empresa roda, e tudo é avaliado ao mesmo tempo, do negócio ao perfil do empreendedor", diz.
Outra questão importante é alinhar as expectativas. O crescimento das startups em todo o mundo pode criar a ideia de que o modelo de negócio é infalível. "Quase todos os empreendedores de sucesso quebraram muitas vezes antes de acertar", diz Monteiro. Em média, 25% das 800 empresas que os fundos de investimentos de que Bedy participa registram algum sucesso. E dessas, só um quarto tem desempenho excepcional.