Brasília - Após seis meses seguidos de tímida recuperação, os números do mercado de trabalho formal em agosto, divulgados ontem pelo Ministério do Trabalho, surpreenderam e mostraram recorde da série histórica, iniciada há 17 anos. Mas, mesmo com os 242.126 empregos criados, o saldo de postos com carteira assinada desde novembro do ano passado, quando a crise global se agravou, mostra uma perda de 15.736 vagas no país.
Pela primeira vez desde o estouro da crise no Brasil, a indústria demonstrou vigor nas contratações. Em agosto, o setor gerou três vezes mais vagas do que em julho, alcançando saldo líquido de 66.564 postos de trabalho. O emprego industrial foi o mais afetado pela turbulência na economia, e o resultado acumulado pelo setor no ano ainda é negativo. "O resultado superou todas as expectativas. Os números foram positivos em todas as unidades da federação e em praticamente todos os macrossetores, com exceção da agricultura. Estamos no caminho de gerar mais de 1 milhão de empregos neste ano", afirmou o ministro do Trabalho, Carlos Lupi.
O Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) é um levantamento realizado mensalmente pelo Ministério do Trabalho a partir de informações das empresas. O cadastro existe desde 1992 e reúne todos os registros de contratações e demissões no setor formal exceto domésticos, trabalhadores temporários e servidores públicos.
No acumulado do ano, o Caged registra a geração de 680.034 postos. No período crítico da crise (entre novembro e janeiro), o mercado formal fechou 797.515 vagas.
Na avaliação de Lupi, o desempenho do mercado de trabalho neste mês superará o verificado em agosto. Ele reafirmou que o comportamento do emprego no segundo semestre de 2009 será similar ao do primeiro semestre do ano passado, quando houve forte geração de vagas formais.
Para o economista Bernardo Wjuniski, da consultoria Tendências, o raciocínio do ministro é coerente. "A tendência é de trajetória positiva para a atividade econômica e para o emprego. Mas é preciso olhar com cautela os números", afirma o economista.
Segundo ele, enquanto no primeiro período de 2008 o crescimento era sinônimo de expansão da economia e da oferta de emprego, no último semestre de 2009, a perspectiva é diferente. "Estamos agora recuperando uma capacidade ociosa. As taxas de crescimento vão ser parecidas. Mas isso é recuperação e não expansão", disse Wjuniski.
Teste
Na análise do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), os números de agosto indicam que o mercado voltou a apresentar padrão semelhante ao registrado antes da crise. O instituto destaca que, em meses anteriores, havia sinais de uma "melhora gradativa", mas somente em agosto o volume de contratações líquidas superou o saldo de agosto do ano passado.