Com o fraco desempenho da produção e sem perspectiva de retomada da demanda, as indústrias cortaram em 6,2% o número de pessoas ocupadas no setor em 2015, segundo dados divulgados pelo IBGE nesta quinta-feira (18).
Foi o ritmo mais intenso de demissões da história da Pimes (Pesquisa Industrial Mensal Emprego e Salário), que tem registros anuais desde 2002. E assim permanecerá, já que a pesquisa foi descontinuada. Esta é a última divulgação.
Os fabricantes de meios de transportes (como carros, aviões e barcos) foram os principais responsáveis pelo recuo do emprego no ano passado. O pessoal ocupado nessa atividade teve uma recuo de 11,4% em 2015.
Para tentar ajustar o tamanho dos estoques, as montadoras promoveram férias coletivas, lay-offs (suspensão do contrato de trabalho) e finalmente demissões no ano passado. O movimento permanece em 2016.
Mas o corte de pessoal se deu de forma disseminada na indústria em 2015. Todos os 18 ramos acompanhados pelo IBGE mais demitiram do que contrataram ao longo do ano passado.
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Leia a matéria completaIsso afetou setores tão variados como maquinas e aparelhos eletroeletrônicos (-13,9%), produtos de metal (-10,7%), máquinas e equipamentos (-8,3%) e alimentos e bebidas (-2,2%). Foram essas as contribuições mais relevantes.
Vale lembra que, para a pesquisa, o IBGE não divulga o número de trabalhadores. Segundo dados do Ministério do Trabalho, o setor fechou 608 mil postos de emprego formais ao longo do ano passado.
Horas pagas
Um indicador preocupante da pesquisa é que os empresários cortaram no ano passado o número de horas pagas aos trabalhadores. É um sinal de demanda fraca e ociosidade.
Em 2015, o número de horas pagas aos trabalhadores da indústria recuou 6,7%. Trata-se, mais uma vez, do pior resultado de toda a série histórica da pesquisa do IBGE. Todos os 18 setores registraram queda no indicador.
Isso é ruim porque, se houver uma retomada da indústria, há espaço para aumentar o número de horas pagas aos trabalhadores já empregados antes de contratar mais gente para o chão da fábrica.
Já a folha de pagamento real dos trabalhadores da indústria teve uma queda de 7,9% em 2015, na comparação com o ano anterior. De novo, a maior queda da série histórica.
Como os salários pagos e a formalização do trabalho na indústria são maiores que em outras atividades, a perda de empregos no setor contribui para um desempenho ainda pior da economia neste ano.
Desindustrialização
Com o resultado de 2015, a pesquisa do IBGE despede-se registrando o menor nível de emprego de sua série histórica, iniciada em dezembro de 2000 especificamente neste indicador. A indústria nunca empregou tão pouco desde então.
Produção de motos caiu 37,8% em janeiro
A produção de motocicletas no Brasil alcançou 75.959 unidades em janeiro deste ano, queda de 37,8% em relação às 122.063 unidades produzidas em igual mês do ano passado.
Leia a matéria completaO desemprego no setor é um dos sintomas da desindustrialização em curso no país nos últimos anos, segundo Rafael Cagnin, economista-chefe do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial).
Outro sintoma seria o declínio na participação do setor no PIB (Produto Interno Bruto). A parcela recuou de 46,3% em 1989 para 26,5% do PIB em 2000. No primeiro semestre de 2015, chegou a 21,9% do PIB.
A perda de participação da indústria na economia vem, portanto, de longa data. Ela começa na abertura da economia brasileira para a importação, nos anos 90, e passa pelo câmbio valorizado, o que reduziu competitividade.
“A crise interna pegou o setor que estava mal e aprofundou as perdas. A exportação seria uma alternativa, com o câmbio, mas todos os países estão buscando essa saída. E não somos o mais competitivos entre eles”, disse Cagnin.
Dezembro
Isoladamente no mês, o emprego na indústria teve uma queda de 0,6% na passagem de novembro para dezembro. Isso significa que o setor mais demitiu do que contratou em cada um dos 12 meses do ano passado.
Frente ao mesmo mês do ano anterior, a queda foi de 7,9%. Neste tipo de comparação, foi o 51º mês consecutivo de demissões, o que representa mais de quatro anos de cortes de empregos. Foi também a maior queda da série da pesquisa.
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