• Carregando...
Madeireira em Palmas, Sul do estado: setor é um dos que mais reduziram a força de trabalho. | Valterci Santos/Gazeta do Povo
Madeireira em Palmas, Sul do estado: setor é um dos que mais reduziram a força de trabalho.| Foto: Valterci Santos/Gazeta do Povo

Empresários dizem que ainda há ajustes a fazer

Apesar do forte ajuste feito no fim do ano passado, o setor industrial ainda não fez todos os enxugamentos necessários no seu quadro de trabalhadores para enfrentar a crise. Mais de um terço das empresas pretende fazer novas demissões e suspender serviços terceirizados, segundo uma consulta realizada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), no início de março, com 431 companhias do setor.

Os ajustes seriam necessários porque os empresários acreditam que os efeitos da turbulência econômica estão mais fortes no primeiro trimestre deste ano do que em dezembro de 2008. Para 79% dos entrevistados, os impactos da crise sobre a economia aumentaram enquanto que 55% avaliam que impactos sobre sua empresa estão maiores.

"Há uma indicação de que vamos continuar a desaceleração econômica. O primeiro trimestre de 2009 certamente será negativo em relação ao primeiro trimestre de 2008. Mas não está claro se haverá uma queda em relação ao quarto trimestre de 2008", afirmou o presidente da CNI, Armando Monteiro Neto.

Segundo o levantamento, 80% das empresas adotaram alguma ação em relação a seus trabalhadores em função da crise. Em 54% delas houve demissão de funcionários ou a suspensão de serviços terceirizados. Além disso, 53% suspenderam as contratações planejadas, 32% concederam férias coletivas, 27% adotaram banco de horas e 9% reduziram a jornada de trabalho e salários.

Para 41% das empresas, os ajustes já estão completos. Mas as demais responderam que devem adotar novas medidas. Desse grupo, 36% pretendem demitir ou suspender serviços terceirizados. Outros 24% disseram que pretendem reduzir jornada de trabalho ou de salários, e 22% afirmaram que devem suspender as contratações planejadas. Apenas 13% preveem a abertura de novas vagas.

Na avaliação de Monteiro Neto, no entanto, o ajuste mais intenso no mercado de trabalho já ocorreu. "As empresas estão agora trabalhando de forma mais ajustada ao novo nível de demanda. Por isso, não é previsível um processo de ajuste mais forte na questão do emprego", afirmou.

Agência Estado

  • Taxa de ocupaçao de postos de trabalho no Paraná

O número de pessoas empregadas pela indústria paranaense encolheu 4,5% em janeiro, na comparação com o mesmo mês de 2008. A queda no nível de emprego industrial, calculado pelo IBGE, foi maior do que a média nacional – uma retração de 2,5%, a maior já vista na série histórica iniciada em 2001. Em relação a dezembro, índice do país caiu 1,3%, o quarto recuo consecutivo.

O resultado do Paraná foi puxado principalmente pelas demissões de três setores: madeireiro, com 24,1% menos postos de trabalho, vestuário (-17,1%), e o setor de calçados e couro (-12,9%). Na outra ponta, ajudaram a equilibrar a balança os setores de refino de petróleo e alcooleiro, com expansão de 51,1% no número de empregados, seguido pela indústria do fumo (32,4%), e a de máquinas e equipamentos elétricos e eletrônicos (11,8%).

O índice nacional acumulado em 12 meses mostra uma desaceleração contínua, em queda desde agosto do ano passado, quando marcava uma expansão de 3%. O resultado de janeiro caiu à metade, para 1,6%, e indica uma tendência preocupante para o setor. É o menor patamar desde setembro de 2007 (1,5%). No caso do Paraná, o índice acumulado de emprego industrial em janeiro praticamente empatou com o registrado em janeiro de 2008, com incremento de 0,4%.

Ainda de acordo com o IBGE, desde a intensificação da crise financeira, em setembro passado, o indicador de emprego na indústria nacional acumula queda de 3,9%. Esse resultado mostra o impacto de outro recorde recente, a queda da produção industrial, de 17,2% em janeiro, na comparação com o mesmo mês no ano passado, pior resultado em 19 anos.

Demissões

Para o presidente da Associação Brasileira de Madeira Processada Mecanicamente (Abimci), Antônio Rubens Camilotti, as fábricas de móveis foram as que mais demitiram nesse período, mas o setor inteiro teve que fazer um "ajuste pesado" no seu quadro de funcionários. "Infelizmente a manutenção de empregos não depende da vontade do empresário, mas sim da demanda do mercado. O empresário não consegue empregar se não houver demanda", disse. De acordo com ele, a manutenção dos atuais postos de trabalho está diretamente vinculada ao nível de crédito do mercado. "Se ocorrerem novas restrições ao crédito, mais empregos serão cortados", assinalou.

Camilotti criticou especialmente as atitudes do governo estadual pela morosidade em restituir os créditos de ICMS para exportadores, além da próprias políticas econômica e fiscal do governo federal. "Nossos governos, nas duas esferas, continuam subestimando a crise, com políticas ineficazes para o setor produtivo. A própria redução da Selic, após quatro meses da crise, é incapaz de dar uma resposta verdadeira à estagnação do mercado", disse.

Horas pagas

Já fragilizado, o mercado de trabalho na indústria tende a piorar nos próximos meses. É que o total de horas pagas na produção, indicador antecedente do nível de emprego, caiu 1,8% em janeiro na comparação com dezembro. Foi a quarta queda consecutiva na jornada da indústria e a maior da série histórica do IBGE, iniciada em 2001.

Em relação a janeiro de 2008, o desempenho também foi negativo e o total de horas pagas recuou 3,6%. Para André Macedo, economista da Coordenação de Indústria do IBGE, as horas pagas sinalizam tendência futura do emprego. Ou seja, um empresário só vai contratar se estiver com a produção aquecida e ocupando sua força de trabalho pelo período máximo de horas.

Diante da crise, diz, a produção caiu na maior parte dos setores, o que se refletiu no volume de horas trabalhadas e no emprego. "Sem dúvida, as horas pagas funcionam como um indicador antecedente. Elas cresciam antes da crise, sustentadas pelos setores mais dinâmicos até então, como meios de transporte e máquinas e equipamentos. Mas começaram a cair com o agravamento da crise e a perda de ritmo desses setores", afirma Macedo.

O Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) também vê uma deterioração do mercado de trabalho na indústria. "Como o emprego reage com certa defasagem com relação à produção, o quadro em perspectiva é que esse processo tende a se aprofundar", diz o instituto.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]