Sem sinais de retomada da produção e com os estoques elevados, a indústria brasileira realizou de janeiro a junho deste ano seu mais intenso corte de empregados em um semestre nos últimos 14 anos. O emprego na indústria acumulou uma redução de 5,2% no primeiro semestre deste ano, frente ao mesmo período do ano passado, informou o IBGE na manhã desta quarta-feira (19).
Trata-se da maior queda da série histórica da Pesquisa Industrial Mensal: Emprego e Salário do IBGE, iniciada em 2001. O dado supera o primeiro semestre de 2009 (-5,1%), até então o pior resultado.
Todos os 18 ramos da indústria tiveram queda no acumulado do ano. O que mais pesou foi o ramo de meios de transporte (-9,9%), que inclui as montadoras de veículos, aviões e navios.
No início deste mês, o IBGE divulgou que a produção industrial teve queda de 6,3% no primeiro semestre deste ano, afetada pelo menor consumo da famílias, crédito escasso, juros altos, inflação elevada.
A Sondagem Industrial da CNI (Confederação Nacional da Indústria) mostrou que o uso da capacidade instalada do setor era de apenas 65% em junho passado, o menor da série iniciada em janeiro de 2011.
“Os cortes de empregos se mostram aderentes ao ritmo de produção. O ajuste no emprego tem sido assim bastante intenso, ligeiramente pior do que em 2009”, disse André Macedo, gerente da Coordenação de Indústria do IBGE.
O emprego na indústria recuou 1% na passagem de maio para junho, na série livre de efeitos sazonais (como o número de dias úteis de cada mês), a sexta queda consecutiva nessa comparação.
Quando comparado a junho do ano passado, o pessoal ocupado do setor recou 6,3%. Neste caso, trata-se da 45º resultado negativo consecutivo e a queda mais intensa desde setembro de 2009 (-6,1%).
Com os fracos resultados, o pessoal ocupado encolheu 4,6% nos últimos 12 meses. Vale lembrar que, nesta pesquisa da indústria, o IBGE não divulga números absolutos de empregos.
Setores
De janeiro a junho deste ano, a redução do pessoal ocupado na indústria ocorreu em todos os 18 ramos acompanhados pelo IBGE. Além de intensas, as perdas foram, portanto, também generalizadas.
Considerando o peso de cada ramo nos dados gerais da indústria, o principal destaque negativo foi o de meios de transporte (-9,9%), seguido de máquinas e aparelhos eletrônicos e de comunicação (-12,5%).
A redução do pessoal ocupado foi intensa em produtos de metal (-10,2%), alimentos e bebidas (-2,2%) e máquinas e equipamentos (-6,4%), segundo divulgou o IBGE nesta quarta-feira.
Para tentar conter as demissões, o governo lançou em julho o Programa de Proteção ao Emprego, que prevê a redução em até 30% da jornada de trabalho, com redução proporcional de salários dos trabalhadores, por no máximo um ano.
Renda
Com a inflação elevada, demissões e negociações salariais restritas, a folha de pagamento real do setor teve uma forte queda de 6,1% no primeiro semestre deste ano. Na passagem de maio para junho, o número foi positivo em 1,3% na comparação com maio.
Já o número de horas pagas teve queda de 5,8% no primeiro semestre, frente ao mesmo período do ano passado, o pior resultado da série. Na passagem de maio para junho, houve recuo de 0,6%.
O indicador de horas pagas é relevante porque, antes de contratar mais funcionários, as empresas costumam primeiro ampliar o número de horas extras da atual base de funcionário. Quando o indicador recua, portanto, é um sinal negativo para o setor.