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Com uma fazenda experimental de 123 hectares ocupada há três meses e meio por militantes da Via Campesina, a multinacional suíça Syngenta Seeds ameaça cancelar seus investimentos em pesquisa de sementes no Paraná. A unidade da empresa, localizada em Santa Tereza do Oeste, a 536 quilômetros de Curitiba, foi invadida no dia 14 de março e teve a reintegração de posse concedida pela Justiça dois dias depois. O mandado judicial, no entanto, não foi cumprido até agora – o prazo se encerra no fim de julho. O governo estadual diz estar preparando a desocupação, mas não anuncia a data para isso.

Parte da área era ocupada por lavouras de soja e milho transgênicos para fins de pesquisa, o que motivou a invasão pelos sem-terra. Os experimentos com sementes convencionais e transgênicas de soja e milho estão interrompidos desde então, e os funcionários da Syngenta não conseguem entrar na propriedade, já que o acesso foi proibido pela Via Campesina. Dos 800 militantes que invadiram a área, cerca de 70 ainda estão no local, segundo a empresa. A Comissão Técnica de Política Fundiária da Federação da Agricultura do Estado do Paraná (Faep) contabiliza outras 62 propriedades invadidas no Paraná desde dezembro de 1995 por movimentos de agricultores sem-terra, todas à espera do cumprimento de reintegrações de posse.

"Hoje somos reféns da Via Campesina, não temos muita informação do que acontece lá dentro", afirma o diretor-geral da Syngenta Seeds no Brasil, Pedro Rugeroni. Segundo ele, a empresa tem material genético de 20 anos de investigação armazenado na estação experimental, inaugurada em 1986. "Cerca de 7 mil linhagens e híbridos convencionais estavam dentro das câmaras frias, mas não temos como saber se isso não foi estragado."

O executivo calcula que, se a empresa não recuperar o material armazenado, estará perdendo um potencial de vendas de US$ 15 milhões nos próximos cinco anos. As instalações da área – 150 metros quadrados de escritórios, dois armazéns de mil metros quadrados cada, equipamentos e materiais de pesquisa – são avaliadas em US$ 1,5 milhão. Além disso, 59 hectares de soja e milho convencionais estão plantados no local, deteriorando-se com o tempo por não receber tratamento adequado. "Não é difícil supor que os militantes estão usando parte do milho para alimentar os porcos e cavalos que levaram para lá", diz Rugeroni.

A multinacional emprega 1,4 mil pessoas no Brasil e 19 mil em todo o mundo. No Paraná, são 150 funcionários, 46 deles na estação experimental de Santa Tereza do Oeste. Os técnicos foram deslocados para outras unidades da empresa, especialmente para a de Uberlândia (MG), que faz pesquisas semelhantes. Os demais funcionários – como cozinheiros e encarregados de limpeza e manutenção de armazéns – estão em casa, recebendo salário.

"Não podemos continuar com essa situação, até porque uma campanha de ensaios nas lavouras exige uma grande preparação. Até o fim de julho, se nada acontecer, teremos que reavaliar o funcionamento dessa unidade", revela o diretor geral Pedro Ruge-roni. A empresa – que fatura cerca de US$ 1,2 bilhão por ano com vendas de sementes –, pretendia investir um total de US$ 12 milhões no Brasil em 2006. O orçamento da área de pesquisas, de US$ 6 milhões, seria dividido entre as estações experimentais de Santa Tereza do Oeste, Uberlândia e Aracati (CE). "Estávamos prestes a trocar todas as máquinas da unidade do Paraná, mas por enquanto não temos como fazer isso", conta Rugeroni.

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