A esperança dos mais de mil funcionários da Iesa Óleo e Gás, instalada em Charqueadas, no Rio Grande do Sul, está em um decreto da prefeitura da cidade e numa ação trabalhista movida pelo Ministério Público do Trabalho. Atingida pela operação Lava Jato, a empresa ameaça demitir todos os trabalhadores, sem nenhum pagamento.
Nessa sexta-feira (22) o Ministério Público do Trabalho entrou com uma ação na Vara do Trabalho de São Jerônimo (RS) para impedir as demissões. Já o prefeito da cidade na região carbonífera gaúcha, a 59 km de Porto Alegre, deve decretar estado de calamidade. O objetivo é ter condições de atender aos trabalhadores que começarão a ser demitidos na segunda-feira e, segundo o sindicato da categoria, não terão seus direitos trabalhistas quitados pela companhia.
"A empresa diz que vai pagar (os direitos trabalhistas). Mas ela conta com uma verba de um termo aditivo do contrato que tinha com a Petrobrás. No ano passado, uma empresa também contava com um termo aditivo (para quitar suas dívidas com os trabalhadores) mas não pagou até hoje. Achamos que a Petrobrás não vai bancar esse termo", avalia um dos diretores do Sindicato dos Metalúrgicos de Charqueadas, Luis Gustavo Wolff.
"É complicado. A gente está sem pagamento, e não sei se terei indenização. Está difícil. Fiz algumas entrevistas, tenho currículo, mas a maior parte (dos entrevistadores) diz que é só para janeiro", comenta Furtunato Carvalho dos Santos, 36 anos. Contratado pela Iesa em 2013 como encarregado de montagem mecânica, ele liderava uma das 55 equipes de trabalhadores da fábrica. Pai de uma menina de 7 anos, ele é um exemplo do caos que deve se instalar na cidade de Charqueadas na próxima semana.
"Estamos parados há quase 60 dias, depois de 30 dias de férias coletivas. Eu sou da cidade, mas tenho colegas da Bahia e de São Paulo que vivem aqui de aluguel e chegaram apenas com a passagem. Agora estão passando necessidade."
Segundo ele, a média salarial dos operários era de R$ 1,5 mil a R$ 2 mil.
No vermelho
A Iesa, pertencente ao grupo Inepar, construiu uma unidade no município para montar módulos de plataformas de petróleo, conforme contrato de US$ 800 milhões com a Petrobrás. Abalada por uma crise financeira, acabou vendo os repasses da estatal serem bloqueados
Desde o início do ano, seus funcionários vinham paralisando o trabalho, intercalando com férias coletivas dadas pela empresa, que teimava em assinalar que sairia do vermelho. Mas a gota dágua surgiu na semana passada, com a operação Lava Jato, que prendeu altos executivos da Iesa Óleo & Gás.
"A Iesa começou a decair pouco antes do Natal de 2013. Paralisamos em fevereiro e abril por falta de pagamento. Eles alegavam que era problema na logística de pagamento, mas na realidade sabíamos que o problema todo estava na falência do grupo Inepar", comenta Santos.
Nesta semana, a Petrobrás rescindiu contrato com a empresa, que anunciou o fechamento da fábrica e a demissão de mais de mil operários.
Ontem representantes dos trabalhadores da região estiveram reunidos com o governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro. Durante o encontro, foi definida a criação de equipes que vão acompanhar e acelerar procedimentos para resolver o problema causado pelas demissões. As informações são do jornal O Estado de S.Paulo.
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