Por mais que aposte no desenvolvimento de modais alternativos, o empresariado brasileiro concentra suas exigências ligadas à infraestrutura na recuperação e na ampliação das rodovias do país. A informação é de um levantamento feito pela Fundação Dom Cabral, que envolveu a participação de 259 organizações e buscou relacionar os principais gargalos na infraestrutura do país segundo as dificuldades e desejos do empresariado brasileiro.
De acordo com os números da pesquisa, as melhorias rodoviárias são desejo de 61% dos empresários entrevistados. Os avanços nas operações de ferrovias e a ampliação de terminais aeroportuários também foram listados, mas com participação menor, de 22% e 20% respectivamente.
"Não chega a ser um quadro de surpresas, mas traz a consolidação de um cenário. A primeira preocupação de quem depende da infraestrutura do país é em relação às rodovias. Esta é a prioridade. E isso ocorre porque a iniciativa privada foi envolvida ao longo de décadas na altíssima dependência deste modal", afirma Paulo Rezende, coordenador do Núcleo CCR de Infraestrutura e Logística da Fundação Dom Cabral.
Segundo ele, em uma perspectiva de longo prazo, os demais meios de transporte são desejados, mas, no momento atual, a maior dificuldade é em torno das rodovias. "Por mais que a tamanha concentração neste modal seja indesejada, não podemos criar uma ruptura imediata. As empresas utilizam estas vias hoje e isso vai se manter por um bom tempo. Por isso, suas questões são preocupantes e devem ser conduzidas", diz.
Dificuldade generalizada
Para Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), mesmo com a necessidade de "consertar" o problema rodoviário, o país não pode abrir mão de um modal em função do outro. "Ao mesmo tempo em que há a exigência imediata pelas rodovias, deve haver a posição de se cobrar e planejar investimentos em outras malhas, principalmente nas ferrovias e portos", afirma.
A opinião é semelhante à de Marcelo Felipe, diretor de materiais da Positivo Informática. Segundo ele, as rodovias enfrentam, sim, os maiores problemas. Porém, as dificuldades não são exclusivas deste modal, mas generalizadas, o que exigiria a continuação dos investimentos em diversos setores.
"De um modo geral, a situação dos modais é melhor se comparada à de anos atrás, mas ainda há um longo caminho pela frente. Parte disso ocorre porque o crescimento da atividade do país está mais rápido que a adaptação de sua infraestrutura voltada à logística. O desafio é adequá-los", afirma Felipe.
O país já parte de uma condição de atraso, segundo Pires. Em sua opinião, este é um dos fatores que alimentam o pessimismo das empresas com a situação. Outro deles seria a má administração pública do setor, que deveria apostar mais em concessões à iniciativa privada, como vem ocorrendo no setor aeroviário. "Mas para isso é necessário conduzir modelos de concessão corretos, em que a iniciativa privada ficasse com o controle total do empreendimento e o governo assumisse o papel de regulador e fiscalizador, também de maneira efetiva", diz o diretor.
Um terço vê Paranaguá como crucial
Pelo estudo da Fundação Dom Cabral (FDC), 30% das empresas entrevistadas apontaram obras de melhorias no Porto de Paranaguá como "importantes" ou "muito importantes" para o setor como um todo. Nesta parte, a pesquisa pedia para que fossem indicadas as obras mais necessárias dentro de cada modal. O Porto de Santos liderou a lista, com 52% das empresas indicando suas melhorias.
De acordo com Paulo Rezende, professor da FDC, enquanto Santos tem necessidade de se adequar ao grande volume demandado, Paranaguá tem problemas estruturais e no atendimento de segmentos diversos. "O porto paranaense tem de aumentar sua capacidade portuária pensando no volume de contêineres. Outra reclamação constante é no sentido de se preparar melhor para oferecer serviços a outros setores, uma vez que acaba sendo muito concentrado nos grãos e na indústria automobilística."
Para este ano, a Administração dos Portos de Paranaguá e Antonina (Appa) promete R$ 226,8 milhões em projetos já contratados ou prestes a serem licitados, com obras como a dragagem dos pontos críticos do terminal. Na esfera privada, o Terminal de Contêineres de Paranaguá (TCP) vai investir R$ 120 milhões na ampliação do cais em 315 metros.
A pesquisa da FDC ainda apontou as principais obras apontadas como necessárias para outros modais. No caso do setores aeroportuário e rodoviário, as maiores reivindicações ficaram com o terminal de Guarulhos (40%) e a duplicação da BR-101 (51%).