São Paulo - O reajuste autorizado pela Petrobras no início do mês foi a gota dágua que os grandes consumidores de gás natural precisavam para se rebelar contra a estatal. Representados por nove associações, incluindo as Federações da Indústria de São Paulo (Fiesp) e o Fórum Nacional dos Secretários de Energia, eles iniciaram uma peregrinação por ministérios, Congresso Nacional, agência reguladora e órgãos de defesa da concorrência para tentar reverter a crise do setor e mudar os cálculos da tarifa cobrada pela petroleira.
Com uma pilha de dados sobre o assunto, as associações querem mostrar como o elevado custo do gás tem reduzido a competitividade da indústria nacional. A maior reclamação refere-se ao preço do gás nacional, cujo reajuste é trimestral (o gás boliviano tem reajustes quadrimestral) e custa 35% mais que o gás importado da Bolívia.
Em 2008, com a escalada do preço do petróleo, que atingiu quase US$ 150 o barril, o custo do gás atingiu o pico de US$ 11,54 o milhão de BTU (unidade térmica britânica), segundo a Associação Brasileira dos Grandes Consumidores de Energia (Abrace). A partir do primeiro trimestre do ano passado, os custos recuaram, mas o do gás caiu menos que o do petróleo.
Para acirrar os ânimos, a tarifa do insumo iniciou no terceiro trimestre de 2009 uma nova sequência de altas, apesar da forte queda de 16% no consumo por causa da crise mundial. De lá pra cá, já foram promovidas mais duas altas, para US$ 9,87 (sem impostos).
"O setor vive um momento perverso, com alta dos preços, queda no consumo e falta de planejamento (e perspectiva) para desenvolver o mercado nacional", destaca o sócio-diretor da Gás Energy, Marco Aurélio Tavares.
Num material entregue à Secretaria de Defesa Econômica (SDE), as associações destacam que o Brasil detém a segunda maior tarifa do mundo. Além disso, elas questionam a nova metodologia que a Petrobras adotou a partir de 2008 para correção dos preços. A chamada parcela variável é aquela que acompanha a cesta de óleos no mercado internacional. Já a parcela fixa tem o objetivo de cobrir o transporte do gás e a expansão da malha no país.
"O problema é que ninguém sabe como é calculada essa parcela fixa, que tem tirado a competitividade do gás", destaca o presidente da Associação Brasileira das Empresas Distribuidoras de Gás Canalizado (Abegás), Armando Laudório.