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Energia

Empresas aceleram investimentos para evitar “apagão”

A crise do fornecimento de gás natural e a possibilidade de escassez e alta dos preços de energia elétrica estão levando empresas a acelerar investimentos para contornar os problemas de um eventual apagão nos próximos anos. Companhias dos mais diversos setores antecipam projetos de co-geração, adotando programas de contingência, de redução de consumo e de autoprodução energética, com foco na diminuição de custos e da dependência do mercado.

De olho na possibilidade de falta de gás natural no mercado, a Kraft Foods vai instalar novos equipamentos para poder usar também o gás liquefeito de petróleo (GLP)."Esse projeto já estava nos planos da empresa desde a crise na Bolívia, mas com o cenário desfavorável agora vamos colocar em prática em 2008", diz Tadeu Boechat, diretor de manufatura da empresa no Brasil. A intenção é poder migrar até 100% da matriz para GLP em caso de desabastecimento de gás natural. Com um consumo de 10 milhões de metros cúbicos de gás por ano nas suas três principais fábricas – Curitiba, Piracicaba (SP) e Pedreira (SP) – a multinacional norte-americana está investindo US$ 2 milhões em um programa de redução de consumo de energia e água. Em Curitiba, onde produz queijos, sobremesas, chocolates e sucos em pó, a economia de energia superou as expectativas e deve ficar em 5% (3 mil MW) em 2007. A partir de 2008, a empresa vai substituir os atuais motores por modelos mais eficientes. "Sabemos que uma hora vem o aperto na área energética e não podemos ficar à mercê do mercado."

A fabricante de painéis de madeira Berneck, com sede em Araucária (região metropolitana de Curitiba), está investindo R$ 60 milhões em um programa de co-geração que deve reduzir pela metade o seu consumo de energia elétrica, hoje em 24 mil MW. A companhia vai aproveitar cavacos e outros resíduos de madeira para gerar energia para as duas novas fábricas que está construindo em Santa Catarina e no Paraná. "Vamos também aproveitar o vapor gerado nas caldeiras para substituir o gás natural na secagem dos painéis", diz Gilson Berneck, presidente da empresa.

O programa de eficiência energética do Wal-Mart pretende cortar em 30% o consumo de energia até 2020 nas suas 304 lojas no Brasil. Segundo a rede, já houve uma redução de 3,6% em relação a 2005. Nas 40 lojas do Paraná, as lâmpadas convencionais estão sendo substituídas pelas do modelo T5 e aparelhos de refrigeração revisados ou trocados por modelos novos, para que consumam menos gás e energia.

Na fábrica da alemã Bosch em Curitiba, as lâmpadas estão sendo substituídas por outras que têm rendimento até 30% maior. Até o ano que vem, os motores mais potentes serão trocados por equipamentos mais novos, de alto rendimento. A alta do preço da energia elétrica é uma das principais preocupações. Quando renovou o contrato no mercado livre, no fim do ano passado, a Bosch teve de arcar com elevação de 90% na tarifa. "É um aumento brutal, que está afetando nossa competitividade no exterior", diz o gerente de tecnologia e manufatura da empresa, Antônio Russo.

A Volvo, que já substituiu todas as lâmpadas das áreas administrativa, de montagem e de logística na fábrica de Curitiba, segue estratégia semelhante e se prepara agora para mudar o sistema de ar comprimido da fábrica – o que deve resultar em uma economia de 1,2 mil megawatts-hora (MWh) por ano. Até 2008, a empresa pretende reduzir 28% de seu consumo, em relação aos níveis de 2005, segundo a coordenadora de meio ambiente, Edna Fabris Berg.

Depois de trocar o GLP pelo gás natural, há dois anos, a Brafer Construções Metálicas, de Araucária, está apreensiva com o cenário desfavorável para o combustível, usado para manter aquecido o tanque de zinco, utilizado na galvanização do aço. "Existe uma preocupação muito grande em relação ao abastecimento e ao preço do gás natural, já que fizemos um investimento muito alto quando adotamos o combustível. Se formos obrigados a voltar ao GLP, por exemplo, teremos que gastar novamente, trocando toda a tubulação e os tanques de armazenamento", diz o vice-presidente da empresa, Luiz Carlos Caggiano Santos. A Brafer adquiriu um grupo gerador a diesel para reduzir o consumo de energia elétrica em horários de pico, entre 18 h e 21 horas.

A curitibana Perfimec também reduziu a produção no horário de ponta (entre 18 h e 20 h). "Deixamos de usar algumas linhas de alto consumo de energia, como a linha de corte térmico de aço", diz o diretor administrativo e comercial da empresa, Ivo Wolff Júnior, que há dois meses contratou uma consultoria para estudar formas de reduzir seu consumo de eletricidade.

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