Cada vez mais os consumidores brasileiros olham para os eletrodomésticos com a cobiça antes comum a carros, roupas e eletrônicos. Com mais inovações tecnológicas e um número menor de empregadas domésticas, as pessoas estão trocando os aparelhos de cozinhas e áreas de serviço sem que os atuais tenham quebrado. A busca por inovações e facilidades faz o faturamento deste mercado de R$ 70 bilhões anuais crescer mais entre os produtos sofisticados do que entre os básicos. E atrai empresas pouco tradicionais nas "áreas de serviço" como LG, Panasonic, Samsung e Ford.
"Vemos o setor de linha branca ousando em lançamentos. Vemos novos players entrando e um upgrade de produtos. A inovação está em todos os produtos. O próximo passo é a integração dos equipamentos com a internet", afirma Lourival Kiçula, presidente da Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos (Eletros).
Kiçula diz que 2014 não foi um ano muito bom para o setor, em razão de fatores como a Copa do Mundo, as incertezas em relação às eleições e o freio da economia. Ele espera uma alta de apenas 3% nas vendas, mas diz que ainda há muito espaço para crescer, principalmente na substituição de produtos.
Essa também é a avaliação de Jean Rebetez, diretor de Consultoria da GS&MD. Segundo ele, embora a quantidade de produtos vendidos seja praticamente a mesma de 2013, o faturamento passará de R$ 64 bilhões para R$ 69 bilhões neste ano.
"Mesmo a nova classe média está migrando para produtos mais sofisticados. O ar-condicionado que mais vende é o split, o fogão tem sido trocado pelo cooktop, em breve veremos surgir aqui o mercado de geladeiras embutidas, que já existe na Europa e nos Estados Unidos", diz.
Oliver Römerscheidt, da consultoria GfK, informa que enquanto a venda de produtos da linha branca cresceu 6%, em termos de valor, de janeiro a julho de 2014 na comparação com igual período de 2013, em unidades houve queda de 1%. Isso reforça o argumento que os produtos estão mais sofisticados e caros. Alguns, contudo, registram forte aumento de vendas também em unidades, como fritadeiras (117%), preparadores de alimentos (21%), secadoras de roupas (14%), máquinas de lavar louça (25%), filtros de água (34%) e aparelhos de ar-condicionado split (alta de 74%).
"A casa brasileira mudou e vai continuar mudando. Além da sofisticação dos aparelhos essenciais, vemos um forte crescimento de outros produtos satélites, como máquinas de café expresso, fritadeiras a ar, multiprocessadores e purificadores de água", diz Römersheidt.
Modernidade
A Panasonic,por exemplo, está apostando forte no setor de geladeiras e máquinas de lavar, com apelo de modernidade e economia de energia. "Nossas geladeiras analisam o comportamento do consumidor por três semanas e se programam. Se, por exemplo, a família abre mais o refrigerador pela manhã e no fim do dia, quando todos estão em casa, ela economiza energia durante o dia, aumentando um pouco a temperatura. Isso evita, também, que a geladeira fique muito gelada e congele os alimentos", explica Sergei Epof, gerente de produtos de linha branca da Panasonic.
Do Japão para o Brasil
No Japão, a Panasonic já tem lavadoras que analisam a sujeira da roupa e calculam a quantidade certa de sabão, água e tempo de lavagem. No Brasil, a marca conta com uma máquina de lavar que analisa a temperatura da água e programa o ciclo de acordo com o calor: quanto mais quente for a água, mais rápido é o ciclo de lavagem, gerando ganho de tempo e economia. O gerente de produtos de linha branca da Panasonic, Sergei Epof, conta que, em geral, demora cerca de dois anos para uma nova tecnologia chegar ao Brasil.