As empresas brasileiras estão entre as mais vulneráveis do mundo emergente quanto ao seu endividamento em um possível cenário de menor fluxo de capitais rumo aos emergentes e de encarecimento do crédito, segundo um estudo divulgado nesta quarta-feira (9) pelo FMI. Em um relatório sobre a estabilidade financeira global, os técnicos do FMI fizeram uma "análise de sensibilidade" em 15 economias emergentes. O teste especula o que aconteceria, em pequenas e grandes empresas desses países, se houvesse uma combinação de aumento de 25% dos custos de crédito e uma redução de 25% nas receitas, quantas empresas seriam consideradas "frágeis" e seus níveis de endividamento.
Os quatro países que teriam o maior número de empresas fragilizadas com essa combinação de crédito caro e menor receita são, pela ordem, Argentina, Turquia, Índia e Brasil -neles, metade das empresas, a partir da amostra pesquisada, teriam grandes dificuldades.
Pelo estudo, uma empresa "frágil" é aquela em que a razão entre o Ebitda (lucros antes de impostos, juros, amortizações e depreciação, da sigla em inglês) e o pagamento de juros é menor que dois. Ou seja, a geração de recursos não consegue chegar a duas vezes o dinheiro que precisa pagar os juros da dívida.
O calculado cenário adverso, segundo o relatório, é comum a "outros choques sofridos pelos países emergentes na última década". Em outros testes do FMI, outros emergentes sofreriam mais impacto pela excessiva dívida em moedas estrangeiras, principalmente o dólar (Índia, Indonésia e Turquia), e endividamento interno (China, Hungria e Rússia).
O relatório também inclui o Brasil entre os países com "vulnerabilidades financeiras externas ou macroeconômicas", junto com Indonésia, África do Sul e Turquia. O estudo do Fundo aponta, entretanto, que se o crescimento econômico for menor que o previsto e várias empresas não conseguirem honrar seus pagamentos, os bancos da América Latina estão entre os mais robustos a razão entre empréstimos para depósitos na região está entre as mais altas dos emergentes.
Os testes têm como pano de fundo a mudança da política de estímulo da economia americana, que desde a crise de 2008 imprimiu bilhões de dólares mensalmente, desvalorizando a moeda americana e ampliando o fluxo de divisas para os emergentes.
Com a anunciada redução dessa política e o posterior aumento da taxa de juros dos EUA, o fluxo deve mudar de direção, reduzindo os capitais rumo aos emergentes.