O agravamento da crise financeira internacional começou a abalar o ânimo dos executivos brasileiros, que já prevêem contração no crédito e temem a queda no Produto Interno Bruto (PIB). Reunidos no 6º Fórum Anual de Investimentos da LatinFinance, os executivos não falaram em outra assunto a não ser a crise mundial. Apesar de destacarem que o Brasil está melhor posicionado do que no passado, consideram que o País pode ser seriamente afetado pelo desaquecimento econômico internacional.
Empresas como OGX, Votorantim e Localiza ainda não falam em mudar os seus planos de investimentos, mas estão atentas às incertezas. O vice-presidente do Conselho de Administração da OGX, Francisco Gros, disse que a empresa tem caixa suficiente para financiar seus projetos, mas isso não o tranqüiliza. Na sua opinião o Brasil será afetado pela crise internacional. "O País não é uma ilha de tranqüilidade. Não vamos nos iludir, porque já vimos este filme e no final a gente morre", afirmou o executivo que já esteve à frente do Banco Central e do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
Atualmente no conselho da empresa de petróleo do grupo EBX, Gros não acredita em queda mais acentuada dos preços do petróleo e das commodities metálicas. Isso porque, segundo ele, o custo de produção destes bens está cada vez mais elevado, assim como o prazo de maturação dos projetos de logística. O preço muito baixo do petróleo, por exemplo, poderia inviabilizar projetos mais caros, como o do pré-sal.
Uma possível retração na economia brasileira, com queda no PIB terá impacto direto sobre as empresas. Os cálculos de projeções de crescimento do País ainda não foram refeitos nas empresas, mas já se espera queda. Na Localiza, companhia estreitamente ligada ao consumo, esse é um ponto de grande apreensão. "Crescemos em média seis vezes o PIB, portanto se o indicador cair seremos diretamente afetados", afirmou o diretor de Relações com Investidores da Localiza, Silvio Guerra.
A previsão do presidente da EcoRodovias, Marcelino Rafart de Seras, é que o PIB crescerá 4% em 2009 e não faltará recursos para a área de concessões de rodovias, embora admita que as instituições financeiras serão mais seletivas. A empresa disputará os cinco lotes de rodovias que serão oferecidos pelo governo de São Paulo, em leilão marcado para o dia 29 de outubro Seras disse que a EcoRovias estuda os cinco projetos, mas focará seu interesse em um deles.
Como resultado da maior seletividade dos bancos na hora de emprestar, o custo do dinheiro tende a subir. Guerra lembra que os cálculos de investimentos terão de ser refeitos em razão disso. "A empresa terá que avaliar o retorno do investimento para definir até que custo de capital poderá pagar", afirmou. Na sua avaliação, o aumento do custo do capital pode ter vários reflexos para o setor. O primeiro deles seria a transferência para terceiros de operações que não fazem parte do negócio principal da empresa, ou no jargão dos empresários, o core business. "Nesse caso, a Localiza pode ser beneficiada, na medida que muitas empresas optem por terceirizar suas frotas", destacou.
Outro reflexo, segundo o executivo, é uma aceleração da consolidação do setor, iniciada há alguns anos. O diretor da Localiza lembra que em 2002 o Brasil tinha 2.511 empresas de locação de veículos e que atualmente há 1905 companhias atuando nessa área. "Uma consolidação é natural", afirmou. Guerra lembrou que nos Estados Unidos quatro grandes empresas são responsáveis por 94% do mercado. No Brasil as quatro grandes detém 40% do negócio.
Apesar de não informar qual o investimento total previsto pela companhia para este ano, Guerra afirmou que o planejamento está mantido. No ano passado a empresa realizou um investimento líquido de R$ 250 milhões para aumento e renovação da frota.
Também a Votorantim diz ter condições de manter seus projetos em andamento. O diretor Financeiro da Votorantim Participações, Luis Felipe Schiriak, disse que a diversificação da companhia ajuda a manter o bom andamento dos negócios. No momento, a retração das vendas de cimentos da empresa nos Estados Unidos está sendo compensada pelas vendas no Brasil, disse. O executivo afirmou que, apesar da crise, os bancos brasileiros estão em boas condições, e ainda é possível obter um financiamento de US$ 2 bilhões a US$ 3 bilhões. O executivo informou, no entanto, que a companhia teve que desistir de uma emissão de bônus que estava programada para este ano. "Está tudo pronto para a emissão, só nos falta mercado", disse.
A expectativa é que o governo tente compensar a dificuldade de captação com recursos do BNDES. O superintendente da Área de Pesquisa e Acompanhamento Econômico do BNDES, Ernani Teixeira Torres Filho, informou, que os investimentos programados pela indústria e infra-estrutura entre 2008 e 2011 somam R$ 2,36 trilhões. Entre 2004 e 2007, o investimento foi de R$ 1,5 trilhão. Historicamente, estes aportes eram financiados, em sua maioria, com os fluxos retidos pelas próprias empresas. O restante vinha do BNDES, de captações no mercado de ações, recursos externos e emissão de debêntures.
A partir de agora, o banco espera que o fluxo de capital retido não deve acompanhar os investimentos na mesma magnitude, o que tornará necessário o reforço de mecanismos públicos de financiamento, assim como a aproximação com investidores privados.
- Bovespa se recupera no fim do pregão e sobe 5,48%. Dólar fecha a R$ 1,93
- BC vende nesta sexta até US$ 500 milhões com compromisso de recompra
- Bancos "palpiteiros" estão quebrando, diz Lula
- Copom: percepção de risco sistêmico permanece alta
- EUA põem US$ 180 bi no mercado em ação com BCs mundiais
- Crise se agrava e bancos nos EUA correm para fechar acordos