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A diputa pela anglo-holandesa Corus entre a brasileira CSN e o grupo indiano Tata Steel consolida um movimento que tomou força ao longo de todo o ano de 2006: de caixa cheio, empresas de países emergentes foram fazer compras em alguns dos mais seletos halls de companhias do planeta.

Vale do Rio Doce, Gerdau, Coteminas - além de empresas russas, indianas e chinesas - são outros exemplos de empresas que conseguiram bons resultados e se lançaram em negócios bilionários no primeiro mundo. Segundo relatório da consultoria PricewaterhouseCoopers divulgado nesta quarta-feira , houve 78 transações de empresas nacionais comprando estrangeiras em 2006, exatamente o dobro de 2005.

A onda abarca em sua maioria indústrias primárias que aproveitaram o dólar barato, a alta no preço das commodities e a liquidez no mercado internacional para apostar alto nos Estados Unidos e na Europa.

- Há vários fatores que contribuem para esse movimento. Um deles é o aumento da capacidade de endividamento dessas companhias. Os juros caíram no mundo e, com o preço das commodities em alta, as empresas conseguiram cacife para investir - diz uma analista de renda variável.

Outro motivo é o movimento de consolidação por que passa o setor de siderurgia e metalurgia. Nesta leva estão a indiana Mittal, que comprou a francesa Arcelor por US$ 32,2 bilhões e criou a maior siderúrgica do mundo, e a Vale do Rio Doce, que levou a canadense Inco numa operação que pode chegar a US$ 18 bilhões, e se tornou a segunda maior mineradora do mundo.

O caso mais surpreendente é o da CSN, que tenta comprar uma empresa maior do que ela própria. A última oferta da empresa brasileira ficou em US$ 9,6 bilhões, enquanto que seu valor de mercado está em US$ 8,2 bilhões. Outro analista diz que o grande teste para essas empresas vai ser quando a economia mundial, que agora está num momento muito favorável, mudar de cenário.

- As companhias ainda não enfrentaram uma crise econômica mundial. O que acontecerá, por exemplo, se a China desacelerar seu crescimento? - diz.

Primeiro mundo migra para serviços

Enquanto isso, empresas privadas de países desenvolvidos concentram seus esforços no setor de serviços. Esse foi o caso, por exemplo, da IBM, que há dois anos vendeu sua área de computadores pessoais à chinesa Lenovo, num negócio de US$ 1,75 bilhão, para poder se concentrar em serviços e em tecnologia.

Por aqui, foi o grupo Itaú que comprou por US$ 10 milhões uma empresa com sede em Miami que atua na distribuição de equipamentos da IBM na América Latina.

E num outro exemplo envolvendo compra de estrangeiros, mas desta vez de uma empresa nacional, o Itaú adquiriru do Bank of America as operações do Bank Boston no Brasil por US$ 2,2 bilhões. Na mesma linha está o Bradesco, que comprou as operações brasileiras da American Express, por US$ 468 milhões.

Já a Embraer é o exemplo nacional de gigantes que trabalham com tecnologia e investem em instalações no primeiro mundo. A empresa tem um centro de serviços nos EUA e vai instalar quatro novos no mercado americano e um outro centro na França. A empresa também tem uma base de manutenção em Portugal, além de uma fábrica na China. Segundo o presidente Maurício Botelho, o negócio da companhia é, por natureza, global, e não uma opção.

Ganhar mercado

Para as empresas dos países emergentes, investir no primeiro mundo significa ganhar escala, reduzir custos, entrar em mercados que antes eram inacessíveis e diversificar o caixa.

Esse foi o caso da Coteminas. A líder do setor têxtil brasileiro, ganhou o mercado americano ao se fundir com a Springs, líder do segmento de cama e banho nos Estados Unidos. O resultado foi uma empresa com vendas anuais de US$ 2,4 bilhões, contra US$ 650 milhões da Coteminas antes da fusão. As duas se juntaram em janeiro contra a competição chinesa e a Coteminas ficou basicamente com a função de produzir para abastecer o imenso mercado americano.

- A principal vantagem da fusão foi poder aliar empresas com características complementares. A Coteminas, com o processo de fabricação muito competitivo, e a Springs, com uma estrutura de distribuição, marcas e design sem paralelo - diz o presidente da nova empresa, Josué Gomes da Silva.

Outra que está colhendo os frutos é a Gerdau, que atribuiu o aumento de R$ 1 bilhão no faturamento até o terceiro trimestre de 2006 (de R$ 19,6 bilhões para R$ 20,6 bilhões) em boa parte às investidas no exterior. Em novembro, o grupo concluiu a compra de uma participação majoritária em uma das maiores fornecedoras de aço cortado e dobrado dos Estados Unidos, na joint venture formada com a Pacific Coast Steel, Inc e a Bay Area Reinforcing. Durante o ano, a empresa também adquiriu 40% de participação no capital da Corporación Sidenor (Espanha), além do controle acionário da Siderperu (Peru). Só nos EUA a Gerdau tem 12 unidades. No Canadá, são outras três.

A Votorantim tem sete fábricas de cimento e 39 usinas de concreto nos Estados Unidos e no Canadá. Além disso, Weg (Portugal, México, China e Argentina), Marcopolo (Portugal, México, Colômbia e África do Sul), Natura, Sadia e Perdigão também fazem suas investidas no exterior.

- A exposição internacional é boa em alguns setores. A empresa aumenta o leque geográfico, reduz o custo, melhora a operacionalidade e ganha ciclos diferentes de demanda - diz um analista.

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