Por desconhecimento ou falta de interesse, as empresas paranaenses deixaram de destinar R$ 389 milhões para a cultura entre 2005 e 2009. A Lei Rouanet de Incentivo à Cultura permite que empresas direcionem 4% do que é pago no imposto de renda para incentivo a produções culturais, mas esse montante está se perdendo ano após ano.
Somente no ano passado, a Receita Federal arrecadou R$ 2,8 bilhões no Paraná. Desse total, R$ 114,9 milhões poderiam ter sido destinados a produções artísticas, mas foram usados R$ 19,2 milhões, ou seja, apenas 16%. A média paranaense foi ainda menor que a nacional (30%), também longe do esperado, já que não há nenhum ônus financeiro para as empresas.
Segundo especialistas, o repasse em forma de patrocínios fomenta a cultura e é responsável por gerar empregos e renda na economia local. Além disso, a empresa pode ter benefícios ao associar sua marca a música, teatro, dança, cinema e outras expressões artísticas.
"O desconhecimento do funcionamento da lei gera uma grande confusão na cabeça dos setores de marketing. Algumas empresas querem desenvolver projetos sociais na área de educação e querem ser enquadradas na Lei Rouanet. Às vezes a empresa tem dinheiro, mas não entende que cultura também é educação", diz o consultor em marketing institucional, cultural e social, Ricardo Trento. Ele acrescenta que há um mito de que quando é realizado o repasse a empresa vai cair na malha fina.
O patrocínio é uma boa oportunidade de melhorar o relacionamento com o público e de associar a marca a algo positivo. "É uma comunicação assertiva. Os projetos colocam o cliente sentado vendo o espetáculo com a imagem da empresa. É uma comunicação que atinge diretamente o coração do seu público", acrescenta Trento.
Mais que a imagem
A Brose do Brasil, fornecedora da indústria automobilística localizada em São José dos Pinhais, patrocina projetos culturais desde 2003 como parte dos princípios e valores da empresa. Para a coordenadora de marketing e responsabilidade socioambiental da Brose, Lia Donini, é obrigação das empresas ajudarem no desenvolvimento da comunidade onde estão inseridas. "Estamos
preocupados em desenvolver a sociedade e é um engajamento necessário em função das lacunas deixadas pelo poder público. Não é mera filantropia ou marketing institucional."
Desde 1999, a Berneck, que produz e comercializa produtos de madeira, também vem investindo em projetos culturais e sociais como uma alternativa ao pagamento de parte dos impostos. "É um recurso que estava disponível e ao invés de pagar diretamente o imposto de renda, podemos direcioná-lo e controlar o que está acontecendo. O cunho social sempre esteve presente aqui e procuramos auxiliar de alguma forma o governo. Mesmo sem querer, acaba agregando à imagem da empresa o fato de estar ao lado de projetos culturais", comenta a diretora comercial e de marketing, Graça Berneck Gnoatto.
Esclarecimento
Para a Lia, da Brose, poucas empresas conhecem os benefícios de incentivar as diversas expressões artísticas. Além disso, ainda falta esclarecimento a respeito do assunto. "Falta bastante explicação sobre as possibilidades e também um pouco de interesse. Ninguém veio falar sobre a lei. Tivemos que correr atrás e pesquisar para saber como fazer", afirma ela.