Teles, fabricantes de telefone e empresas globais de pagamento estão unindo forças e investindo em tecnologias para permitir que o celular se transforme na principal carteira de compras do consumidor, deixando para trás cartões de débito e crédito. Enquanto as novas soluções de Apple e Google não chegam ao Brasil, gigantes como América Móvil (dona da Claro), PayPal, Visa, Mastercard e Samsung correm para fechar parcerias com bancos, varejistas e aplicativos de compras.
O chamado pagamento móvel vem sendo apontado como uma das novas fronteiras de negócios para as empresas de tecnologia e telecomunicações, segundo especialistas presentes no Mobile World Congress (MWC), que acontece nesta semana em Barcelona. Empresas do setor estimam que há hoje mais de 440 milhões de pessoas no mundo usando o celular para pagar a conta do restaurante ou as compras do supermercado. Essas companhias ganham uma porcentagem sobre cada uma dessas transações.
A tecnologia mais comum é a de aproximação: o consumidor encosta o celular na máquina e digita a senha para confirmar a transação. No Brasil, o potencial é grande, dizem as empresas. Isso porque 60% das 4,5 milhões de máquinas dos estabelecimentos comerciais permitem esse tipo de pagamento, diz a associação das empresas de cartão (Abecs). Além disso, estima-se que 5% dos celulares em uso no país já tenham tecnologia que substitui o cartão em lojas físicas.
Samsung Pay
De olho nesse potencial, a Samsung vem aumento suas apostas no Samsung Pay. Primeiro ampliou a gama de aparelhos compatíveis: hoje já são dez, com preços a partir de R$ 2 mil, e o número deve crescer. Além disso, ela fez parceria com Banco do Brasil, Caixa, Santander e está prestes a fechar acordo com outros bancos.
“O ano de 2017 será muito aquecido porque o pagamento móvel é um caminho sem volta. Para este ano, vamos lançar o reconhecimento de íris no Brasil para aumentar a segurança ao usar o celular na hora das compras (em substituição à senha)”, afirmou Andre Varga, diretor de dispositivos móveis da Samsung.
PayPal
Já América Móvil acaba de selar parceria com o PayPal para toda a América Latina. O objetivo é que o usuário concentre as compras em um aplicativo próprio, o Claro Pay. Por isso, a tele pretende fazer parcerias com apps populares como Uber, 99 Taxi, e outros na área gastronômica. Além disso, diz Sérgio Messiano, diretor de Serviços de Valor Agregado para o mercado pessoal da América Móvil, serão feitas parcerias para usar o Claro Pay para pagamento em lojas físicas.
“Conforme a base de usuários for crescendo, vamos ampliar os serviços, permitindo que o nosso aplicativo, por exemplo, indique restaurantes de acordo com a localização do usuário. O cliente não vai mais precisar preencher seus dados pessoais toda hora que baixar um novo aplicativo”, afirma Messiano.
Visa
A Visa, que no Brasil tem parceria com a Samsung, investe na ampliação do pagamento por aproximação via celular. Alessandro Rabelo, diretor sênior de Produtos, diz que, em 2017, elevará em até 20% o número de máquinas no varejo que permitem o pagamento via aproximação. Hoje, calcula, são cerca de 2,8 milhões de unidades.
“Os números de uso vêm crescendo, e o comércio vem reagindo muito bem. Estamos conversando com redes de varejo para aceitar essa solução de forma direta”, destacou Rabelo.
Telefônica
Quem também aposta nessa área é a Telefônica, que selou parceria com a Mastercad. Juntas criaram a Zuum, joint venture que funciona como uma conta-corrente pré-paga e permite transações como recarga de celulares, pagamento de contas e transferência para outras contas. Nesse caso, o objetivo das companhias é atender a clientes das classes C e D sem acesso a banco.
Segundo Rodrigo Alonso, superintendente comercial da companhia, o número de clientes que usam a solução no celular passou de 400 mil para 700 mil. “Juntos, [os clientes] movimentaram R$ 600 milhões. Para 2017, a meta é crescer no mesmo patamar”.
Experiências internacionais
Nos EUA, a MasterCard vem investindo em start-ups para acelerar o desenvolvimento. É o caso da Massabi, que criou um modelo para pagar metrô, trem e ônibus que já está em uso em várias cidades americanas, como Nova York, Boston e Los Angeles.
“Com o celular, você escolhe a estação do trem, por exemplo, compra um bilhete e aproxima o celular na catraca. A ideia é facilitar a vida. Estamos olhando coisas no Brasil”, - disse o diretor de vendas da empresa, Antonio Carmona.
Na feira, a coreana Yap montou uma espécie de supermercado para demonstrar a nova tecnologia de pagamento. A pessoa escolhe o produto e aproxima o código de barras no celular. Depois, é só chegar no caixa e aproximar o smartphone para efetuar o pagamento.
Paulo Marcelo, presidente da Resource,uma empresa de tecnologia, lembrou que o volume de empresas investindo no segmento “ocorre porque os consumidores já vivem na era digital”. Uma outra fonte destacou que o país deve receber novas soluções de rivais como Apple e Google, já esperadas há pelo menos dois anos.