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Negociações

Empresas pedem recriação do Mercosul como área de livre comércio

O setor privado está "cansado" do Mercosul e pede a "reinvenção" do projeto de integração regional. Uma alternativa que volta a ganhar força é dar um passo atrás e transformar o bloco de união aduaneira em área de livre comércio A mudança liberaria o Brasil para fechar, sozinho, acordos bilaterais com blocos importantes, como, por exemplo, a União Europeia, cujas negociações com o Mercosul serão retomadas na quarta-feira em Lisboa.

Para os empresários, o conflito com a Argentina - que paralisou caminhões na fronteira na semana passada - e a entrada da Venezuela no Mercosul - que ficou mais próxima com a aprovação pela Comissão de Relações Exteriores do Senado - deixa o bloco cada vez mais fragilizado nas negociações.

"Não podemos ficar amarrados ao protecionismo da Argentina. Sou a favor de dar um passo atrás e reinventar o Mercosul como área de livre comércio", defende o diretor de comércio exterior da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Roberto Giannetti da Fonseca.

"Que união aduaneira é essa? Está permitindo desvio de comércio a favor dos chineses", diz o presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit), Aguinaldo Silva. "Não é uma questão de desprezar o Mercosul, mas saber se efetivamente funciona."

O desvio de comércio a favor da China, provocado pelas licenças não automáticas aplicadas pela Argentina, foi a gota d’água para a paciência dos empresários. A avaliação é que o Brasil só fica com o ônus da união aduaneira, que é negociar em conjunto, mas não aproveita os benefícios.

O presidente da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), Humberto Barbato, também apoia a transformação do Mercosul em área de livre comércio. Os celulares brasileiros estão sob ameaça de um "impostaço" tecnológico na Argentina. "Sou favorável a dar um passo atrás. A indústria brasileira é mais desenvolvida e não tem solicitado o mesmo nível de proteção dos argentinos", disse.

Um dos motivos que ajuda a explicar o desinteresse dos empresários pelo Mercosul é que o bloco perdeu importância nas exportações brasileiras, por conta das barreiras argentinas e da diversificação de clientes.

Em 1998, Argentina, Uruguai e Paraguai absorviam 17,4% das vendas externas do Brasil. No ano passado, esse porcentual caiu para 11%. De janeiro a setembro, por conta do impacto da crise global, estava em apenas 9,3%.

O ex-ministro do Desenvolvimento e presidente da Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo), Sérgio Amaral, ressalta que o momento atual das duas economias é de um "profundo descompasso". Enquanto o Brasil se tornou uma plataforma de atração de investimentos e acumula reservas, a Argentina enfrentar escassez de divisas.

Para alguns setores, o Mercosul nunca chegou a ser uma realidade. É o caso do açúcar, que sempre ficou de fora. Nem sequer o etanol entra na pauta. O biocombustível é assunto nas conversas com EUA ou México, mas não existe uma parceira com a Argentina.

"Não existe vontade política de se abrir mão de soberania para aprofundar o Mercosul", disse o presidente da União da Indústria Canavieira de São Paulo, Marcos Jank. Ele disse que tem receio que a Argentina volte a bloquear a negociação com os europeus, um mercado importante para o álcool.

Para o setor privado, o Mercosul chega fragilizado para a reunião com a UE na quarta-feira. Uma das principais exigências dos europeus é a garantia de livre circulação de produtos no Mercosul, o que as licenças de importação, colocadas pela Argentina e também adotadas pelo Brasil em retaliação, tornam cada vez mais complicado.

Na última tentativa de fechar um acordo com a UE, a Argentina, que resistiu a abrir o mercado automotivo. Os argentinos também não apoiaram o Brasil para concluir as negociações da Rodada Doha, da Organização Mundial de Comércio (OMC).

Para Lúcia Maduro, economista da área internacional da Confederação Nacional da Indústria (CNI), a entrada da Venezuela vai deixar o bloco ainda mais "complexo" e "paralisado". A retórica do presidente venezuelano Hugo Chávez é contra acordos bilaterais.

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