Das prateleiras dos supermercados aos cafés no centro da cidade. Em busca de clientes dispostos a pagar mais por itens de alto valor agregado, empresas dos mais variados portes e atividades têm investido na “gourmetização” de seus produtos para enfrentar a crise. A estratégia é focada nos consumidores das classes A e B, que deixam de lado as grandes marcas para investir em itens e serviços mais específicos – o que mantém as vendas aquecidas para o setor, apesar da recessão.
“Há uma demanda do próprio cliente, que se acostumou com produtos de mais qualidade e ficou mais exigente”, afirma o instrutor de gastronomia do Senac-PR, Kaio Vinicius Trevisan. Segundo ele, essa tendência começou há cinco anos no Brasil e representou um salto de qualidade na gastronomia nacional.
A Le Mont Café Gourmet, fabricante curitibana de café, já registra um crescimento de 18,5% no faturamento este ano até agosto e está começando a distribuir seus produtos para São Paulo, Rio de Janeiro e cidades do Nordeste. O diretor da Le Mont, Thiago Amhof, diz que a procura pelos cafés vem principalmente de clientes que experimentaram produtos diferenciados no exterior e, na volta, adotaram o costume de recorrer a alimentos gourmet.
Apertando o cinto
Manter a qualidade dos produtos, inclusive, é essencial para não afugentar o consumidor em tempos de corte de gastos. Por isso, as empresas que têm linhas gourmet continuam investindo em produtos importados, apesar da alta do dólar, que segue no patamar de R$ 4. Acaba sobrando para a margem de lucro, que precisou ser reduzida ao máximo para segurar uma alta no preço.
É o que fez, por exemplo, a Eismann, companhia alemã especializada em produtos congelados que inaugurou a primeira loja física do mundo em Curitiba, no início de setembro. “Grande parte dos nossos produtos vêm do exterior. Por isso, tivemos que diminuir ao máximo nossa margem de lucro e repassar um pouco do custo para o consumidor. Porém, acreditamos que isso é um momento passageiro”, afirma o gerente de marketing da Eismann, André de Figueiredo.
A Casa da Bruxa, loja no centro de Curitiba especializada em vender doces gourmet, também teve que diminuir o lucro. “Como vendemos chocolates, os produtos vencem muito rápido, e não podem ficar muito tempo nas gôndolas”, explica a proprietária, Suellen Mylla. Ela continua comprando chocolate belga para fazer os produtos da marca própria, estratégia que considera essencial para entregar ao consumidor um item mais requintado.
Para a consultora do Sebrae-PR, Sonia Shimoyama, o controle de custo é extremamente importante nesse momento de crise. Ela recomenda que os gastos com insumos não ultrapassem 25% do preço de venda.