As dívidas acumuladas ao longo dos últimos anos não parecem tirar o sono dos brasileiros que estão com nome sujo na praça. Em vez de usar o 13.º salário para diminuir o endividamento, a maioria pretende pegar o dinheiro para poupar, investir ou comprar presentes de Natal.
A conclusão está em estudo do birô de crédito SPC Brasil, que mostra que 27% pretendem usar o recurso extra para economizar ou investir. Já 23% querem fazer compras de Natal, enquanto 17% pretendem pagar dívidas atrasadas.
É basicamente o contrário do que prega o corolário de finanças pessoais. A recomendação é sempre priorizar o pagamento de dívidas, equilibrar o orçamento, começar a poupar e, se sobrar alguma coisa, consumir.
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Dados da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e do SPC Brasil indicam que, em outubro, havia 62,9 milhões de inadimplentes no país. O valor médio da soma de todas as pendências é de R$ 2.615,98 — mas 14% não sabem quanto devem.
Para Flávio Borges, superintendente de finanças do SPC Brasil, o resultado da pesquisa é preocupante. “A gente esperava que as pessoas priorizassem o pagamento de dívidas. Mas elas vão comprar presente, independentemente da situação financeira”, diz.
Ele avalia que alguns fatores podem explicar a decisão equivocada. “Tem muita gente que já deve há muito tempo, e isso vai mudando um pouco a percepção das pessoas sobre o que é estar endividado e o que é estar com nome sujo”. É como se o consumidor se acomodasse nessa situação ruim, em que não tem acesso a crédito, o que é perigoso.
A expectativa de melhora na economia também pode ter colaborado para a decisão de não priorizar o pagamento de contas, afirma Borges. “Há um otimismo no mercado com o novo governo, que se reflete nos hábitos de compra dos consumidores. Eles tendem a contrair mais dívidas por confiar no futuro.”
De maneira geral, a recomendação para quem está no vermelho é pegar usar o 13.º salário para quitar as dívidas, priorizando as que têm os juros maiores e que podem comprometer mais o orçamento em caso de não pagamento.
Depois de quitadas as dívidas e se sobrar dinheiro, é importante economizar. O objetivo é formar uma reserva de emergência que dê para pagar ao menos seis meses das principais contas do consumidor.
Desta forma, em caso de desemprego, ele tem recursos que garantem um fôlego financeiro até que possa se reposicionar no mercado de trabalho — e sem a necessidade de aceitar a primeira proposta que aparecer no caminho.
Por fim, o que sobrar pode ser investido para formar patrimônio ou para o consumidor realizar sonhos de consumo, indica o especialista.
Otimismo
Uma pesquisa da Kantar TNS mostra que 60% da população se diz otimista em relação ao futuro, mas também está cautelosa.
O número de pessoas propensas a fazer um financiamento subiu de 26% para 43%. Porém, para 57% dos entrevistados, comprar imóvel ou carro em longas prestações está fora dos planos.
Para Valkiria Garré, presidente da Kantar TNS Brasil, esse otimismo não terá reflexo direto nas compras de fim deste ano — para 42%, a economia só começará a melhorar significativamente a partir do segundo semestre de 2019.
“Se em novembro do ano que vem nada tiver acontecido, a lua de mel [com o novo governo] vai ter acabado. O governo precisa mostrar que a equipe econômica está indo na direção correta”, afirma.
Como e onde investir o 13.º salário
1. Não tem uma reserva para emergências?
Use o 13.º para começar; sua meta é poupar de 6 a 12 meses do custo de vida.
Aplique em investimentos que possam ser sacados a qualquer momento.
Onde colocar o dinheiro
Em investimentos pós-fixados:
* Tesouro Selic
* CDBs
* Fundos conservadores (desde que a taxa de administração seja menor que 1% ao ano)
2. Já possui reserva?
Diversifique os investimentos.
Para metas de médio e longo prazo, como a aposentadoria, invista em títulos atrelados à inflação.
Exemplo Tesouro IPCA+, que rende a inflação mais uma taxa de juros ou CDBs que contam com o mesmo sistema de remuneração.
Para conservadores:
* Tesouro IPCA
* Investimentos prefixados, cujo rendimento é conhecido no momento da aplicação
Para quem quer arriscar:
* Ações
* Fundos multimercados
3. Quer aumentar o aporte no plano de previdência privada?
É uma boa ideia, se:
* O seu plano é corporativo e a empresa faz aporte equivalente ao seu investimento;
* Você quer aumentar o montante aplicado em um PGBL para alcançar o teto de desconto de 12% da renda anual tributável;
* Plano é indicado para quem faz a declaração de Imposto de Renda pelo modelo completo.
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4. Já tem tudo isso?
Pense em outros tipos de investimento, como cursos e treinamentos, que possam aumentar a renda futura.
Viajar também pode entrar na lista, desde que com um planejamento financeiro bem traçado.