Depois de experimentar um salto de crescimento da capacidade instalada nos últimos anos, o setor de biomassa vive um momento de incertezas marcado pela participação limitada da fonte nos leilões e sobra de energia no mercado, que tende a retardar novos investimentos com foco na produção de bioeletricidade.
Em 2008, a biomassa de cana-de-açúcar chegou a emplacar 31 projetos nos leilões de energia, somando 541 megawatts médios contratados. Um ano depois, a fonte respondia por 32% do acréscimo anual de capacidade instalada de geração de energia no Brasil. Esse índice se manteve alto até 2013, mas depois começou a declinar. Neste ano, a previsão é representar 7% da expansão do sistema, caindo para apenas 2% em 2020.
Após o bom desempenho em 2008, que encerrou um ciclo de grandes investimentos no setor de etanol, a participação da biomassa nos leilões de energia não avançou como previa o setor. Em 2015, apenas três projetos foram contratados em quatro leilões, totalizando 52 megawatts médios. Com exceção de 2012 – quando nenhum megawatt de biomassa foi vendido – o ano passado registrou o pior desempenho da biomassa nos certames desde 2009. Neste ano, dos 64 projetos cadastrados no leilão A-5, realizado em abril, só sete foram contratados.
“Este ano acabou para nós. Não sabemos quais fontes vão participar do leilão A-3, e nem mesmo se ele vai acontecer. Tudo depende da demanda. Até o momento vendemos apenas quatro projetos de biomassa de cana. É pouco para uma cadeia produtiva que foi montada para vender 30, 40 projetos todos os anos”, afirma Zilmar de Souza, gerente de bioeletricidade da União dos Produtores de Cana de Açúcar (Unica).
Apesar das vantagens da biomassa – como a abundância de matéria-prima, a maior proximidade do mercado consumidor e o fato de ser renovável e contribuir para a redução de emissões – a fonte não tem tido o mesmo espaço destinado à eólica e à solar nos leilões de energia. A biomassa, por exemplo, não é convidada a participar dos leilões de Energia de Reserva desde 2011, e ficou de fora de dois desta modalidade agendados para este ano.
“Temos uma dificuldade tanto do lado do setor elétrico, que não tem uma política robusta de contratação de biomassa nos leilões, quanto do setor sucroenergético, com uma indefinição do papel do etanol na matriz. Não tem como pensar uma coisa sem pensar a outra”, diz Souza.
Uma mudança de cenário para a biomassa, segundo Souza, depende de uma política geral para o etanol e para a bioeletricidade, com leilões regulares e preços adequados que reconheçam as externalidades positivas dessa fonte para a matriz. Sem esse apoio, corre-se o risco de desarticular a cadeia produtiva do setor, que já sofre com a falta de clareza e previsibilidade sobre o papel da biomassa na política energética.
Uma definição clara sobre a participação da biomassa na matriz daria às empresas mais condições de planejamento para participar dos leilões. Hoje, por exemplo, metade das 355 usinas de cana-de-açúcar exporta energia para a rede. As demais teriam de passar por um processo de retrofit, que tem um custo eleva do para as empresas e não pode ser feito “a toque de caixa”. “Você não aprova um projeto da noite para o dia”, diz o gerente da Única.
Para Thais Prandini, diretora-executiva e sócia da Thymos Energia, o momento é de tomar fôlego, diz. “A biomassa tem um futuro promissor e essa nova modelagem dos leilões [com a biomassa disputando apenas com térmicas a carvão e a gás, e não mais com fontes como eólica e solar, mais competitivas] dá mais perspectiva para a fonte no longo prazo”, diz.